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Leia a transcrição da entrevista de Romário à Folha e ao UOL

Do UOL Notícias, em Brasília

08/12/2011 07h00

O deputado federal Romário (PSB-RJ) participou do programa "Poder e Política - Entrevista", conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 7.dez.2011 no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.

Leia a transcrição da entrevista e assista ao vídeo:


>>Fotos da entrevista com Romário.

Romário – 7/12/2011

Narração de abertura: O deputado federal Romário de Souza Faria, ex-jogador de futebol, tem 45 anos. Elegeu-se pelo PSB do Rio de Janeiro, partido aliado de Lula e da presidente Dilma Rousseff. Foi o 6º mais votado do Estado com mais de 140 mil votos.

Romário se tornou jogador profissional em 1985, no Vasco da Gama. Jogou também no Flamengo, no Fluminense, no PSV, da Holanda, e no Barcelona, da Espanha. Foi destaque da seleção tetracampeã na Copa de 1994.

Na política, Romário tem aparecido como defensor dos direitos de portadores de deficiência física e como crítico da CBF, da Fifa e da forma como o governo organiza a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Folha/UOL: Bem-vindo ao “Poder e Política Entrevista”.

O programa é uma parceria do jornal Folha de São Paulo, do portal UOL e da Folha.com. A gravação é sempre realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

O entrevistado desta edição do “Poder e Política” é o deputado federal Romário, do PSB do Rio de Janeiro.

Folha/UOL: Deputado Romário, muito obrigado por aceitar o convite. Eu começo perguntando: o sr. vai ser candidato a prefeito do Rio de Janeiro?
Romário:
Primeiramente, dizer que é um prazer participar deste programa tão sério e de tanta credibilidade. Existe essa possibilidade. Eu fui procurado por algumas pessoas do partido [PSB] do Rio de Janeiro. Tivemos algumas conversas e eu me interessei bastante pelo que ouvi em relação ao partido. Mas não posso dizer que isso é uma coisa que vá acontecer porque nosso partido no Rio de Janeiro já tinha um compromisso com o PMDB, no caso, do Eduardo Paes [atual prefeito do Rio] de apoiá-lo, já desde a disputa passada de governo. Então a gente está na verdade conversando para ver qual vai ser realmente a possibilidade, o que vai ser melhor para o partido.

Folha/UOL: O sr., se não for candidato a prefeito, apoiaria então Eduardo Paes que será candidato à reeleição no ano que vem, 2012?
Romário:
Não. Isso hoje ainda não posso afirmar. Apesar de que o partido, em princípio, se  continuar como está, apoiará o Eduardo Paes, eu particularmente não posso te afirmar que vou dar esse apoio ao Eduardo Paes.

Folha/UOL: Qual é sua avaliação sobre a gestão dele até agora?
Romário:
Muito boa. Um dos grandes prefeitos que a gente teve nos últimos anos na cidade. Tem dado outra cara ao Rio de Janeiro, em todos os sentidos. É claro que, como em todas as cidades grandes, que existem não só no Brasil, como no mundo, existem muitos problemas. Mas ele vem fazendo uma grande administração.

Folha/UOL: E o que impediria o sr. de dizer, se não for candidato no ano que vem, poderia apoiar Eduardo Paes agora já?
Romário:
Nesse meio do caminho, surgindo um candidato que tenha alguma coisa diferente e nova em relação ao Rio de Janeiro que eu entenda que possa ser melhor, poderia ser discutido.

Folha/UOL: Esse é um plano que se não for para agora, no médio prazo o sr. pretende executar? Ser candidato a prefeito do Rio?
Romário:
Eu na verdade quando entrei aqui [na Câmara dos Deputados], em fevereiro deste ano [2011], os meus planos eram traçados acima desses quatro anos de mandato. Brigar pelos direitos das pessoas com deficiência, dar uma qualidade de vida melhor a essas pessoas. Fazer com que o Brasil, entenda com que esse preconceito é uma coisa já antiga. Essas pessoas têm o direito de conviver na sociedade, como nós convivemos. Infelizmente, estamos num momento no nosso país em que essa invasão do crack, essa praga dessa droga que invadiu e tem tirado muitas crianças, muitos jovens. Inclusive a vida dessas pessoas. Então é através de ações de depoimentos de campanha. Acredito que eu possa vir a ser um espelho, que o esporte é uma grande saída para uma vida melhor e saudável.

