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Nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann pensou em ser freira

Carlos Kaspchak <br>Especial para o UOL Notícias

Em Curitiba

08/06/2011 14h50

A nova ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR), 45, que assume a pasta no lugar de Antonio Palocci, é uma mulher que tenta aliar pragmatismo político com preocupações de cunho social, faz questão de destacar a sensibilidade da mulher no trato dos assuntos e de mostrar-se uma mãe dedicada aos dois filhos. Formada em Direito e ex-diretora financeira de Itaipu Binacional, vinha despertando a atenção da presidente Dilma Rousseff por sua personalidade e forte atuação no Senado. Assume agora o ministério com a função a trazer de volta o aspecto técnico.

Suas ações revelam fortemente as influências que teve no passado, revelou Gleisi no livro "Vozes do Paraná 2" (2009), do jornalista Aroldo Murá Haygert. Segundo o texto, a nova ministra da Casa Civil começou muito cedo sua militância na política, como líder estudantil nos anos 80. Tinha obras como "Veias Abertas da América Latina", de Eduardo Galeano, e o "Manifesto Comunista", de Marx e Engels, como livros de cabeceira. Hoje, tem "Deus e a Ciência" (1992), dos irmãos russos Igor e Grichka Bogdanov e do filósofo cristão francês Jean Guitton, e "Audácia e Esperança (2007)", de Barak Obama, como suas obras favoritas. 

Na adolescência, influenciada pelo discurso da Teologia da Libertação, quis ser freira. Acabou na militância estudantil, filou-se ao PCdoB e chegou a ser chamada por codinomes como Clara ou Rosa Luxemburgo.

Vida em Curitiba

Nascida em 6 de setembro de 1965, em Curitiba, a ministra é fruto da geração “filhos da ditadura”. Passou a infância e adolescência na Vila Lindóia, bairro popular da região sul da cidade, com os pai Júlio, a mãe Getúlia e os três irmãos.

O nome Gleisi, um acidente de cartório, foi escolhido pela mãe em homenagem à ex-atriz e princesa de Mônaco Grace Kelly, mas acabou sendo registrado de forma errada porque o pai acreditou que a pronúncia “greici” estivesse errada. 

A militância política começou ainda no colégio Nossa Senhora Esperança, comandado pelas irmãs bernardinas, onde estudou até a 8ª série do Ensino Fundamental --o então segundo grau. Nessa época, aos 14 anos, não escondia o desejo de ser freira, mas o pai não deixou que ela fosse sozinha para o Rio Grande do Sul (RS), sede da congregação.

Depois, foi estudar no Colégio Medianeira, que tem o projeto educativo inspirado no fundador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola. Com os jesuítas aprendeu a pensar politicamente. Segundo ela, foi lá que entendeu a visão cristã de igualdade e fraternidade.

Nasce a militante política

Gleisi se filiou ao PCdoB em 1983. O projeto político de transformar a sociedade, que ainda estava sob a ditadura dos militares, a fez adiar a entrada na universidade. Decidiu cursar Eletrotécnica, no Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), para militar no movimento estudantil secundarista.

Foi eleita presidente da União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Curitiba (Umesc) e depois para a União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES). Não demorou a tornar-se presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). 

Em 1987, entra na Faculdade de Direito de Curitiba, onde se formou cinco anos depois. Sua primeira experiência política fora da militância estudantil foi como assessora parlamentar do então vereador de Curitiba pelo PMDB, Jorge Samek --hoje petista e atual presidente da Itaipu Binacional, que depois a levou para a diretoria financeira da usina, em 2003.

Formação técnica

Nesse período começou os cursos técnicos sobre orçamento. Ela estudou finanças e orçamentos públicos e fez cursos na Associação Brasileira de Orçamento Público e na Escola Superior de Assuntos Fazendários do Ministério da Fazenda.

Por conta desta formação, foi trabalhar na gestão Zeca do PT no governo do Mato Grosso do Sul, em 1999, na Secretaria de Reestruturação Administrativa. No executivo estadual, Implantou uma reforma administrativa que cortou gastos, diminuiu cargos em comissão e reformou a previdência estadual. As reformas não agradaram aos petistas, que defendiam a outro modelo de gestão da máquina pública.

Em 1998, casou com o ministro Paulo Bernardo, com quem tem dois filhos --João Augusto (8) e Gabriela Sofia (4). Foi ele, que tem sua base eleitoral na região de Londrina, quem a levou para trabalhar na prefeitura da cidade, em 2001, após Nedson Micheleti (PT) ter sido eleito. Ela foi secretária de Gestão do município.

Com a eleição de Lula para a Presidência da República, em 2002, ela foi convidada a participar do gabinete do governo de transição. Nessa época, conheceu melhor Dilma Rousseff e Antonio Palocci.

Em seguida, Gleisi foi chamada por Jorge Samek para integrar a diretoria da Itaipu Binacional. Foi a primeira mulher a assumir cargo no alto escalão da administração da usina e ficar responsável pelo orçamento de mais de U$ 3 bilhões. Contrariando todos aqueles que diziam que ela não estava preparada e, maldosamente, a chamavam de Barbie, ela deu conta do recado. Implantou na Itaipu o conceito de empresa com responsabilidade social e desenvolveu ações de caráter social não só para os funcionários, mas para a comunidade de Foz do Iguaçu (PR) e do país vizinho, no Paraguai. Além disso, reestruturou o Hospital Ministro Costa Cavalcanti, criado para atender os funcionários da usina e que depois foi aberto ao atendimento público, e criou a Casa Abrigo, que acolhe mulheres e crianças vítimas de violência doméstica.

Experiência eleitoral

Gleisi assumiu, então, cada vez mais funções dentro do PT do Paraná. Foi eleita presidente estadual da sigla e passou a ser uma aposta eleitoral concreta no Estado. Em 2006, concorreu a única vaga disponível para o Senado e conseguiu 2,3 milhões de votos --45,14% do eleitorado. Por pouco não derrotou o até então imbatível senador Alvaro Dias (PSDB), que concorria ao terceiro mandato.

Com esse cacife eleitoral, o PT do Paraná apresentou em 2008 a sua candidatura, achando que ela era a única que poderia derrotar o prefeito mais popular da história de Curitiba: Beto Richa (PSDB), hoje governador do Estado. Ela, porém, perdeu a eleição no primeiro turno e conquistou apenas 18,14% dos votos.

Em 2010,  foi a primeira mulher eleita para representar o Paraná no Senado, com 3.196.468 votos, 156 mil a mais que os votos obtidos pelo governador eleito Beto Richa (PSDB).