15. Deputados contratam firma ligada a neto de José Sarney (PMDB-AP)
Data de divulgação
12.mar.2012
O escândalo
Gabriel Cordeiro Sarney tem 24 anos, é neto de José Sarney (PMDB-AP), ex-presidente da República e atual presidente do Senado, e é relacionado a uma empresa que recebe dinheiro público da Câmara dos Deputados. A informação foi divulgada pela "Folha de S.Paulo" em 12.mar.2012 (aqui, para assinantes do jornal e do UOL).
Gabriel é um dos três sócios da Ideaspread Participações, criada em agosto de 2011. Seus parceiros de negócio, Felipe Martins de Carvalho e Marcos Del Valle, controlam a Metagov Comunicação, que foi contratada por vários deputados para dar consultoria política e criar sites e aplicativos. Desde 2011, a Metagov recebeu, no mínimo, R$ 260 mil de gabinetes de deputados, afirmou o texto. Desse total, R$ 72,5 mil saíram do gabinete do pai de Gabriel, Sarney Filho (PV-MA).
Além de Sarney Filho, a lista de clientes da Metagov na Câmara inclui os deputados Romário (PSB-RJ), Roberto Freire (PPS-SP), Renan Filho (PMDB-AL), Júlio Delgado (PSB-MG) e Wilson Filho (PMDB-PB), afirmou a "Folha".
"Todos os parlamentares têm direito a uma verba mensal para custear despesas ligadas ao exercício de seu mandato, mas o regimento interno da Câmara proíbe empresas de parentes do deputado até o terceiro grau de receber esse dinheiro", explicou a reportagem. Apesar disso, Sarney Filho manteve a Metagov entre os prestadores de serviços de seu gabinete após a criação da Ideaspread.
O texto afirmou que, além de terem sócios em comum, a Ideaspread e a Metagov foram registradas na Junta Comercial do Estado de São Paulo com o mesmo endereço. "Gabriel dá expediente no escritório e usa um e-mail da Metagov para contatos", relatou o jornal.
Outro lado
A "Folha" publicou que Del Valle, um dos sócios de Gabriel Sarney, disse que o neto do presidente do Senado "trabalha com a parte do que a gente chama de inteligência política" na Metagov.
Del Valle disse ainda, de acordo com a "Folha", que foi Gabriel quem apresentou a Metagov ao deputado Sarney Filho. "Neste caso, [Gabriel] nos ajudou a conhecer o pai dele".
Já Gabriel Sarney e seu pai, o deputado Sarney Filho (PV-MA), negaram que tenha ocorrido influência política na contratação da Metagov Comunicação por deputados, publicou a "Folha".
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não quis se manifestar sobre o assunto.
Por escrito, Gabriel Sarney respondeu que integra a equipe da Metagov na área "de planejamento e inteligência política". Afirmou ainda ser formado em publicidade e ter sido convidado para ser sócio da Ideaspread Participações. Ele desmentiu seu sócio Marcos Del Valle e disse que não ajudou a Metagov a ser contratada pelo gabinete de seu pai, segundo escreveu a "Folha".
Gabriel disse que não fez parte das negociações envolvendo recursos da Câmara recebidos pela Metagov após a criação da Ideaspread. "Os contratos, segundo ele, foram fechados antes de sua chegada oficial à empresa", escreveu o jornal.
"Gabriel disse que, como condição para trabalhar na Metagov, exigiu o fim do contrato com o gabinete de seu pai. Mas Sarney Filho repassou à empresa pelo menos R$ 22,5 mil entre setembro e outubro, quando Gabriel já era oficialmente sócio da Ideaspread, ligada à Metagov".
O deputado Sarney Filho disse ao jornal que pediu à sua equipe que verifique possíveis irregularidades. "Caso seja identificada alguma falha, imediatamente tomarei as medidas que a legislação determina."
Os deputados que contratam os serviços da Metagov, por sua vez, disseram que desconheciam a ligação de Gabriel Sarney com os negócios. "Eu não sabia, posso garantir", disse Júlio Delgado (PSB-MG), segundo publicado pela "Folha".
Roberto Freire (PPS-SP), que repassou R$ 66 mil à Metagov de 2010 a 2011, disse que desconhecia o envolvimento do neto de Sarney. "Eles estão prestando o serviço. Qual é o problema?"
Renan Filho (PMDB-AL) disse que não discutiu a contratação da Metagov com Sarney Filho. Wilson Filho (PMDB-PB) e Romário (PSB-RJ) não responderam à reportagem até a publicação do texto.
Em 13.mar.2012, a "Folha" publicou que Júlio Delgado e de Roberto Freire iriam cancelar os contratos com a empresa.
"Se existe mesmo essa ligação com um parente de Sarney, é bom que se averigue. De minha parte, enquanto se apura o caso, vou pedir o cancelamento do contrato", disse Freire, segundo o jornal.
"Prefiro cancelar. Não tenho problema em romper o contrato se posso contratar outra empresa", afirmou Delgado.
O que aconteceu?
Nada.