Que candidato a presidente 'bateu' e 'apanhou' mais nas redes sociais?

André Shalders - @andreshalders

Da BBC Brasil, em São Paulo

  • Getty Images/iStockphoto

"Haddad, Ciro e Alckmin trocam ataques após pesquisa Ibope". "Ciro bate no PT, mas poupa Lula (...)". "Campanha de Alckmin não sabe se bate em Bolsonaro ou Haddad". Quanto mais nos aproximamos do dia 7 de outubro, mais agressivo é o tom dos candidatos contra seus adversários, e títulos como os transcritos acima ficam mais frequentes em sites de notícias e jornais.

Mas e se fosse possível medir os ataques de candidatos presidenciais a seus concorrentes para saber, afinal, quem adotou a estratégia mais agressiva e quem "apanhou" mais?

Nas redes sociais, pelo menos, é possível. A pedido da BBC News Brasil, pesquisadores da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) analisaram as postagens dos principais candidatos à Presidência da República no Twitter e no Facebook, para saber quem é o mais "brigão" entre os presidenciáveis.

No Twitter, no último mês, o mais agressivo foi Geraldo Alckmin (PSDB). Os alvos preferenciais do tucano foram Jair Bolsonaro (PSL) e, principalmente, a chapa agora liderada por Fernando Haddad (PT).

Já no Facebook, o mais agressivo foi Jair Bolsonaro (PSL). No período analisado pela Dapp, o perfil oficial do ex-capitão fez 33 posts dirigidos a outros atores políticos (colegas de partido, adversários, artistas e pessoas públicas). Desses, 24 (ou 72%) foram críticas e ataques.

Ciro Gomes (PDT) buscou fazer a linha "paz e amor" em seus perfis oficiais: no Twitter, publicou apenas dois ataques contra Bolsonaro e um contra Alckmin, no período analisado pela Dapp. No Facebook, só fez três postagens agressivas contra outras pessoas - de um total de 27 posts.

Agressividade é eficaz?

Os levantamentos permitem afirmar também que Haddad e Bolsonaro foram os mais atacados pelos adversários; que Marina Silva (Rede) passou relativamente incólume pela pancadaria online; e também que o PT "escolheu" o PSDB como adversário principal nas redes.

No Twitter, a Dapp analisou 3.302 tuítes dos candidatos e de seus principais aliados, publicados ao longo do período de um mês encerrado na terça-feira (18), quando a análise foi encaminhada à BBC News Brasil. Já no Facebook, foram analisados 1.894 postagens publicadas pelos presidenciáveis do dia 1º de julho até 16 de agosto deste ano.

Mas, afinal, dá para ganhar eleição sem criticar os adversários?

"Mais do que bater simplesmente, o que a gente tem visto na campanha é a desconstrução dos adversários. Pegar um ponto fraco da outra candidatura e amplificar, colocar no holofote. É o que o Alckmin fez com algumas propostas da política tributária do Bolsonaro (como as ideias de mudança no Imposto de Renda e a criação de um novo tributo). Então, não é exatamente agredir (pessoalmente), mas fazer uma propaganda negativa a respeito do outro", diz Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP.

Ao longo da corrida eleitoral, as campanhas usaram outros meios para "desconstruir" os adversários: Alckmin, por exemplo, dedicou parte significativa de suas inserções de TV para atacar Bolsonaro e Haddad; e nas últimas semanas Marina fez declarações contundentes contra os principais partidos brasileiros, como o PT, o PSDB e o MDB.

Além disso, uma parte da artilharia contra adversários na internet passa ao largo dos perfis oficiais dos candidatos no Twitter e no Facebook. Sátiras e memes contra presidenciáveis são comuns em grupos de WhatsApp, por exemplo.

