Deputados do Rio apontam erros e acertos nos oito anos de governo Cabral

Reportagem: Hanrrikson de Andrade, no Rio

A pedido do UOL, os deputados estaduais André Corrêa (PSD) e Marcelo Freixo (PSOL), líderes da base do governo e da oposição na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), respectivamente, elencaram os principais acertos e erros do governador do Estado, Sérgio Cabral (PMDB), que deixa o cargo nesta quinta-feira (3) para dar lugar ao vice-governador, Luiz Fernando Pezão. Pezão será o candidato peemedebista na eleição para a chefia do Executivo fluminense, em outubro.

Arte/UOL

Na visão do parlamentar do PSD, Cabral conseguiu "profissionalizar a gestão pública", sendo este o seu grande feito desde que foi eleito, em 2006, e reeleito, em 2010, com 66,08% dos votos válidos. "Esse foi o governo que mais fez concurso público na história do Estado. Só na área da educação, foram 44 mil professores. Em relação aos auditores fiscais, fizemos mais concursos do que somados os últimos 50 anos", argumentou o deputado.

Corrêa afirmou ainda que o avanço mais visível para a população e a imprensa se deu na área da segurança pública, com as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), sendo este o segundo principal acerto do governador do Rio. Ele citou ainda ações desenvolvidas nas áreas da educação, em especial a política de meritocracia, da saúde e dos transportes.

Já Freixo destacou como principal erro do governador o planejamento e execução de ações referentes ao transporte público no Estado. Segundo o representante do PSOL, o "caos se instalou no Rio", com parcela de contribuição da prefeitura, e Cabral cometeu "todos os erros possíveis" no sentido de enfrentar os desafios que lhe foram impostos. "Você tem Supervia, o metrô, as barcas. Todos foram entregues à gestão de empreiteiras", argumentou Freixo, referindo-se às licitações para operação dos sistemas.

O parlamentar citou ainda a "questão comportamental, ética, republicana" do peemedebista, lembrando os vários escândalos nos quais Cabral se envolveu nos últimos anos. "Ele foi levado a fazer um código de ética para ele mesmo cumprir. E ele não obedeceu nem a ele mesmo. Talvez, isso seja inédito na história", finalizou.

Em dezembro do ano passado, uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) em parceria com o instituto Ibope feita em 11 Estados mostrou ser Cabral o governador com a pior avaliação no país. Apenas 12% da população considerou a sua gestão ótima ou boa. A maneira dele de governar foi aprovada por 29% dos eleitores, abaixo da média nacional (42%). Ele inspirava confiança em apenas 25% dos eleitores. A margem de erro do estudo é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Corrêa: "Acabou aquela história de deputado indicar delegado"

O líder da base governista na Alerj disse acreditar que, desde 2006, a gestão pública foi "profissionalizada". "Aquela fase de interferência se esgotou com o Sérgio Cabral", disse ele, argumentando que as nomeações políticas, derivadas de indicações de pessoas influentes no governo, supostamente não acontecem mais. "Destaco o fato de que o governo Cabral foi o que mais fez concursos públicos na história do Estado", opinou.

Freixo: "Cometeram todos os erros possíveis no transporte"

Para o líder da oposição na Alerj, a crise no transporte público do Rio é o que "mais salta aos olhos entre os vários erros" da gestão Cabral. O deputado criticou a "falta de transparência" nas licitações que definiram os operadores de cada sistema, e lembrou da suspensão dos bondes de Santa Teresa. "É impossível que um secretário como Júlio Lopes tenha sido mantido no cargo durante todo esse tempo", opinou Marcelo Freixo.

Corrêa: "Menor índice de homicídios na história do Rio"

O parlamentar afirmou que, com a eleição deste ano, há uma "uma preocupação com a continuidade do programa" das UPPs: "Infelizmente, a história mostra que iniciativas que viram identidade de um determinado governo são descontinuadas". Corrêa declarou ainda que, com a ocupação de favelas, o Rio teve o "menor índice de homicídios na história". Ele também citou a valorização imobiliária nas favelas e nos bairros adjacentes.

Freixo: "Nas pesquisas, saúde é sempre a maior reclamação"

Freixo citou a superlotação dos hospitais e a remuneração dos profissionais, que ele disse considerar "péssima". "Nas pesquisas, saúde é sempre a maior reclamação. A qualidade da saúde no Rio está sempre classificada entre as piores, em todos os rankings", argumentou. Ele comentou sobre o "processo de privatização do setor" e disse que nem todos os problemas ganham destaque porque "muitos formadores de opinião não usam a rede pública".

Corrêa: "Professores têm maior salário entre os Estados"

Segundo o deputado do PSD, o governo do Estado falha na tentativa de "comunicar a revolução pela qual passa a área da educação". "Antes do Cabral, estávamos entre os três piores salários da rede estadual no país. Temos hoje o maior salário entre os 26 Estados, isto é, excetuando-se o Distrito Federal", afirmou. Corrêa declarou ainda que, na gestão Cabral, os professores da rede estadual "ganharam vale-transporte e vale-alimentação".

Freixo: "Educação mostra lado nebuloso do governo"

"Há uma insatisfação generalizada entre os profissionais", afirmou Freixo sobre a rede estadual de ensino. Para ele, o setor mostra o "lado nebuloso do governo" em relação a contratos com empresas que prestam serviço para a administração estadual. "Há colégios em que a portaria e a limpeza são de responsabilidade da mesma empresa". O parlamentar também citou problemas como o alto índice de evasão escolar, a falta de vagas e as greves da categoria.

Corrêa: "Desafogamos as emergências dos hospitais"

O líder da base do governo afirmou que, "antes da gestão Cabral, havia um afluxo enorme nas emergências dos hospitais", o que teria sido solucionado, segundo ele, pelas 54 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) construídas desde 2006. "Já atenderam 20 milhões de pessoas", disse. O parlamentar citou ainda iniciativas como a construção do Rio Imagem, que, em parceria com a iniciativa privada, oferece exames gratuitos para a população.

Freixo: "Ele pega empréstimo para pagar empréstimo"

Na visão do representante do PSOL, o governo Cabral tem, em 2014, "uma dívida que é maior do que o seu orçamento". "Ele pega empréstimo para pagar empréstimo. O endividamento do Estado é algo preocupante", disse. Para Freixo, os débitos da administração estadual ultrapassam os R$ 80 milhões. "Um grande exemplo dessa irresponsabilidade financeira é a Linha 4 do metrô, que foi orçada em R$ 8,5 bilhões. Hoje, já está em R$ 13,5 bilhões", finalizou.

Corrêa: "Transporte no Rio passa por revolução surda"

Para Corrêa, há uma "revolução surda" no transporte público do Rio, pois as melhorias seriam sempre ofuscadas pelo caos diário nos ônibus, trens, metrô e barcas. O parlamentar chamou atenção para o fato de que, "nunca na história do Estado, o governo comprou uma barca". Na gestão Cabral, disse ele, foram compradas nove barcas, das quais quatro já começaram a operar. Corrêa citou ainda a compra de trens e a construção da Linha 4 do metrô.

Freixo: "Governo Cabral fez pouco caso da opinião pública"

Freixo destacou a quantidade de escândalos que envolveram o nome do governador do Rio, a exemplo da viagem a Paris --quando foi fotografado utilizando guardanapos na cabeça-- e do uso de helicópteros oficiais. "Ele foi levado a fazer um código de ética para ele mesmo cumprir. E ele não obedeceu nem a ele mesmo", afirmou. O deputado declarou ainda que Cabral foi "imaturo e irresponsável" ao lidar com a onda de manifestações.

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