Folha/UOL: O que mais agrada ou desagrada o sr. na rotina do Congresso?
Romário:
Olha, o que mais me desagrada no Congresso é o plenário. Porque apesar de a gente ter até condição de falar, mas sempre nos horários de pico os espaços são sempre mais dados para os líderes, para os vice-líderes, para aqueles que defendem aquele assunto e, principalmente, aqueles que são conhecedores daquele assunto. Tanto na defesa para o lado positivo, quando para o lado negativo. Então eu no plenário tive a oportunidade de falar quatro, cinco, seis vezes no máximo. Foram depoimentos que eu fiz em relação a algumas coisas que aconteceram nesse ano.

E o que mais me agrada dentro da casa é a comissão. Eu adoro a comissão, que é a Comissão de Desporto e Turismo. As frentes parlamentares das quais eu participo, que são em defesa da pessoa com deficiência e em defesa da atividade física. Essas duas situações, três no caso, essas duas frentes e a comissão, são os momentos em que possa dizer que eu esteja mais feliz na... Não que eu esteja triste quando estou dentro do plenário. Mas essas três situações para mim, me fazem muito bem.

Folha/UOL: Muito se fala sobre defeitos do sistema político atual. Defeito na forma de eleger os representantes, na representação dentro do Congresso, reforma política, o sr. se interessa por esse tema? Tem alguma opinião sobre se deveria ter algum tipo de reforma nessa área?
Romário:
Eu acho por exemplo que não é justo você... Vou falar por mim: durante três meses    eu trabalhei  na minha campanha praticamente 18 horas por dia e não tive quase nenhum tipo de ajuda do meu partido. E você depois de eleito, você passa a ser... o teu mandato passa a ser do seu partido, não passa a ser do deputado. Isso é uma coisa que eu não sou a favor.

E um outro exemplo é o que acontece hoje no Rio de Janeiro. Existe a possibilidade de um candidato com eu, que tenho hoje uma visibilidade e uma respeitabilidade até como político, coisa que aconteceu até bem antes do que eu esperava, que é uma oportunidade de o próprio partido crescer no Estado, quer dizer, por município, que pelo meu partido já ter feito alguns acordos, algumas combinações, politicamente falando, lá atrás, não existe essa possibilidade. Essas são as coisas que eu acho muito negativas dentro da política.

Folha/UOL: Nesse caso o  sr. acha que, talvez, fosse conveniente para o Brasil ter candidatos avulsos, que não estivessem necessariamente atrelados ao partido?
Romário:
O que eu acredito é que o partido tem que dar mais liberdade aos seus deputados vereadores, aos seus políticos. Coisa que infelizmente não acontece. Por exemplo: às vezes passa alguma Medida Provisória da Casa que, como todas, vem do governo e que muitos [deputados] ali não são favoráveis mas têm que votar porque o partido é da situação, é do governo e, se não vota, tem algum tipo de represália. Eu particularmente acho isso ruim.

Outra coisa que eu acho negativa: o voto secreto. Tudo que é para votar dentro daquela Casa na minha opinião tem que ser voto aberto. Porque os eleitores têm que, por obrigação, saber em que eles votaram e o que eles [os que recebem votos nas urnas] estão votando [quando exercem o mandato]. Se é coisa boa ou se é coisa ruim para o país.

Folha/UOL: Teve algum voto secreto que o sr. teve que dar por força da regra e que o sr. gostaria de ter feito um voto aberto neste ano?
Romário: A cassação da Jaqueline Roriz [do PMN-DF] foi um voto fechado, mas que eu declarei antes, durante e depois que votei pela cassação dela.

