Porta com Haddad está enferrujada e fechadura enguiçou, diz FHC

Luís Adorno e Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

  • Felipe Rau/Estadão Conteúdo

    17.out.2018 - FHC durante discurso na zona oeste de São Paulo

    17.out.2018 - FHC durante discurso na zona oeste de São Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou na manhã desta quarta-feira (17) que um possível apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT), que disputa o segundo turno das eleições presidenciais "enguiçou". Ele negou apoio aos dois candidatos.

"Essa porta [com Fernando Haddad] está enferrujada. E eu acho que a fechadura enguiçou. A população hoje, cada um, vota à vontade. O peso que os partidos têm hoje é relativo. As pessoas estão tomando hoje posição independentemente de apoio", afirmou FHC.

"É muito difícil tomar uma decisão nesse momento diferente de dizer: olha, cada um vai fazer o que achar melhor. Vai coincidir com o que eu penso? Não sei, acho que não", complementou.

FHC disse que a porta com Haddad "já devia estar" aberta, mas que "depois que emperra, fica difícil". "Você fica pensando assim: meu Deus, por que agora? Vamos ver. Daqui a pouco vai ser necessário também. Ganhe quem ganhar, o Brasil vai precisar de coesão. Não dá para governar meio a meio", afirmou.

Ele afirmou que a chamada "frente democrática pela democracia", que deve apoiar a candidatura de Haddad, é uma expressão que havia no passado. "Os partidos, as instituições, os sindicatos, estão todos um pouco escorregadios. Não por eles, mas porque a sociedade mudou", disse.

"O Brasil precisa de uma tremenda frente em favor do seu povo. Essa frente implica em liberdade e democracia. E respeito à Constituição. Para isso, eu vou estar sempre disposto a dar as mãos a quem quiser. Juntos para evitar que o Brasil vá para um caminho de autoritarismo", afirmou.

Questionado se ele daria as mãos a Jair Bolsonaro (PSL), FHC desvencilhou-se: "depende do que ele falar. Eu preciso ver o que ele vai dizer, fazer. Como eu posso estender a mão se a mão está no ar?"

Em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", publicada no domingo (14), FHC rejeitou Bolsonaro, mas afirmou que, entre ele e Haddad havia uma "porta". Um dia depois, Haddad respondeu a metáfora: "Se existe uma porta que precisa ser aberta em nome da democracia, todo mundo tem a obrigação de abrir essa porta".

Em evento em São Paulo, Haddad foi questionado sobre as declarações de FHC. O candidato do PT preferiu destacar que há nomes do PSDB, principalmente os que segundo ele se inspiram no ex-governador Mário Covas (1930-2001), que estão apoiando sua candidatura.

"Vocês da imprensa vão sublinhar a exceção, mas a regra é que os democratas estão do nosso lado", disse o petista após citar o exemplo de José Carlos Dias, que foi ministro da Justiça de FHC e assinou um manifesto de juristas em apoio a Haddad.

Segundo o petista, "o convite permanece para que os democratas se somem".

"A história às vezes cobra nossos posicionamentos. Nem sempre à vista, às vezes a prazo", disse Haddad.

Prêmio recebido

O tucano discursou durante 27 minutos na cerimônia em que recebeu o Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita, entregue no Teatro CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), na zona oeste da capital paulista. No rol de homenageados pela honraria está, por exemplo, Ruth Cardoso, sua mulher, já falecida.

Felipe Rau/Estadão Conteúdo
17.out.2018 - FHC recebe o Prêmio Professor Emérito

Durante seu discurso, FHC citou o que chamou de "derrocada da nova politica", a qual ele afirmou não saber os rumos do que está por vir. "Temos que abrir os olhos. Nossas cabeças estão refletindo. Se não tivermos crenças e valores, não teremos nada", disse.

O ex-presidente também citou a tecnologia e o avanço da internet como fatores preponderantes no aspecto político atual, afirmando que os eleitores agora se comunicam entre si, diretamente, não esperando a posição de uma liderança. Mas alertou: "quando você quer impor certos limites, é bom ser educado", arrancando aplausos da plateia.

Pouco antes do discurso de FHC, o presidente do conselho de administração do CIEE, o professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Antônio Jacinto Caleiro Palma, arrancou risos da plateia ao falar sobre os apenas 4% de votos conseguidos pelo "amigo" Geraldo Alckmin (PSDB). "Quase que o [João] Amoedo (Novo) passa ele", disse.

"Os brasileiros mudaram. Hoje existe uma participação cívica maior. Há uma discussão política, todo mundo está se interessando", disse. Em seguida, alertou para a polarização. "Está havendo muito atrito. Inclusive, lá em casa. Haddad, Bolsonaro, não é fácil. Nosso querido amigo Alckmin, com 4%, dá vontade de chorar, né? (...) Parece que o 'Borsa' vai ganhar lá o negócio", complementou o professor.

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