Perfis e estilos de governo opõem Doria e França no 2º turno em SP

Guilherme Mazieiro e Luis Adorno

do UOL, em São Paulo

  • Nilson Fukuda/Estadão Conteúdo

Os paulistas vão às urnas neste domingo (28) para escolher entre dois candidatos a governador com visões opostas sobre o papel do estado. João Doria (PSDB), uma cria do mundo empresarial, busca menor intervenção estatal e aproximação com o mercado econômico. Já o atual governador Márcio França (PSB), que construiu sua imagem ocupando cargos públicos, tem identificação com o funcionalismo e com a máquina pública. As trajetórias dos candidatos influenciaram nas suas propostas para governar São Paulo e no curso da campanha.

Um dos debates desta eleição é a maior ou menor atuação do estado no funcionamento da sociedade. Um exemplo disso é a questão da segurança – principal bandeira dos candidatos. Doria promete privatizar parte da administração penitenciária. França prega a valorização do servidor público e das polícias.

As visões também influenciaram nas estratégias políticas do tucano que tentou pintar França com as cores do socialismo e petismo. Já o pessebista reforçava a falta de compromisso público de Doria por não ter cumprido os quatro anos de mandato na Prefeitura de São Paulo. O contraste pôde ser visto nos quatro debates realizados no segundo turno. França disse que o oponente não sabia gerir a máquina pública e deveria voltar à iniciativa privada, enquanto Doria rotulava o adversário de "carreirista" político.

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Na primeira empreitada como candidato a um cargo eletivo, em 2016, o tucano se elegeu com base no discurso outsider. O empresário se apresentou como antipolítico, gestor e de visão privatizadora. Doria reforçou esse distanciamento doando todo seu salário como prefeito para instituições de caridade, durante o período em que esteve à frente do Executivo municipal.

O tucano trabalhou na iniciativa privada desde os 13 anos de idade, quando era estagiário e se tornou um empresário de sucesso. Uma de suas empresas mais famosas é a Lide, que associa diversos empresários e promove eventos junto a políticos e demais personalidades do mercado econômico.

Na prefeitura, o tucano não cumpriu todas as promessas e saiu sem aprovação de qualquer equipamento que pretendia privatizar, como foram os casos do Pacaembu, do Anhembi, do autódromo de Interlagos, de parques e até de cemitérios no município. Um projeto que conta com parceria de hospitais privados é o Corujão da Saúde, que realiza exames clínicos de graça em horários alternativos, quando essas unidades de saúde têm menor fluxo de pacientes, como na madrugada.

Um momento em que se cruzaram as carreiras dos dois candidatos foi justamente nas eleições de 2016, quando França usou sua habilidade política para construir alianças e a pedido de Geraldo Alckmin (PSDB) pavimentou a caminhada de Doria rumo à prefeitura.

Márcio França já foi prefeito de São Vicente por dois mandatos (eleito em 1997 e reeleito em 2001), deputado federal eleito duas vezes (2007-2015) e já comandou as campanhas à Presidência de Anthony Garotinho e Eduardo Campos. Em 2014, ele foi escolhido para ser vice-governador de Geraldo Alckmin e assumiu o governo do estado em abril, quando Alckmin deixou o cargo para tornar-se candidato à Presidência.

O atual governador propõe valorizar o SUS (Sistema Único de Saúde) com o programa Estratégia da Saúde da Família e zerar as filas de exame no estado com inauguração de novos hospitais na capital e interior, além da expansão de unidades de saúde da Rede Hebe Camargo e Lucy Montoro.

Em seu programa de governo é comum ver propostas aliadas à parceria entre estado e municípios, como é o caso do projeto para despoluir as bacias hidrográficas estaduais e do desenvolvimento de sistema de energia a partir da coleta e do tratamento de resíduos sólidos.

Diferença de visão:

João Doria defende parceria público privada ou terceirização

  • Ampliação do Corujão da Saúde
  • Criação de postos de trabalho com apoio do empreendedorismo e incentivar startups

Márcio França defende maior atuação do Estado

  • Fortalecer o programa Estratégia de Saúde da Família, do SUS
  • Criação de trabalho com inclusão e ações pontuais para jovens, negros, mulheres e pessoas com deficiência

Campanha quente no segundo turno

A campanha de ambos os candidatos ao segundo turno começou ainda na noite de 7 de outubro, assim que foi definido quem disputaria o governo de São Paulo neste domingo (28). Naquela noite, França, ex-vice-governador de Geraldo Alckmin, foi até onde o presidente nacional do PSDB reconhecia a derrota na disputa a presidente. No mesmo horário, Doria anunciava apoio a Jair Bolsonaro (PSL) e dizia que seria uma honra derrotar um esquerdista.

Apesar de ter representado a pior derrota da história do PSDB numa disputa presidencial, Alckmin é uma figura chave para o governo do estado. Não é para menos: governou São Paulo quatro vezes, sendo que, nas duas últimas eleições, venceu a disputa no primeiro turno. O apoio de Doria a Bolsonaro gerou forte atrito entre os dois tucanos. Alckmin chegou a insinuar, em reunião da executiva nacional, que Doria seria um traidor e o fato virou munição para França durante o segundo turno.

No primeiro debate desta etapa, promovido pela TV Bandeirantes, os dois candidatos se atacaram o tempo todo. Doria tentava colar em França a pecha de socialista, esquerdista e petista disfarçado. Citando o passado de França ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, ele reforçava o apoio a Bolsonaro. Do outro lado, França criticava o fato de o ex-prefeito ter deixado a prefeitura da capital para concorrer ao estado e citava o atrito recente com Alckmin.

Houve três debates na sequência. No da Rede Record, ambos amenizaram a rispidez, mas se mantiveram acusando. No debate promovido por UOL, Folha e SBT, houve um velado acordo de cavalheiros e a data ficou marcada pelas propostas dos candidatos. No dia, um vídeo íntimo com um homem, que supostamente seria Doria, e ao menos seis mulheres foi divulgado nas redes sociais. O candidato negou a veracidade do conteúdo, gravou depoimento com a esposa e anunciou medidas judiciais. No último debate, na TV Globo, França e Doria se alternaram entre ofensas e propostas.

No horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, os candidatos também se alternaram entre ataques e promessas. Enquanto França martelou a "falta de palavra" de Doria, o tucano rotulava o pessebista à esquerda brasileira e chegou a criar um site relatando o passado de seu oponente. A temperatura foi quente, a exemplo do que ocorreu na maioria dos debates televisionados.

No último programa eleitoral, divulgado nesta sexta-feira (26), Doria se lançou como "nova gestão", e apontou França como "velha política". Já França explorou eleitores de Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) que afirmaram votar também em França, além de mostrar o apoio de Paulo Skaf (MDB), que ficou em terceiro na disputa, e do senador eleitor Major Olimpio (PSL).

Nas pesquisas, os dois estão em empate técnico, mas em ambas o tucano está na frente numericamente. O Datafolha divulgado na quinta-feira (25) apontou Doria com 52% contra 48% do adversário no levantamento com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Já o Ibope mostra o ex-prefeito da capital com 53% e França tem 47%, mas esta pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais.

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