Folha/UOL: Agora, o argumento contrário é que no momento de votar esse tipo de assunto o deputado ficaria constrangido se o voto fosse aberto.
Romário:
Eu vou te afirmar uma coisa aqui: a partir do momento em que tudo o que se votasse na Casa fosse aberto, eu tenho certeza de que 80% das coisas negativas, em todos os sentidos, talvez deixassem de acontecer.

Folha/UOL: A Câmara dos Deputados tem na medida do possível tentado entender o que se passa com a CBF, sobre as acusações que pairam sobre a CBF, a Confederação Brasileira de Futebol. O sr. acha que tem sido adequada a forma como a Câmara tem tentado investigar ou esclarecer o que se passa na CBF?
Romário:
Essa fiscalização, ela poderia ser muito mais contundente e muito mais abrangente e direta.

Folha/UOL: Por exemplo...
Romário:
Eu tenho certeza de que se fosse feito dessa forma, talvez hoje o presidente da CBF não estaria mais. Porque já foram colocadas a nível de televisão, internet, jornal, revista em todos os sentidos, que há, que existem muitas coisas que são ilegais dentro da CBF inclusive em relação ao governo.

Folha/UOL: O sr. poderia dar algum exemplo?
Romário:
Por exemplo: a CBF se titulariza uma instituição sem fins lucrativos.

Folha/UOL: Privada.
Romário:
Privada, sem fins lucrativos. E que não tem nenhum ganho do dinheiro público. Isso não é realidade. Três, quatro semanas atrás, o deputado Anthony Garotinho [do PR-RJ] que, eu não tenho certeza se foi depois que acabou a CBD ou quando virou CBF, nos últimos anos a CBF deixou de pagar de impostos R$ 1,1 bilhão aos cofres públicos. Isso já é uma constatação que ela tem sim de dar uma satisfação. Várias outras situações que nós já discutimos que era a nível de contrato de CBF com COL [Comitê Organizador Local da Copa de 2014], que era o mesmo presidente, onde o presidente tinha 90% e da CBF tinha 1%. Mas na hora da divisão dos lucros era dividido de acordo com o que os sócios combinavam. Isso legalmente dentro da Constituição não se pode fazer. Então eu estou dando exemplos assim de coisas que já aconteceram.

Folha/UOL: Mas o que a Câmara poderia fazer?
Romário:
A Câmara poderia constituir uma comissão de pessoas que são inteiradas, conhecedoras desse assunto [suspeitas sobre a CBF]. E, definitivamente, e o mais rápido possível, decidir se essas ações que a CBF fez, tem feito e, com certeza, continua fazendo, são realmente legais. E se são legais definir o que vai acontecer com a CBF. Ou seja: tirar ou não o presidente da CBF.

Se a CBF hoje faz coisas que estão dentro da legalidade, que por mais que a gente entenda que é absurdo, mas é legal.... Eu sou a favor que continue como está. Mas, a partir do momento que se comprove, legalmente, que existem coisas que estão totalmente fora do que se refere nossa Constituição, nossa legislação, eu tiraria o presidente da CBF e colocaria... O governo federal colocaria um presidente que seja... se responsabilize pela CBF no mínimo ate a próxima eleição que é em 2015.

Folha/UOL: O sr. tem firmada já uma convicção sobre a necessidade de se remover o atual presidente da CBF, Ricardo Teixeira?
Romário:
Eu ainda não tenho uma certeza disso porque como eu disse nossa Justiça é, infelizmente, muito devagar. Então muitas dessas acusações eu sei que estão aí em investigação, Ministério Público, Polícia Federal. Não sei se tanto o Ministério Público quanto a Polícia Federal ou outro poder judiciário vão ter tempo de julgar tudo isso que apareceu nos últimos meses até a Copa do Mundo. O ideal seria esse. Então eu não posso te afirmar aqui, que ele é culpado. Ele não é culpado. Mas o que eu posso te dizer é que alguma coisa não é correta, porque são tantas denúncias, tantas coisas erradas que, com certeza, existem alguns convênios de comunicação que são muito sérios, não dariam a matéria pelo simples fato de querer prejudicar o Ricardo Teixeira porque o Ricardo Teixeira é uma pessoa antipática, por exemplo.

