Bolsonaro é eleito com a maior diferença percentual de votos desde 2010

Leandro Prazeres

Do UOL, em São Paulo

  • Leo Correa/AP

    Bolsonaro é eleito presidente da República com mais de 55% dos votos válidos

    Bolsonaro é eleito presidente da República com mais de 55% dos votos válidos

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), venceu o segundo turno com a maior diferença percentual em relação ao seu adversário em oito anos. Bolsonaro chegou à Presidência conquistando 55,13% dos votos válidos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT)A última vez em que essa diferença foi maior aconteceu em 2010, quando Dilma Rousseff (PT) superou José Serra (PSDB), conquistando 56,05%.

Cientistas políticos ouvidos pelo UOL afirmam que a vitória, apesar de significativa, não representa um "cheque em branco" da população ao presidente eleito e vai impor limitações nos seus primeiros meses de governo.

Apesar da vitória significativa, Bolsonaro não conseguiu superar os índices de um de seus principais rivais: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Desde a redemocratização, o presidente eleito que teve o maior percentual de votos válidos foi Lula. Em 2002, ele venceu a disputa contra José Serra (PSDB) no segundo turno conquistando 52 milhões de votos, o equivalente a 61% dos votos válidos.

A presidente eleita com a menor porcentagem dos votos válidos foi Dilma Rousseff (PT) em 2014. Na disputa com Aécio Neves (PSDB), ela conquistou 54 milhões de votos, totalizando 51,64% dos votos válidos.

De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Bolsonaro conquistou 57,8 milhões de votos. Em relação a seu adversário, Bolsonaro teve uma vantagem numérica de aproximadamente 11 milhões de votos.

Vitória não foi "cheque em branco", dizem especialistas

Para a cientista política Kellen Gutierres, doutora em ciências sociais pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a margem com a qual Bolsonaro venceu as eleições não representa um "cheque em branco" ao presidente eleito.

"Se a gente observar os números das eleições, percebemos que essa diferença indica que a sociedade não está passando um cheque em branco para ele. Isso mostra que, para governar, ele terá que fazer composições, ao contrário do que ele vinha dizendo ao longo das eleições. Principalmente se ele quiser aprovar algumas das medidas que ele propôs ao longo da campanha",afirmou.

Gutierres diz ainda que a votação expressiva contra Bolsonaro aponta para o surgimento de uma oposição mobilizada dentro e fora do Congresso Nacional.

"Apesar de perder as eleições, o PT tem a maior bancada na Câmara dos Deputados. Além disso, a gente vê que houve uma grande mobilização de pessoas que, mesmo não sendo militantes do PT, se posicionou contra o Bolsonaro. Ele terá que conviver com essa oposição", afirmou.

O cientista político e professor André Borges, da UnB (Universidade de Brasília), concorda com a cientista política. Para ele, os números da vitória, apesar de lhe garantirem uma relativa "lua de mel" com o eleitor nos primeiros meses, vai obrigá-lo a fazer concessões.

"O fato de não ser uma vitória apertada como a de Dilma em 2014 vai dar a ele uma certa lua de mel. O problema é que ele é diferente dos outros presidentes, porque nunca tivemos um eleito com uma rejeição tão alta da população", diz Borges.

O professor diz ainda que a diferença com a qual ele venceu as eleições deverá fortalecer uma ala mais moderada do seu círculo, que defende negociações com outros partidos, como os que compõem o chamado "centrão".

"O presidente precisa ter maioria nas duas Casas. Na Câmara e no Senado. E o PSL não tem. Desde 1989, só teve um presidente que não se empenhou em formar uma coalizão sólida. O nome dele era Fernando Collor de Melo e ele não chegou ao fim do mandato", explicou Borges.

Brancos e nulos crescem 55% em relação a 2014

Para Kellen Gutierres, o aumento no número de votos brancos ou nulos no segundo turno das eleições presidenciais em relação a 2014 é um recado para o presidente eleito e para a classe política.

Em 2018, o número de votos brancos ou nulos chegou a 11 milhões, um aumento de 55% em relação a 2014, quando esses votos totalizaram 7,1 milhões.

"Quando você soma esse número aos votos do candidato adversário (Haddad), você chega à conclusão de que uma grande quantidade de eleitores não apoia o presidente eleito. Isso é um recado importante que a sociedade está repassando tanto para Bolsonaro quanto para o restante da classe política", diz.

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