Para Ortellado, porém, os perfis oficiais dos candidatos no Twitter e no Facebook funcionam como uma espécie de "termômetro" do tom da campanha: um candidato mais agressivo nestas redes sociais tende também a atacar mais os adversários em declarações públicas ou na propaganda eleitoral. A estratégia usada pelos candidatos nas redes segue a orientação geral para o resto da campanha.

Dos cerca de 210 milhões de brasileiros, pouco mais da metade (130 milhões de pessoas) são usuários ativos de redes sociais, segundo relatório de janeiro de 2018 da empresa Hootsuite.

Conheça abaixo algumas das principais conclusões da pesquisa da Dapp-FGV.

UOL
Filhos de Jair Bolsonaro, Eduardo e Flávio participam ativamente de campanha

No Twitter, Bolsonaro 'terceiriza' ataques para seus filhos

Ao longo do último mês, os ataques feitos pelo perfil oficial de Bolsonaro no Twitter se dirigiram principalmente a Lula e Haddad: de 28 mensagens críticas aos seus principais adversários na disputa presidencial, nada menos que 21 (ou 75%) foram contra o ex-presidente e seu sucessor.

No mesmo período, os perfis oficiais de seus filhos que têm carreira política (Carlos, Eduardo e Flávio) publicaram 119 mensagens com críticas a outros atores políticos, e, destas, 108 foram ataques aos principais concorrentes: Lula/Haddad, Marina, Alckmin e Ciro.

Novamente, quem mais apanhou do clã Bolsonaro foi a chapa hoje comandada por Haddad: os petistas foram alvo de 53 dessas 108 postagens (ou 49%). Em seguida, o mais atacado é Alckmin, com 29 posts (ou 26%). Marina e Ciro receberam 13 "pancadas" cada um dos filhos de Bolsonaro, no Twitter.

A sublocação dos ataques foi acentuada depois que o ex-capitão foi esfaqueado num ato de campanha em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro. Logo depois do ataque, os perfis oficiais de Bolsonaro passaram a expor o lado humano do candidato e evitar postagens agressivas.

Diego Padgurschi / Folhapress
Marina Silva faz coração com as mãos antes de debate presidencial

Marina derreteu nas pesquisas sem apanhar

É parte do folclore político brasileiro a ofensiva do PT contra Marina em 2014. Em setembro daquele ano, a então candidata pelo PSB começou a derreter nas pesquisas depois de tornar-se a vidraça preferencial de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).

É célebre o filmete petista no qual a comida desaparecia do prato de uma criança pobre, enquanto a narração lembrava que Marina pretendia dar mais autonomia ao Banco Central. Marina, que chegou a liderar as pesquisas em 2014, caiu na reta final e acabou em terceiro lugar.

Mas, em 2018, Marina parece estar derretendo sozinha, sem ser o alvo preferencial de seus adversários. Em 22 de agosto, a candidata da Rede Sustentabilidade tinha 16% das intenções de voto, segundo levantamento do Datafolha. Na última pesquisa do instituto, da última quinta-feira, ela aparece com 7%.

No Twitter, Marina foi alvo de uma postagem negativa de Bolsonaro, apenas. Os filhos do candidato a atacaram 13 vezes no período. Mas nem Ciro, Geraldo ou Haddad se mobilizaram para atacá-la uma vez sequer na rede social, ao longo do último mês.

"Ao menos nas redes dos oficiais dos outros candidatos, Marina foi muito pouco atacada. Ela própria ataca Jair Bolsonaro, como alvo preferencial", diz o sociólogo e pesquisador do Dapp-FGV Amaro Grassi. A candidata da Rede publicou 38 tuítes com ataques a outros presidenciáveis no período, e 13 deles foram críticos a Bolsonaro. Outros 5 se dirigiram contra Lula e Haddad.

No Facebook, de 33 postagens de Marina com referências a outros atores políticos analisadas, 14 (ou 42%) são ataques.

Num debate na RedeTV!, em 18 de agosto, Marina fez um discurso duro contra Bolsonaro a respeito da igualdade salarial entre homens e mulheres. Segundo Grassi, foi explorando este nicho que Marina fez a maioria de seus ataques ao candidato do PSL.