Folha/UOL: O sr. teve a oportunidade de fazer perguntas a Ricardo Teixeira no último dia oito de novembro, quando ele e o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, esteve presente também fazendo uma apresentação. Mas aparentemente eles não responderam diretamente àquilo que o sr. perguntou.
Romário:
Não. Não responderam nada.

Folha/UOL: A Câmara deveria ser um pouco mais dura e exigir que as pessoas que são convidadas para ir lá, que dessem as respostas quando são inquiridas a respeito?
Romário:
Como o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e o secretário-geral [da Fifa] estariam como convidados, eles não teriam obrigação de responder às perguntas, perguntas essas com as quais eles não se sentiriam bem. Eles usaram disso e acabaram não respondendo.

Folha/UOL: Isso não desmoraliza um pouco a Câmara? Porque gasta-se tempo, energia e dinheiro até para nada.
Romário:
É... eu não sei se a palavra é desmoralização, mas isso com certeza prejudica no andamento de um evento da grandeza que é a Copa do Mundo. Porque o povo brasileiro em geral tem curiosidade de saber algumas coisas que, se eles não responderem, ninguém pode responder.

Folha/UOL: Ronaldo [ex-jogador de futebol] agora vai participar do Comitê Organizador [COL, Comitê Organizador Local da Copa de 2014]. O sr. acha que ele fez bem em aceitar esse cargo e o que ele poderia fazer ali para ajudar a melhorar ali a organização da Copa?
Romário:
Eu não aceitaria o que ele aceitou nesse momento. Talvez num momento futuro sim, um pouco mais próximo. Eu entendo que a colocação do Ronaldo ali, por ser quem ele é, uma pessoa querida mundialmente, uma pessoa capacitada naquilo que fez como jogador e depois como empresário, uma pessoa que tem uma determinação impressionante, passou por tantos problemas e conseguiu ser quem foi... [Ele] não teve tempo, com certeza ainda, de entender o que é a obrigação do COL nessa história toda na Copa do Mundo. Mas já que ele aceitou, o que eu posso dizer é que o COL hoje já tem outra cara. As pessoas hoje quando forem falar do COL não vào falar, dizer com aquela raiva ou com aquela vontade de querer prejudicar o presidente do COL porque o COL quem assume é o Ronaldo.

Folha/UOL: Mas aí nesse caso ele não está apenas, é uma interpretação que eu ouvi nesse setor, emprestando a imagem dele e há uma espécie de tentativa de blindar o COL com algumas pessoas que tinham credibilidade, trazem essa credibilidade para dentro, mas não necessariamente vão mudar a atuação lá dentro?
Romário:
A partir do momento que... Eu vou falar por mim: se eu assumisse o que ele assumiu, eu faria questão de ter total autonomia para resolver aquilo que estava mal resolvido atrás e passar a resolver aquilo que eu entendo, e o meu grupo, que tem que ser resolvido positivamente pro COL. Se ele entrou com esse objetivo apenas de blindar, emprestar imagem, esse papel não é bom para ele. Eu conheço bem o Ronaldo. Não bem assim de amigo. Mas as pessoas que convivem com ele. Eu tenho certeza de que ele tem e vai ter muita autonomia e, talvez, mais até do que as pessoas imaginam.

Folha/UOL: Há um outro aspecto também que já foi falado até na Câmara dos Deputados sobre o fato de ele [Ronaldo] ter muitos contratos com empresas que têm interesses comerciais num evento esportivo como a Copa do Mundo e agora está no Comitê Organizador. Não há um conflito de interesses?
Romário:
Há. Há um conflito 100% de interesses.

Folha/UOL: O que ele teria que fazer?
Romário:
Pelo que eu ouvi, eu não sei se vai acontecer, ele se desligaria de alguns determinados contratos que ele tem, que conflitariam com o COL. Segundo palavras de algumas pessoas.

Folha/UOL: Mas ele deve se desligar na sua opinião?
Romário:
Se existe esse conflito, deveria. Se desligar não significa sair. Se desligar apenas desse momento. Ele pode continuar tendo conhecimento do que acontece, mas simplesmente não fazer parte, vamos dizer, do quadro social, não ter mais que assinar alguma coisa, se dependia da assinatura dele. Porque realmente é uma coisa conflitante.

