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Dez anos após assassinato, família de Toninho do PT vai à OEA denunciar omissão do Estado

Maurício Simionato<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Campinas (SP)

10/09/2011 07h00

Dez anos após o assassinato do ex-prefeito de Campinas (93 km de São Paulo) Antonio da Costa Santos, o “Toninho do PT”, a família dele prepara uma denúncia à OEA (Organização dos Estados Americanos) por “omissão do Estado brasileiro” na apuração do crime, ocorrido em 10 de setembro de 2001.

A viúva de Toninho, Roseana Moraes Garcia, afirma que a forma como o crime vem sendo investigado representa “grave violação aos direitos humanos e fere tratados internacionais”. Toninho foi morto quando dirigia seu veículo logo após sair de um shopping da cidade. Uma das três balas disparadas atingiu o prefeito, que morreu na hora. Até hoje, o caso não foi esclarecido.

A denúncia à OEA deve ser encaminhada até o fim deste ano por meio do CIDH (Comissão Interamericano de Direitos Humanos). Caso aceite o pedido da família como legítimo, a OEA poderá impor sanções ao governo brasileiro e publicar uma nota com recomendações como forma de pressão externa.

Memória

O crime ocorreu por volta das 22h de 10 de setembro de 2001. Toninho estava sozinho em seu carro. A arma do crime - uma pistola 9 mm - jamais foi localizada. Ele estava havia apenas oito meses na Prefeitura de Campinas e vinha fazendo mudanças em contratos públicos, como o da administração do lixo e dos transportes, entre outros.

Meses antes de ser assassinado, Toninho tinha acabado de receber um documento com uma auditoria completa sobre as dívidas da prefeitura e havia sido testemunha da CPI do Narcotráfico - que na época chegou a classificar Campinas como um dos centros nacionais do roubo de cargas, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.

“O Antonio atrapalhou muitas negociatas. Até hoje o caso não foi esclarecido, e o crime de mando nunca foi investigado”, disse a viúva. “Foi um crime político. Ele morreu porque não se vendeu e contrariou muitos interesses”, afirmou Roseana.

Além de defender a tese de que o assassinato teve motivação política, ela diz que pode haver ligação entre os assassinatos de Toninho do PT e Celso Daniel, prefeito de Santo André (Grande São Paulo), morto em janeiro de 2002, quatro meses depois do crime de Campinas.

VEJA OUTROS CASOS DE PREFEITOS ASSASSINADOS NA ÚLTIMA DÉCADA

PREFEITOCIDADEMORTEO CRIME
Antonio Luiz César de Castro (DEM)Nova Canaã do Norte (MT)5.ago.2011Luizão, como era conhecido, foi morto com cinco tiros durante uma festa na cidade. A investigação corre em segredo de Justiça, e o prazo para a conclusão do inquérito foi prorrogado até 5 de outubro
Valdemir Antonio da Silva (PMDB)Novo Santo Antônio (MT)23.jul.2011O prefeito, conhecido como Quatro Olho, foi morto com três tiros em sua casa. O inquérito policial ainda não foi concluído, mas cinco suspeitos já foram indiciados. Desses, dois estão presos temporariamente
Walderi Braz Paschoalin (PSDB)Jandira (SP)10.dez.2010Paschoalin foi morto a tiros quando chegava a uma rádio. Entre outros denunciados o Ministério Público apontou como mentores do crime dois ex-secretários municipais, Sérgio Paraizo e Wanderley Lemes de Aquino, e Anderson Luiz Elias Muniz, o “Ganso”, ex-candidato a vereador, que foram presos. Os três conseguiram alvará de soltura, mas, segundo o delegado responsável, Aquino continua preso por outros processos
Divaldo Wiliam Rinco (PSDB)Alto Paraíso de Goiás (GO)2.set.2010O prefeito foi morto a tiros. Ary da Abadia Garcez, pai de Ueberton Garcez, vereador de Alto Paraíso, foi denunciado pelo Ministério Público como assassino do prefeito e preso no dia 21 de janeiro de 2011, mas acabou solto em 17 de agosto
Gilberto Souza e Silva (DEM)São Francisco do Glória (MG)13.jan.2008Silva foi morto a tiros em Piúma, cidade no litoral do Espírito Santo. O prefeito estava na cidade com a família, a passeio
Hilter Alves Costa (DEM)Ribamar Fiquene (MA)16.jul.2007O prefeito foi morto a tiros após ser abordado por dois homens que estavam em uma moto
Gilberto Ramos de Andrade (PR)Aurelino Leal (BA)5.mai.2007Andrade foi morto a tiros por dois homens em uma estrada. Ferido, o prefeito tentou fugir, mas foi seguido e espancado. Ele estava com o sogro, que saiu ileso. Em fevereiro de 2011, o ex-prefeito de Aurelino Leal, José Augusto Neto, foi condenado a 19 anos de prisão pelo assassinato
Inácio Carlos Moura (PP)Coronel Murta (MG)28.mar.2007O prefeito foi assassinado com um tiro, em sua casa. O Ministério Público denunciou José Lucas Martins Lopes pelo crime de latrocínio (roubo seguido de morte), e uma audiência está marcada para o próximo dia 20 de setembro
Raimundo Bartolomeu Santos (PSC)Presidente Vargas (MA)7.mar.2007Santos foi morto com três tiros em uma estrada. Ele viajava em companhia do secretário de Esportes de Presidente Vargas, Pedro Albuquerque, que também foi baleado, mas não morreu
Edvaldo dos Santos Ribeiro (PMDB)Roteiro (AL)11.set.2006Em uma chacina, foram mortos a tiros o prefeito, o secretário de Turismo do município, José Cláudio Benedito, e um funcionário da prefeitura. O vereador Genival Barbosa da Silva, suspeito que chegou a ser preso e foi solto por falta de provas, foi assassinado a tiros em 20 de agosto de 2010
Manuel Custódio Ramos (PMDB)Fênix (PR)4.fev.2006O prefeito foi morto com quatro tiros. O então vice-prefeito Aristóteles Dias dos Santos Filho (PMDB) foi preso após denúncia do Ministério Público Federal, mas, em 2009, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) revogou o pedido de prisão preventiva
Flávio Farias (antigo PFL)Porto Estrela (MT)10.out.2005O prefeito foi morto a tiros na zona rural de Porto Estrela. Os quatro denunciados pelo Ministério Público foram absolvidos pela Justiça por falta de provas
João Henrique Leocádio Borges (PDT)Buriti Bravo (MA)10.mar.2005Borges foi morto a tiros. Conforme foi noticiado na época, um mês antes da morte ele havia dito, em entrevista, que estava sofrendo perseguição política
Valdenor Cordeiro da Silva (PSDB)Jussari (BA)2.jan.2005O prefeito foi encontrado morto em sua casa um dia após tomar posse no cargo pela terceira vez. As causas da morte não foram esclarecidas, mas há suspeitas de infarto e envenenamento
Celso Daniel (PT)Santo André (SP)18.jan.2002Celso Daniel foi morto com sete tiros dois dias após ser sequestrado. Marcos Roberto Bispo dos Santos, o Marquinhos, o primeiro condenado do caso, foi preso em dezembro de 2010. Outros seis acusados de envolvimento deverão ser julgados a partir de 2012