Mourão: "Não somos ditadores que chegamos para tomar o país"

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/RedeTV

O general Hamilton Mourão (PRTB), eleito vice-presidente na chapa com Jair Bolsonaro (PSL), reafirmou, nesta terça-feira (30), seu compromisso com a democracia, que ele definiu como um regime em que "tem que prevalecer o equilíbrio entre os Poderes, sem protagonismo do Executivo".

"[A democracia] Está ligada à liberdade, no conceito em que a minha acaba quando a sua começa e prevê a alternância no poder, até para a população experimentar modos diferentes de conduzir o país", disse em entrevista ao programa "É Notícia", da Rede TV, exibida na madrugada. "Não somos dois ditadores que chegamos para tomar o país", complementou.

Segundo Mourão, a eleição de Bolsonaro foi uma resposta do país a um processo mundial que "chegou ao Brasil num momento em que a sociedade estava revoltada com o desperdício de dinheiro público em obras não acabadas, corrupção e noção que que estavam no poder apenas pelo poder".

Para ele, isso resultou numa onda que se espalhou pela sociedade independente de partidos. "O político que soube colocar sua prancha nessa onda foi o Bolsonaro", disse.

Para o general, o futuro governo tem "uma visão clara" na necessidade de ajuste fiscal nas contas públicas e nega que haja conflito entre a visão liberal demonstrada pelo futuro presidente e a posição das Forças Armadas, apontada como nacional desenvolvimentista.

"As pessoas se referem muito ao período do [presidente durante a ditadura militar Ernesto] Geisel, mas se esquecem de Castelo Branco [também presidente durante a ditadura militar], que foi o governo que construiu a base para o momento que ficou conhecido como milagre econômico. Nas Forças Armadas há espaço para todos os pensamentos".

Pacificação

Ele disse ainda que a história do Exército deverá favorecer a pacificação do país após o processo eleitoral. "Somos o Exército do Duque de Caxias, que ficou conhecido como 'o pacificador'. Temos que desarmar os espíritos, senão não seremos felizes. Temos que evitar o tom belicoso das palavras, entendendo que as pessoas concordam ou discordam. Temos que entender que cada um tem sua opinião. Temos que começar a baixar o tom do discurso. O governo não está aí para perseguir ninguém."

Nesse sentido, o general disse que vai abrir espaço para a oposição, desde que "seja propositiva, e não aquela que age como uma criança birrenta, se opondo a qualquer iniciativa só porque veio do Bolsonaro".

"Temos que conversar com a oposição. Converso com a esquerda sem problema nenhum. Não estamos em guerra", disse.

Para ele, o tom do discurso do presidente eleito é mais incisivo mas disse acreditar que isso se deve "à forma como ele sempre atuou na política. Ele é mais intuitivo e tem um discurso mais agressivo. Mas ele vai baixar o tom", disse.

Mágoa com Haddad

Com relação à campanha eleitoral, Mourão disse ter guardado apenas uma mágoa que foi a de ter sido identificado como o torturador do cantor Geraldo Azevedo, que fez essa afirmação durante um show no interior da Bahia. Depois disso, o cantor reconheceu ter se equivocado e se desculpou.

Antes da retratação no entanto a informação foi repetida pelo candidato Fernando Haddad (PT). "Isso me deixou profundamente chateado. Não sei em que situação ele [Geraldo Azevedo] estava e disse uma asneira dessas. Agora, o outro candidato replicar isso sem apurar? É um absurdo. E não se desculpou", disse.

Depois disso, o general disse ser contra a tortura, apesar de defender o legado do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro militar condenado pela Justiça pela prática de tortura durante a ditadura.

"Ele foi meu comandante. Um exemplo de comandante pelo exemplo que ele dava e cumpriu seu papel na guerra que havia aqui dentro. Ele virou a Geni, porque tudo que aconteceu naquele período foi injustamente colocado na conta dele", disse.

Para Mourão, a expectativa é que o governo deixe como legado a "construção de um projeto para o país, que não existe atualmente".

"Isso começou a ser feito com FHC, mas depois abandonado. Temos que ter saúde, educação e fazer a roda da economia girar para criar empregos e crescer. Temos uma tarefa enorme, e não podemos errar. Temos que criar um clima de confiança pelo exemplo. Procurando cumprir tudo aquilo que for prometido."

Confira a íntegra da entrevista de Mourão ao "É Notícia"

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