Witzel comemora apoio de Flávio Bolsonaro, e Paes ironiza: "parece criança"

Gabriel Sabóia e Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

No último debate antes do 2º turno das eleições, o candidato do PSC ao governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, voltou a lançar mão de estratégia de relacionar sua candidatura a Jair Bolsonaro (PSL) --dessa vez, ele festejou o apoio do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidenciável, mas foi ironizado por seu adversário, o candidato Eduardo Paes (DEM).

No debate realizado pela TV Globo na noite desta quinta-feira (25), o ex-juiz federal disse ter recebido um telefonema de Flávio o "autorizando a divulgar o apoio" à sua candidatura. Paes reagiu à fala de Witzel. "Você parece uma criança. 'Estou feliz porque o Flávio Bolsonaro deu autorização'", ironizou, provocando risos na plateia.

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O candidato do DEM continuou dizendo que desejava sorte ao senador eleito, mas que o governador do estado será o responsável pela política educacional. "Flávio Bolsonaro não vai estar no Palácio Guanabara. Apenas 3% dos jovens saem do ensino médio sabendo matemática. Não é o apoio do Flávio que vai resolver isso", concluiu. O embate se deu quando ambos discutiam propostas para a educação.

Em tentativa de associar o PT a Paes, Witzel havia questionado o democrata se o apoio do partido à candidatura dele poderia influenciar a política pedagógica em um eventual governo --alguns petistas declararam apoio ao democrata, mas o partido não formalizou apoio.

"Não vou privatizar nenhuma universidade estadual, vamos valorizar a pesquisa, vamos valorizar as nossas Faetecs. E quero dizer também que nas nossas escolas nós não vamos permitir que nenhuma partidarização venha a ser utilizada. Vamos valorizar a escola sem partido", disse o ex-juiz antes de citar o nome de Bolsonaro. A proposta vem sendo defendida pelo presidenciável ao longo da campanha.

As últimas pesquisas de intenção de voto divulgadas pelo Ibope e Datafolha mostram uma aproximação entre os dois candidatos. No levantamento divulgado nesta quinta pelo Datafolha, Witzel aparece com 56% dos votos válidos, enquanto Paes surge com 44%. Na pesquisa anterior, feita no dia 18 de outubro, Witzel tinha 61% das intenções de votos válidos, enquanto Paes tinha 39%. A diferença entre ambos caiu dez pontos percentuais.

"Candidato do Cabral" x "Candidato do Pastor Everaldo"

As alianças dos dois candidatos foram citadas desde o início do debate. Paes partiu para o ataque e acusou Witzel de manter relações estreitas com o advogado Luiz Carlos Azenha --que foi flagrado em 2011 transportando o traficante Nem da Rocinha, no porta-malas de um carro, em tentativa de fuga da comunidade-- e de ser candidato do Pastor Everaldo [presidente do PSC]. O ex-juiz federal, por sua vez, associou o adversário a nomes do MDB, antigo partido do ex-prefeito.

"Quero ouvir do candidato do [governador Luiz Fernando] Pezão e do [Sérgio] Cabral como ele pretende desenvolver a nossa economia", provocou Witzel em uma pergunta. "Vou responder para o candidato do pastor Everaldo. Aliás, empregado. Para o candidato que é apoiado pelo Azenha. Ele finge que não é amigo e mais uma vez não explica. Esse é o momento, eleição é o momento de explicar ao eleitor", respondeu Paes.

Witzel citou antigas alianças de Paes. "O que eu não acho normal é o candidato do Pezão e do Cabral, envolvido diretamente em sete delações da Lava Jato, querer ser governador do Rio de Janeiro. Isso é que eu acho uma indecência. Indecente você imaginar que o governador do estado, pendurado em uma liminar no Tribunal Superior Eleitoral, que foi condenado pela Justiça Eleitoral porque desviou R$ 7 milhões para o plano de governo", respondeu.

O TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) condenou Paes a oito anos de inelegibilidade por abuso de poder político e econômico. O TRE considerou que, nas eleições de 2016, ele entregou um plano de governo que seria uma cópia do Plano Estratégico da Prefeitura do Rio 2017-2020 --feito com o apoio de uma consultoria e que custou aos cofres públicos R$ 7 milhões. A decisão foi suspensa liminarmente em maio.

Citado por Paes como "o candidato do Crivella", Witzel, que recebeu apoio do partido do prefeito do Rio, o PRB, dirigiu críticas à administração municipal.