Folha/UOL: E publicidade? Ele pode continuar fazendo?
Romário:
Acredito que isso não interfira. Nenhum problema. Eu por exemplo, como deputado federal, faço minhas publicidades e não interfere em nada.

Folha/UOL: O sr., eu tenho visto aqui em Brasília, faz propaganda para uma concessionária de automóveis.
Romário:
Eu como deputado federal não poderia fazer publicidade para uma empresa como Petrobrás, Eletrobrás ou qualquer outro tipo de empresa que tenha concessão do governo federal a nível de televisão, rádio, essas coisas. Fora isso, eu antes de ser o deputado eu sempre fui... Hoje eu sou um ex-jogador de futebol e um ídolo. E eu tenho esse direito. Não só eu, qualquer um tem esse direito.

Folha/UOL: Lei Geral da Copa: caminha-se para ter uma Lei Geral da Copa que permita algum tipo de comercialização de bebidas alcóolicas em estádios que vão sediar jogos da Copa. Essa decisão é positiva ou negativa?
Romário:
Todas pessoas dizem que está no estatuto do torcedor essa lei, que é proibido. Não é assim que funciona. Existe um acordo do presidente da CBF com alguns promotores ou procuradores de que todas as competições que estiverem subordinadas à CBF, não serão vendidas bebidas alcóolicas nos estádios.

A Copa do Mundo, pelo que tenho visto, pelo que tenho lido, 70% das pessoas que verão a Copa nos estádios serão estrangeiros. Desses 70% de estrangeiros, com certeza 90% têm o costume de ir ao estádio e beber a sua cerveja e se comportar como um torcedor normal, sem problema nenhum. E, por isso, eu sou a favor da bebida alcóolica, cerveja, nos jogos, a partir do momento que tenha uma fiscalização forte e fiscalização essa que seja por obrigação da Fifa. Que qualquer coisa diferente ou negativa que aconteça com essas pessoas, independente que use, esteja usando álcool ou não, a Fifa se responsabilize. Coisa que a Fifa, dentro da Lei da Copa, ela tira essa responsabilidade. E a partir do momento em que você determine um tempo para venda dessa bebida. Vamos supor: o jogo começa às quatro horas, os portões se abrem a uma hora. Vamos dar um exemplo: de uma às três se vende bebida, de uma às três e meia. Meia hora antes do jogo, cessa bebida. No intervalo, volta a ter bebida. Começou o segundo tempo, acaba a venda da bebida.

Folha/UOL: Meia entrada: o sr. é a favor ou contra nos jogos da Copa?
Romário:
Totalmente a favor. E existe, foi feito relatório, lido ontem pelo deputado Vicente Cândido [do PT-SP], que vão ser colocados 300 mil ingressos para a meia entrada. Se dividiria [essa quantidade] entre idosos, estudantes, jovens, pessoas com deficiência e uma outra que eu não me lembro. Seriam vendidos a R$ 50.

Segundo ele [deputado Vicente Cândido] seriam 300 mil ingressos desse um milhão [de ingressos] que o brasileiro teria condições de comprar. Seriam destinados par ao brasileiro.

Só que esse valor se encaixa na chamada categoria quatro. Aí vem a categoria três, que é US$ 700 cada ingresso. E vem a categoria dois que é US$ 900 cada ingresso. Ou seja, eu pergunto ao sr. : será que o brasileiro tem condições de comprar um ingresso por US$ 700.

Folha/UOL: E o que se faria, então, a respeito disso?
Romário:
Emendas, na qual eu farei e tentarei mostrar no plenário que a população brasileira, definitivamente, que é a população que gosta de futebol, que sofre por futebol, que vai ao estádio... 80% que são das [classes] C, D e E não têm condição de pagar um ingresso a US$ 700.

Folha/UOL: Qual seria o valor adequado para a maioria dos ingressos distribuídos para a venda entre os brasileiros?
Romário:
Eu acredito, independente de meia entrada, tratando-se de Copa do Mundo: R$ 75 é um valor bem justo.

