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Parlamentares da CPI do Cachoeira pedirão que Perillo seja reconvocado

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), depõe na CPI do Cachoeira, em Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), depõe na CPI do Cachoeira, em Brasília Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Do UOL, em São Paulo

15/07/2012 11h43

Integrantes da CPI do Cachoeira --que investiga a relação do bicheiro com políticos-- defenderam neste sábado (14) que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), seja reconvocado para explicar o "compromisso" firmado entre ele e a Delta Construções, com a intermediação de Carlinhos Cachoeira, assim que assumiu o cargo no ano passado. O acerto, cujo teor integra relatório da Polícia Federal revelado pela revista "Época", inclui a liberação de créditos milionários da empreiteira com o governo goiano mediante suposto pagamento de propina a Perillo.

O "compromisso" envolveria até a compra da casa do governador por Cachoeira, paga, segundo a PF, com recursos da Delta. À medida que o governador recebia as parcelas pela venda do imóvel, segundo a polícia, os créditos da Delta eram pagos. De acordo com a revista, a direção nacional da empreiteira tinha conhecimento das negociações. Em depoimento à CPI no mês passado, Perillo sempre negou ter relações com a Delta ou Cachoeira. Ele tem dito que a venda da casa, onde o contraventor foi preso no fim de fevereiro, foi legal. A reportagem não conseguiu contato telefônico com o advogado de Perillo.

"São gravíssimos os fatos, o que torna inevitável a reconvocação do governador Marconi Perillo. Os elementos mostram que o governador mentiu para a CPI", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que apresentará nesta segunda-feira (16) o pedido para reconvocar o governador e ter acesso ao relatório da PF. "Está demonstrado o elo entre Cachoeira, Delta e Marconi", disse o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

Para Miro, é preciso chamar Marconi para dar, pelo menos, o direito de ele se defender novamente. "Nós estamos diante da possibilidade de esclarecer que houve, de fato, duas transações: uma de propina e a outra da casa", afirmou o deputado do PDT. Randolfe defende que a CPI faça uma sessão extraordinária na próxima semana para tentar agendar o novo depoimento durante o recesso parlamentar. Miro, contudo, acredita que somente em agosto isso será possível.

Com base em interceptações telefônicas, a reportagem da revista aponta que Cachoeira se desfez da casa com o receio de perder negócios no governo caso fosse revelada sua relação com Perillo. A mulher do contraventor, Andressa Mendonça, não queria deixar o imóvel, no qual teria gasto mais de R$ 500 mil para mobiliá-lo e decorá-lo.

Segundo a PF, o imóvel foi repassado para o empresário Walter Santiago, que pagou R$ 2,1 milhões pela casa. Foram R$ 1,5 milhão para Cachoeira, R$ 100 mil para Lúcio Fiúza, então assessor de Perillo, e outros R$ 500 mil ao governador, levados por Fiúza.

Primeiro depoimento

No dia 12 de junho, Marconi Perillo (PSDB) depôs na CPI do Cachoeira por mais de oito horas. O principal tema das perguntas feitas ao tucano foi a venda da casa na qual o bicheiro Carlinhos Cachoeira foi preso em fevereiro deste ano --Perillo negou as acusações de negócio fraudulento. Embora o governador tenha sido pouco pressionado pelos parlamentares, o momento de maior exaltação aconteceu quando o relator da comissão, Odair Cunha (PT-MG), perguntou se Perillo estaria disposto a abrir seus sigilos bancário e telefônico.

Após o questionamento de Cunha, houve bate-boca com parlamentares aliados do governador, que defenderam que o pedido de quebra de sigilo só pode ser feito por meio de requerimento. O presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), interveio de maneira enérgica para restabelecer a ordem na comissão. Perillo, por sua vez, afirmou que não via justificativa. "Não vejo, sinceramente, motivos suficientes, justificativas plausíveis, fundamentação para que haja quebra de sigilo bancário e telefônico, mas essa decisão não me cabe, mas à comissão e ao Tribunal de Justiça." Porém, alguns dias depois voltou atrás e disse que não teria problema em abrir seu sigilo.

Sobre o tom ameno da CPI, o deputado Silvio Costa (PTB-PE) usou seu tempo para fazer uma crítica. "Estou envergonhado com o nível das pergunta feitas aqui nesta CPI. É um despreparo (...) O senhor [Marconi Perillo] sai maior desta CPI", disse.

Para David Fleischer, cientista político da UnB (Universidade de Brasília), Perillo silenciou diante dos principais questionamentos, e isso o prejudicou. “Ele teve muitas respostas evasivas. Tentou defender-se, mas ficou em uma situação mais complicada do que antes. Deixou muitas perguntas sem respostas”, disse.

Sobre a casa, o governador repetiu a versão que já havia dado: fez anúncio em jornal e vendeu o imóvel para o ex-vereador Wladimir Garcez. A compra, segundo ele, foi feita em três cheques (dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil, totalizando R$ 1,4 milhão), com os valores depositados em sua conta bancária e declarados no seu Imposto de Renda. Sobre as informações contraditórias a respeito da venda, Perillo disse que não sabia que Garcez tinha pedido dinheiro emprestado.

 

Perillo se mostrou indignado com a polêmica em torno da venda de um bem particular. “Não vendi qualquer bem do Estado, mas um imóvel de minha propriedade particular”. Ele fez questão de frisar que a versão é "única e verdadeira" ao mostrar aos integrantes da CPI os documentos referentes à escritura da casa, cópias do cheques e extratos de sua conta dos meses de março, abril e maio.

Marconi Perillo negou qualquer relação de proximidade com Cachoeira. "Em 30 mil horas de gravações de ligações telefônicas não houve nenhuma ligação do Carlos Cachoeira para mim, apenas uma ligação minha para cumprimentá-lo pelo seu aniversário”, disse. “Eu estava na casa de um amigo, em uma reunião social, quando algum dos presentes disse que era aniversário do sr. Carlos Cachoeira e me perguntou se eu aceitava lhe dar os parabéns, como é de meu costume. Eu não estava ligando para um contraventor, mas para um empresário que atuava no setor de medicamentos”, completou Perillo.

Ao admitir, porém, que seu nome consta em mais de 300 ligações entre o bicheiro e seus comparsas, o governador pediu que não fosse julgado ou “responsabilizado por diálogos de terceiros”. Durante todo o seu depoimento, Perillo não tratou Cachoeira como contraventor, mas como empresário do ramo de jogos e do setor farmacêutico. (Com reportagem de Camila Campanerut, em Brasília, e Agência Estado)