Topo

"É a palavra do perito: os áudios estão editados", diz Demóstenes em sua defesa

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

06/07/2012 09h53Atualizada em 06/07/2012 13h02

Logo no início da sessão sem votações no plenário do Senado, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO) voltou-se à tribuna na manhã desta sexta-feira (6) para dar detalhes das supostas fraudes encontradas pelo perito Joel Ribeiro Fernandes, que ele mesmo contratou para analisar trechos das gravações feitas pela Polícia Federal, às quais teve acesso.

“Foram apenas alguns trechos e todos eles têm indícios de fraudes”, resumiu o parlamentar para um plenário vazio, que teve apenas a presença do senador Aníbal Diniz (PT-AC) ao final do discurso. “Suprimiram 36 segundos de conversa, o que tira o sentido dos diálogos e que pode me tirar do Senado”, emendou.

Demóstenes solicitou uma nova perícia no material. “Pedimos essa providência ao Conselho de Ética, que negou. Tão ruim quanto isso, manteve os prazos estreitos no rito sumário exigido pela mídia. Ou seja, o conselho se recusou a resguardar-se de cometer uma injustiça e sufocou com seus prazos uma eventual saída”, acrescentou.

O senador chegou a ler partes do relatório feito pelo perito que contratou: "Não há, no material resultante das escutas telefônicas, uma prova científica que demonstre que o mesmo é autêntico e que está íntegro”. “É a palavra do perito: os áudios estão editados”, completou.

O parlamentar também disse que houve um período de quase três dias, entre os dias 4 e 7 de junho de 2011, quando o sistema de interceptação manteve a escuta de linhas telefônicas sem amparo legal.

Demóstenes voltou a afirmar que não recebeu os R$ 20 mil ou os R$ 3 mil referentes à conta de uso de um jatinho, conforme concluiu a polícia na análise das interceptações telefônicas entre o senador e integrantes do grupo de Cachoeira. 

Segundo depoimento dos delegados da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues e Raul Alexandre Marques, responsáveis pelas operações Vegas e Monte Carlo, um dos diálogos entre Gleyb Ferreira da Cruz, suposto tesoureiro da organização de Cachoeira, e o contraventor, Gleyb dizia que estava na frente da casa do senador “com os R$ 20 mil de Demóstenes”.

Já com relação aos R$ 3.000 utilizados para o pagamento de um aluguel de uma aeronave, o senador afirma que não voou em nenhum táxi aéreo pago por Cachoeira e desqualificou o diálogo gravado pela polícia, apontando que o perito identificou “uma diferença nítida entre o que estava na escuta e o que constou da degravação divulgada”.

“Não tem milhão, não tem mil, não tem nada a mais do que o salário que eu recebo aqui como senador e uma diferença por mês que, nós do Ministério Público e da Magistratura recebemos”, afirmou.

Com o plenário vazio, a sessão foi presidida pela senadora Ana Amélia (PP-RS) – que não pertence à Mesa Diretora da Casa. Nenhum parlamentar quis comentar o discurso do senador goiano. Depois da fala de Torres, o senador petista Aníbal Diniz pediu a palavra para pedir apoio aos clubes de futebol da Série C que passam por dificuldades por falta de patrocínio e ignorou o discurso anterior.

Pouco antes da saída de Diniz da tribuna, apenas os senadores Benedito de Lira (PP-AL) e o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL) chegaram ao plenário. A expectativa é que Demóstenes faça um novo discurso ainda hoje. 

Esta foi a quarta vez na semana que Demóstenes Torres sobe à tribuna do plenário do Senado para se defender. No discurso de ontem, o parlamentar argumentou que o processo que pode cassar seu mandato foi conduzido de forma apressada e inconsistente --desde a representação do PSOL, passando pela aprovação do relatório no Conselho de Ética, até a confirmação da legalidade na Comissão de Constituição e Justiça da Casa.

Entenda as suspeitas envolvendo Demóstenes Torres

Na quarta-feira (4), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou por unanimidade e encaminhou à Mesa Diretora o relatório do senador Pedro Taques (PDT-MT) pela cassação de Demóstenes.

Vários senadores, inclusive o relator da matéria no Conselho de Ética, Humberto Costa (PT-PE), consideram que só o fato de Demóstenes Torres, nas suas palavras, "haver mentido" em discurso no plenário, justifica a perda do mandato.

Os senadores se referem a discurso de Demóstenes Torres, pronunciado logo que apareceram as primeiras denúncias de envolvimento com o empresário goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, investigado como chefe de um esquema de corrupção e exploração de jogos ilegais. Nesse pronunciamento, o senador negou qualquer envolvimento com os negócios do empresário, ainda que admitisse ter recebido presentes de casamento de Cachoeira.