Folha/UOL: Para ingressos a venda para publico brasileiro?
Romário:
Brasileiro. Para arquibancadas, né? Setor onde tem o maior número de público, é a arquibancada.

Folha/UOL: O sr. acha viável aprovar esse tipo de proposta? A Fifa deve ser contra, né?
Romário:
Não. Não, não. Viável não vai ser, mas vou fazer meu papel [risos]. Eu tenho certeza que não vai, infelizmente.

Folha/UOL: O que o sr. acha que... Falamos de meia entrada, falamos de bebida alcóolica, falamos do COL, o sr. acha que tem algum outro aspecto que não está sendo  visto com a devida atenção, que está  errado na organização dessa Copa? Estádios, alguma coisa?
Romário:
Em relação às obras, elas estão todas atrasadas, todas erradas, algumas nem licitação foram feitas. É até a primeira vez que eu tenho a oportunidade de dizer. Segundo declarações, dependendo da Fifa, a Fifa sairia dessa Copa com lucro de US$3 [milhões] a US$4 milhões e o COL entre US$ 800 [mil] a  US$ 1,5 [milhão]. Eu vou propor que 10% desse lucro da Fifa seja destinado à educação do país, diretamente. E 10% desse lucro do COL seja destinado às pessoas com deficiência do nosso país.

Folha/UOL: O sr. acha que o Brasil estava precisando de tantos estádios novos como estão sendo construídos?
Romário:
Gastos desnecessários. O Brasil precisa de obras, em hospital público, em escola pública, em entidades como Apaes, Pestalozzi que estão precisando.

Folha/UOL: Mas por que fizeram tantos estádios?
Romário:
Desses 12 estádios posso te afirmar que seis terão vida própria. E os outros seis, se tiverem de quatro a cinco eventos durante o ano, serão muitos.

Folha/UOL: Quais são os seis que o sr. acha inúteis?
Romário:
Mato Grosso, Manaus, Brasília, Rio Grande do Norte... Tem outros dois. Fortaleza não, porque o futebol de Fortaleza, ele é... Ele tem capacidade para que as pessoas possam encher os estádios nos jogos.

Aqueles que vão ter vida própria com certeza: Maracanã, Itaquerão, Mineirão, Beira Rio, o estádio do Atlético Paranaense, que é...

Folha/UOL: Arena da Baixada.
Romário:
Arena da Baixada. E esse de Pernambuco. Os outros... a nível de futebol, sem vida.

Folha/UOL: Voltar um pouco para a política: quais políticos o sr. admira? O sr. admira algum político?
Romário:
Admiro alguns políticos. A Erundina eu admiro.

Folha/UOL: Algum que foi presidente da República ou que ocupou algum cargo alto na República?
Romário:
Sempre gostei muito da postura do Fernando Henrique Cardoso. Passei a ser um fã incondicional do Lula e com todos os defeitos e problemas e coisas negativas que o Brasil diz que tem até uma determinada razão eu respeito muito o Sarney. Por ele estar esses anos todos... E a pessoa não pode estar tantos anos no poder e só fazendo o mal.

Folha/UOL: Presidente Dilma: qual é sua avaliação sobra a gestão dela até agora?
Romário:
Muito boa.

Folha/UOL: O sr. teve algum contato direto já com ela?
Romário:
A única e primeira vez que eu tive a oportunidade e a honra de falar com ela foi no lançamento do plano em defesa das pessoas com deficiência. Deve ter sido há três semanas atrás.

E as atitudes que ela vem tendo com essas coisas de corrupção que nós temos ouvido e participado, principalmente, dos ministros, tem sido muito positiva.

Folha/UOL: Porque tem tantos casos de corrupção no governo da presidente Dilma, que a gente ficou sabendo e os ministros tiveram que sair?
Romário:
Na verdade esses casos não são da gestão Dilma, esses casos são de antes. Ela agora meio que está segurando esse peso. E ela está fazendo aquilo que tem que fazer: o que não é certo, a laranja podre, tem que tirar.

