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Começa julgamento de envolvidos em escândalo político que derrubou prefeitos em Campinas

Demétrio Vilagra (PT), vice-prefeito de Campinas, assumiu a prefeitura e também foi afastado - Érica Dezonne/AAN/AE
Demétrio Vilagra (PT), vice-prefeito de Campinas, assumiu a prefeitura e também foi afastado Imagem: Érica Dezonne/AAN/AE

Maurício Simionato

Do UOL, em Campinas

25/05/2012 17h10

Um ano após aquele que é considerado o maior escândalo de corrupção da história de Campinas (93 km de São Paulo), começou nesta sexta-feira (25) o julgamento do chamado “Caso Sanasa”, que coloca no banco dos réus a ex-primeira-dama da cidade, Rosely Nassim Jorge Santos, o prefeito cassado Demétrio Vilagra (PT) e dois ex-secretários do alto escalão da gestão do prefeito Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT), também cassado no ano passado.

Nesta primeira audiência os réus não falarão. Eles vão acompanhar as oitivas das testemunhas de acusação. As 34 testemunhas de defesa e os réus serão ouvidos em outras audiências. O responsável pelo julgamento e o juiz Nelson Augusto Bernardes, da 3ª Vara Criminal de Campinas.

Além da ex-primeira-dama e de Demétrio, são réus no processo o ex-secretário de Comunicação Francisco de Lagos, o ex-secretário de Segurança Pública Carlos Henrique Pinto, o ex-diretor da Sanasa e principal delator do esquema, Luiz de Aquino, e o ex-diretor de Controle Urbano da Prefeitura de Campinas Ricardo Cândia.

No total são 19 réus, mas o processo foi desmembrado, e nesta sexta-feira apenas o “núcleo político” da suposta quadrilha começou a ser julgado. Todos negaram envolvimento nas supostas fraudes.

Depoimentos

A primeira testemunha de acusação ouvida nesta sexta foi o analista do Gaeco (do Ministério Público) Henrique Subi. Ele confirmou que a ex-primeira-dama recebia propina no esquema de fraudes.

A testemunha declarou ainda que o Ministério Público investiga o patrimônio do sogro do ex-secretário de Segurança Pública, Carlos Henrique Pinto. De acordo com Subi, o sogro do ex-secretário foi "agraciado com mais de 40 prêmios da loteria”. Ele disse que este fato ainda está sendo investigado pela Promotoria.

Já a segunda testemunha de acusação foi o delegado corregedor da Polícia Civil de Campinas, Roveraldo Battaglini. Ele revelou que uma das testemunhas do processo, o empresário Ilário Bocaletto, disse a ele ter sido ameaçado de morte, por telefone, recentemente.

Battaglini detalhou como foi parte das investigações do caso e como foram feitas as escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.  A terceira testemunha foi o empresário Bocaletto, que pediu para o juiz para ser ouvido sem a presença dos réus. Ele relatou ao juiz que as aprovações de loteamentos e condomínios na cidade só ocorriam mediante o pagamento de propina aos integrantes da suposta organização criminosa.

No intervalo dos depoimentos, por volta das 15h, a ex-primeira-dama fez palavras cruzadas enquanto aguardava na sala do Júri a retomada dos trabalhos. 

Após o intervalo, a quarta testemunha de acusação ouvida foi o segurança Marcelo Wagner Teixeira. Ele disse trabalhava para os lobistas Emerson de Oliveira e Maurício Manduca, apontados pelo Ministério Público como interlocutores do esquema de fraudes.

O Caso

O Caso Sanasa teve início em maio do ano passado após uma ação do Ministério Público na cidade. As investigações começaram a partir das análises de contratos das empresas de José Carlos Cepera, também réu no caso.

A ação de 2011 resultou na prisão de diretores, secretários, empresários e lobistas ligados até então suspeitos de envolvimento na organização.

Durante as investigações, um computador com informações sobre o caso chegou a ser roubado de dentro da sede do Ministério Público. Até hoje, o roubo não foi esclarecido publicamente.

Também durante as apurações, um agente da Polícia Federal, que trabalhava nas escutas telefônicas, apareceu morto dentro do próprio carro em uma estrada de terra na periferia de Campinas. A Câmara Municipal então cassou Dr. Hélio, em agosto, e o seu sucessor, Demétrio Vilagra, em dezembro. Ambos recorreram contra a decisão dos vereadores.

Em razão das cassações, Campinas teve de realizar uma eleição indireta em abril para escolher o prefeito que governará a cidade no “mandato-tampão” até 31 de dezembro deste ano. O eleito foi o ex-presidente da Câmara, Pedro Serafim, do mesmo partido de Dr. Hélio, o PDT.