"Quero dizer que não pedi apoio ao Crivella, muito pelo contrário. Não tenho nenhum apoio dele. Mas Crivella está fazendo um péssimo governo desde que começou. Isso eu reconheço, tentei ajudá-lo, inclusive, mas infelizmente está fazendo um péssimo governo. E agora tá preocupado porque tá levantando essas fraudes todas que foram apontadas pelo Alexandre Pinto", afirmou o candidato do PSC.

Ele se referia ao ex-secretário municipal de Obras da gestão Eduardo Paes, que afirmou em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela 1ª instância da Lava Jato, que o então prefeito carioca decidia as empresas que venceriam licitações.

Passado limpo x "Kinder Ovo"

Durante o debate, Witzel investiu em se apresentar como um candidato sem histórico de envolvimento em casos de corrupção e tentou associar Paes ao grupo político do ex-governador Sérgio Cabral. O ex-prefeito e o ex-governador do Rio pertenciam ao mesmo partido, o MDB.

"Você financiou a campanha do filho do Picciani, do filho do Cabral, da filho do Cunha, a Daniele Cunha. Se tem alguém que está próximo dessa quadrilha que assaltou o estado do Rio de Janeiro, não sou eu", disse Witzel.

Paes tentou demonstrar que seu oponente não teria experiência suficiente para governar atacando suas propostas nas áreas de criação de emprego, construção de moradias e atendimento hospitalar. O candidato do DEM disse ainda que Witzel, que é de Jundiaí, interior de São Paulo, não entenderia do Rio de Janeiro.

Em entrevista após o debate, Paes fez referência a uma promessa de Witzel de ir à Petrobras para exigir investimentos para a área de estaleiros em Itaboraí (região metropolitana do Rio) para gerar empregos. "Itaboraí não tem mar", disse o candidato do DEM.

Witzel também foi criticado ao sugeriu terminar o Arco Metropolitano (rodovia que liga municípios vizinhos à capital) para viabilizar um projeto de expansão imobiliária em seu trajeto e também na zona oeste carioca. Paes disse que levar projetos de habitação para áreas que ainda não têm infraestrutura de ruas torna as cidades mais caras. Witzel respondeu que quer ajudar municípios a achar áreas adequadas.

"Quando perguntei de habitação, ele falou o inverso do que tem que ser. Eu fiz muita habitação na zona oeste e errei. É tudo que não pode fazer", disse Paes.

Paes atacou Witzel comparando sua experiência de ex-prefeito com a vida pública de seu adversário, que é menos conhecida do público. O candidato do DEM disse que Witzel foi descoberto há cerca de 20 dias e que a cada dia estariam surgindo mais fatos negativos ligados a seu passado.

"Eu diria [que Witzel é] quase um lobo em pele de cordeiro, para usar uma passagem bíblica aqui, ou se quiser uma passagem mais popular, um Kinder Ovo, cada hora você descobre uma surpresa diferente", disse Paes.

Morte de Marielle

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março passado, foi assunto entre os dois candidatos no terceiro bloco. Paes questionou Witzel em relação a um ato de campanha, no primeiro turno das eleições, no qual o ex-juiz aparece ao lado dos deputados eleitos pelo Rio de Janeiro Daniel Silveira e Rodrigo Amorim (ambos do PSL), que destruíram uma placa em homenagem à parlamentar.

"Você, que se diz uma pessoa que defende valores cristãos, foi à celebração, ao enaltecimento da morte da vereadora Marielle. Num evento em que se rasgou a placa, um ser humano, uma pessoa que a gente pode ter nossas divergências políticas, mas uma pessoa. Você acha normal uma pessoa que tem valores cristãos tão profundos, enaltecer, vibrar com a celebração de um assassinato de uma outra pessoa?", questionou.

Witzel negou ter celebrado a morte de Marielle. "Não fiz absolutamente nenhum enaltecimento a assassinato de quem quer que seja. Fui defensor público no estado, andei em várias comarcas, varas cíveis, varas de família, eu passei ao lado de pessoas, estive ao lado de pessoas com profunda dor, com profunda tristeza pela perda de entes queridos, e tenho a certeza de que nós jamais vamos permitir que qualquer intolerância ocorra no nosso dia a dia", afirmou.

Durante entrevista à imprensa concedida depois do debate, Paes voltou a comentar a presença de Witzel no ato. "Por que ele não pede desculpas pela Marielle? Tem um vídeo. Por que ele não pede desculpas? Cadê a vergonha na cara desse cara? O cara celebrar a morte de uma pessoa, se dizer cristão, ele não pede desculpas. Esse cara é um mau caráter", atacou.

Witzel não comentou o episódio depois do debate.

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