Folha/UOL: O sr. acha que ela foi rápida o suficiente com a saída dos ministros? Porque alguns falam: “ah! Ela demora um pouco, a pessoa vai ficando, imprensa vai publicando e demora um pouco”. O sr. acha que demora ou não demora?
Romário:
Eu na verdade acho que  essa atitude da Dilma é  uma atitude de uma mulher inteligente. Ela não se deixa levar pelo simples fato das notícias. Eu acredito que, pelas pessoas que  trabalham com ela, que são tão capazes, para ela tomar uma decisão de mandar ou não um ministro ou qualquer outra pessoa de qualquer cargo, exonerar essa pessoa, ela tem que ter certeza. E é isso que eu estou fazendo. E eu dou parabéns a ela.

Folha/UOL: Fernando Henrique, Lula e Dilma. Que nota o sr. daria para cada um desses três?
Romário:
Eu dou... À Dilma eu não posso dar ainda um 10 porque ela só tem... não tem nem um ano [de governo]. Então eu vou dar um nove. Aos outros dois eu daria 10.

Folha/UOL: Sem falhas os governos anteriores?
Romário:
Não, falhas todos têm. Mas no geral, na minha concepção, foram positivos.

Folha/UOL: O sr. acha que a seleção brasileira está sendo bem conduzida pelo técnico Mano Menezes?
Romário:
Muitas das convocações que o Mano fez durante esse período que ele assumiu, eu no lugar dele convocaria de 70% a 80% dos jogadores. Qual é o grande problema da seleção brasileira, já de alguns anos? Falta de tempo de treinamento. Muitos jogadores jogam aqui, outros jogam na Europa, em países totalmente diferentes, se encontram três, quatro dias para formar um time. Impossível se treinar um time em três, quatro dias. Até por vários motivos, principalmente por contusões ou porque o clube nunca libera. Nunca é o mesmo time. Eu não me lembro de ter jogado  a mesma seleção dois jogos seguidos, eu não me lembro, os 11. Então esse é um problema sério para nossa seleção.

Folha/UOL: Mas todas as seleções são assim, né?
Romário:
Nem todas. Algumas têm mais tempo de treinar. E algumas já têm aqueles jogadores, aqueles 15 que praticamente formam o grupo. Coisa essa que o Mano ainda não chegou a essa conclusão. Por quê? Nós temos aí a partir de janeiro do ano que vem, 2012, 2013, mais dois anos e meio, 2014. Acredito que a partir de janeiro [de 2012], acredito eu, o Mano, nessas convocações que ele fizer de 22 jogadores, eu se fosse ele, teria uma base de 15. Os outros seis, convocaria para ver o que poderia acontecer.

Folha/UOL: Já é possível hoje, final de 2011, dizer quatro ou cinco jogadores que com certeza serão titulares em 2014 da seleção?
Romário:
Julio Cesar, Thiago Silva, Neymar, Ganso e Lucas.

Folha/UOL: O sr. declarou, para ser candidato a deputado federal, como todos, um valor do seu patrimônio pessoal de R$ 883 mil, lá na Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro. Mas a sua imagem de atleta bem sucedido, pessoa que já, enfim, participou de várias atividades, era de um homem que fosse ainda mais próspero. O sr. perdeu dinheiro ao longo desses anos todos?
Romário:
Aí eu realmente, durante algum período, eu investi em algumas coisas que não deram certo. Antes desse meu patrimônio, eu tinha alguns imóveis que um ano antes eu vendi. Inclusive, se você for pegar meu patrimônio de dois anos atrás, o valor era um valor de até mais de dez vezes do que isso. Mas vendi para pagar algumas coisas, resolver alguns problemas.

Eu joguei, depois que voltei para o Brasil, de 1995 até 2006, vamos contar aí uns oito anos, em três clubes no Rio de Janeiro. O único que me pagou em dia foi o Fluminense. Mas com tudo isso, hoje me deve. O Flamengo tem uma dívida comigo de R$ 10 milhões. O Vasco tem uma dívida comigo de R$ 50 milhões.