"Aquilo repercutiu, e a campanha percebeu que havia esse nicho político para criticar Bolsonaro, na questão das mulheres. Ela tratou de explorar este caminho", avalia ele.

O PT 'escolheu' Alckmin como o adversário principal

Ao longo do mês analisado pelo levantamento do Dapp-FGV, os perfis oficiais do ex-presidente Lula, de Haddad, da candidata a vice Manuela D'Ávila (PC do B) e da ex-presidente Dilma no Twitter fizeram 51 postagens críticas a atores políticos. E, dentre os quatro principais adversários de Haddad na disputa presidencial, Alckmin foi o que mais "apanhou" dos petistas: foram 19 mensagens negativas contra o tucano.

A conta do próprio Haddad publicou 10 tuítes com críticas a Alckmin, e não fez qualquer ataque aos demais - nem mesmo a Bolsonaro. Já os aliados de Haddad dirigiram nove ataques a Alckmin, e outros doze a Bolsonaro. "O povo tem memória. Sabe o que foram nossos 12 anos de governo nesse país. E sabem o que eles fizeram depois que perderam a quarta eleição em 2014", disse Haddad numa das mensagens, referindo-se de forma indireta ao PSDB.

"Curiosamente, o PT tentou 'escolher' novamente o grupo com o qual polarizaram nas últimas seis disputas presidenciais", diz Amaro Grassi.

No Facebook, Haddad evitou ataques a outros candidatos até o momento, segundo o Dapp: a prioridade do petista tem sido ligar sua imagem à do ex-presidente Lula, preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde o dia 7 de abril de 2018. A maioria das postagens do petista no Facebook falava dos apoios recebidos de políticos e artistas. Das 35 postagens de Haddad no Facebook, 18 eram mensagens de apoio à libertação de Lula.

Haddad e Bolsonaro foram os mais criticados

Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress
Haddad faz campanha em Osasco (SP) com camisa com desenho do ex-presidente Lula
No período analisado, Haddad foi o mais atacado pelos adversários nas redes sociais, seguido por Bolsonaro. Os dois lideram as pesquisas de intenção de voto: no último levantamento Ibope, divulgado nesta segunda-feira (24), Bolsonaro aparece com 28% e Haddad, com 22%.

Bolsonaro foi o destinatário de 38 mensagens críticas de seus adversários no Twitter, no último mês. Seus principais agressores nas redes foram Marina (13 tuítes) e Alckmin (24 posts). Levando em conta também os perfis de aliados dos presidenciáveis, Bolsonaro recebeu 67 ataques durante o período - e os mais agressivos contra o candidato do PSL foram os perfis ligados a Haddad.

O ex-capitão poderia ter sido até mais atacado - seus adversários evitaram fazer críticas diretas a ele nos dias que se seguiram ao atentado sofrido pelo candidato. No dia do atentado, Alckmin postou uma mensagem de solidariedade a Bolsonaro, desejando que ele se recuperasse "rapidamente".

O líder das pesquisas só voltaria a ser mencionado por Alckmin no Twitter no dia 11 de setembro. "Minha solidariedade ao Bolsonaro, mas discordo totalmente das ideias dele. Veja que ele passou 20 anos no Congresso votando do ladinho do PT", escreveu.

No mesmo período, Haddad foi alvo de 56 mensagens negativas de seus adversários no Twitter. E, considereados os perfis dos principais aliados de seus competidores, o ex-prefeito de São Paulo foi alvo de 120 menções negativas.

Quem mais atacou Haddad no Twitter foi Alckmin: são 30 postagens negativas do perfil oficial do tucano contra o petista neste período. Mas, considerando os perfis aliados, quem mais bateu no petista foram os filhos de Bolsonaro: dispararam 53 mensagens contra ele no período pesquisado.

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