Preso há 100 dias, Lula mantém PT imobilizado
Ricardo Brandt e Katna Baran
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Suamy Beydoun/AGIF
7.abr.2018 - Lula é levado de carro à sede da PF em São Paulo e depois segue para Curitiba
Condenado na Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa amanhã cem dias preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba. Mais magro do que estava quando chegou de helicóptero, na noite de 7 de abril, o petista ainda dita as estratégias e os passos do partido e de seus principais aliados na campanha presidencial. E mantém o PT imobilizado na definição de uma alternativa eleitoral.
Às vésperas da convenção partidária e a um mês do prazo final para o registro das candidaturas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) --o prazo é 15 de agosto--, o mais importante preso da Lava Jato transformou sua "cela" em comitê político e eleitoral, numa espécie de campanha via porta-vozes.
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Desde que foram autorizadas as visitas especiais de amigos, o ex-presidente já esteve com 16 pessoas em 11 datas distintas. A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, é quem mais visitou o ex-presidente. É ela a responsável por avisar o partido, governadores e líderes políticos sobre as decisões de Lula --que, segundo a sigla, tem a palavra final.
Anteontem, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad esteve com o ex-presidente pela primeira vez como advogado com procuração para atuar no processo da execução penal.
Coordenador do programa de governo do PT e apontado como possível "plano B" do partido, Haddad havia estado com Lula em sua cela duas vezes, desde que foram liberadas pela Justiça visitas de amigos nas quintas-feiras, pelo período de uma hora. Como advogado, o petista pode agora ver o ex-presidente em qualquer dia da semana.
A intenção do grupo diretamente ligado a Lula é arrastar até o momento final a definição da candidatura e tentar reverter a situação em benefício eleitoral para o nome que for escolhido como candidato do partido, já que Lula está potencialmente impedido de concorrer com base na Lei da Ficha Limpa.
O PT avalia que o bom desempenho do ex-presidente nas pesquisas, mesmo depois de preso, é um trunfo eleitoral importante para as composições estaduais. E assim, busca manter Lula candidato durante o máximo de tempo possível e fazer a troca só depois que a Justiça decidir se aceita o registro da candidatura.
Lula acompanha o cenário eleitoral e político do país pelos canais da TV aberta --que assiste boa parte dos dias-- e pelos relatos de amigos, familiares e advogados.
Reveses
No inicio de junho, o PT pediu à Justiça o direito de Lula participar de "atos de pré-campanha e, posteriormente, de campanha", de comparecer ou participar por vídeo da Convenção Partidária Nacional do PT marcada para o dia 28. Além disso, o partido pleiteava que Lula pudesse participar de debates e sabatinas realizadas pela imprensa.
Na última semana, porém, a juíza federal Carolina Lebbos, responsável pelo processo da execução provisória da pena de Lula, negou o pedido. Para a Justiça, o status do ex-presidente atualmente é de inelegível, em decorrência da condenação em segunda instância --a 8.ª Turma do TRF-4 confirmou sentença de Moro em janeiro e elevou a pena.
A decisão de negar direitos especiais a Lula saiu dois dias depois de o desembargador de plantão do TRF-4, Rogério Favreto --que tem histórico de ligações com o PT-- conceder liberdade ao ex-presidente no último dia 8. A ação foi revertida no mesmo dia pelo relator da Lava Jato, desembargador João Pedro Gebran Neto, e pelo presidente da Corte, Carlos Eduardo Thompson Flores.
O ex-presidente foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. O partido e a defesa do ex-presidente sustentam que ele é inocente e vítima de uma perseguição político-judicial.
21 livros em 57 dias
Nos primeiros 57 dias de prisão Lula leu 21 livros, uma média de 52 páginas por dia: desde os mais densos como "Homo Deus", de Yuval Noah Harari; "Quem Manda no Mundo", de Noam Chomsky; a clássicos como "O Amor nos Tempos do Colera", de Gabriel García Márquez; "Ressurreição", de Liev Tosltoi; e a biografia "Belchior - Apenas um rapaz latino-americano", do jornalista Jotabê Medeiros.
Nesses cem dias, Lula passou a receber semanalmente visitas de religiosos, todas as segundas-feiras. Ele já foi visitado, por exemplo, pelos amigos Frei Beto e Leonardo Boff. Um pastor evangélico, um monge e um pai de santo também estiveram com o ex-presidente em sua cela neste período. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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