Folha/UOL: Estão sendo cobradas na Justiça?
Romário:
Estão sendo cobradas na Justiça. E eu vivia com dinheiro que eu tinha e com as coisas que eu faço. Como eu participo de muito evento, sou convidado para muita coisa, eu participo disso. E muitas dessas coisas eu acabei vendendo. Teve uma cobertura minha que valia na época R$ 15 milhões foi a leilão. Inclusive foi à Justiça, tenho inclusive a possibilidade de rever isso. Então essas coisas aconteceram.

Mas com o que eu fiquei, eu posso dizer que continuo tranquilamente pagando as minhas dívidas. Pago as minhas pensões. Tenho uma casa em que vivo feliz. Dou um conforto aos meus seis filhos. À minha mãe, aos meus irmãos. Talvez a qualidade de vida de 10 anos atrás, não é a mesma. Mas eu não tenho nada a reclamar. Muitas coisas eu tenho certeza que vão acontecer de novo em relação a essas situações que acabei de falar.

Folha/UOL: O sr. mencionou pensão. O sr. paga quantas pensões?
Romário:
Quatro.

Folha/UOL: O sr. teve, parece, um problema em 2009. Isso está resolvido?
Romário:
Na verdade, tive dois problemas. Isso foi em 1997. Como é relacionado à pensão, as pessoas imaginam que eu não paguei a pensão. Mas não é isso. O problema é que, existia uma cláusula dentro do contato que a gente entendia que o valor do pagamento semestral daquelas meses era um. E a minha ex-mulher, advogada, entendia que era outro. Então a gente pagou aquilo que a gente entendeu. Não tem a ver com a pensão. A mensalidade da pensão foi paga. E tinha sido marcada uma audiência para a gente resolver. Nesse intervalo entrou um juiz de plantão que, por algum motivo, ele não quis ouvir o meu advogado, e ouviu a advogada da Mônica [que é a ex-mulher] e deu uma ordem de prisão. Fui para a delegacia, peguei o dinheiro, fui fazer o pagamento. E a juíza que atendeu o meu advogado simplesmente falou que o juiz que deu essa prisão fez um pedido para que eu, no mínimo, dormisse na cadeia, para aprender a honrar com meus compromissos. Foi exatamente isso que aconteceu. Tanto da primeira [vez], quando da segunda [vez].

Folha/UOL: E os problemas agora estão equacionados?
Romário:
Em relação a isso sem problemas, graças a Deus.

Folha/UOL: O sr. acha que é justo o salário que os deputados recebem atualmente, inclusive o sr.? O valor é justo? É alto, é baixo em relação ao padrão de vida do Brasil?
Romário: 
Em relação à população do Brasil, o salário que o deputado recebe, ele é muito em relação à população do Brasil. Em relação a mim, ao que já ganhei e teria condição de continuar ganhando, ele é praticamente nada. Mas não tenho nada a reclamar, vivo feliz com isso.

Folha/UOL: O sr. acha que não há o que fazer, não há o que reparar nessa forma como os deputados são remunerados hoje?
Romário:
Eu acho que a reclamação do brasileiro em relação ao salario do político é mais pelo que os políticos deixam de fazer ou pela corrupção, roubos, coisas negativas que os políticos fazem. Eu tenho certeza que as pessoas entendem da nossa responsabilidade. A gente está aqui para legislar. Para faze lei. Para fazer coisas que sejam positivas e interessantes para o Brasil. E um salario desse, se for com esse objetivo sem, me desculpe a expressão, as sacanagens existem, seria um salario justo. Mas, infelizmente, o povo tem razão em dizer que é muito.

Folha/UOL: O sr. se vê muitos anos ainda na política?
Romário: 
Não, não me vejo. Por isso que eu tenho um objetivo comigo de lutar com todas as minhas forças para eu fazer tudo aquilo que eu tenho que fazer até 2015, dia primeiro de fevereiro de 2015. Depois de lá vamos ver.

Folha/UOL: Deputado Romário, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Romário:
O prazer foi meu. Sempre é uma honra falar com um meio como esse, que é de grande credibilidade aqui no Brasil e no mundo.