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Cachoeira deixa tribunal do DF sem falar e advogado chama denúncia de "especulação desvairada"

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

29/08/2012 14h57Atualizada em 29/08/2012 16h07

Sob forte esquema de segurança, o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, chegou para depor no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em Brasília, nesta quarta-feira (29) algemado e vestindo camisa branca e calças jeans. O interrogatório começou por volta das 14h50, mas o réu disse que usaria seu direito de permanecer calado e já deixou o prédio do tribunal sem responder às perguntas do juiz.

O bicheiro alegou ainda que está questionando a inépcia da acusação em instância superior e não quer falar antes do resultado desse julgamento. A defesa de Cachoeira pediu ao juiz um contato breve com os familiares com os familiares Julio Cezar de Almeida Ramos e Lana Cristina de Almeida Ramos, ambos irmãos - o juiz aceitou e pediu que a escolta viabilizasse, mas não autorizou contato físico. Assim, Cachoeira deixou a sala da audiência.

Segundo o seu advogado Antonio Nabor Areias Bulhões, Cachoeira se “manifestou genericamente” e afirmou que “todas as acusações são absolutamente improcedentes” e que vai aguardar o exame técnico das provas.

“A denúncia é uma especulação desvairada”, disse Bulhões na saída da audiência, que segue ouvindo outros réus no processo.

A audiência de instrução é relativa ao processo em que ele responde por formação de quadrilha e tráfico de influência no sistema de transporte coletivo do Distrito Federal. Ele é acusado de tentar articular um esquema fraudulento para conseguir operar o sistema de bilhetagem eletrônica do transporte público do Distrito Federal. Se tivesse dado certo, o contrato teria rendido R$ 60 milhões.

Cachoeira está preso há seis meses no presídio da Papuda, em Brasília, em decorrência da Operação Monte Carlos, que investigou o seu envolvimento com empresários e políticos.

Bulhões afirmou que um habeas corpus referente à Operação Monte Carlo começou a ser analisado ontem, mas o seu mérito ainda é julgado.

Sobre a prisão de três homens na semana passada acusados de operar casas de bingo no Distrito Federal, num esquema que seria comandado por Cachoeira, o advogado disse as acusações do envolvimento dele não passam de especulação da polícia.

Segundo o advogado, “não existe um dado objetivo, um elemento tênue que vincule Carlos Augusto a essa operação que existiu no âmbito do Distrito Federal”. “Carlos Augusto está preso e não pode ser responsabilizado por atos de outrem.”

“[A acusação] não passa de um rumor colocado na imprensa para se colher e transformar em publicidade opressiva e, com isso, minar a defesa e dificultar a vida do cidadão e, eventualmente, subtrair-lhe a oportunidade de recuperar a liberdade.”
 

Debate sobre algemas

Cachoeira chegou algemado e, logo no início da sessão, que começou por volta das 14h20, as algemas foram retiradas por determinação do juiz substituto Fernando Alves de Medeiros. A defesa do réu chegou a pedir para que ele não usasse mais algemas, o que foi negado pelo juiz.

O clima ficou tenso na sala de audiência e houve um bate-boca. O chefe da escolta afirmou que o uso de algemas é procedimento padrão. O advogado dele disse que é uma violência usar algemas no trânsito dele entre a prisão e o tribunal. Em seguida, o Ministério Público afirmou que as algemas são mantidas no translado porque réu desacatou um agente penitenciário. Na sala, há quatro agentes armados, dois na porta e dois atrás de Cachoeira. Segundo a assessoria do tribunal, Cachoeira teria desrespeitado um dos agentes, o que o advogado nega. “Não existe por parte dele qualquer ato que tenha colocado em risco a escolta”, disse Bulhões.

O advogado criticou ainda o uso de algemas: “O uso de algemas significa uma violação da incolumidade física e moral do preso e, portanto, só em circunstâncias excepcionais se admite a constrição física mediante o uso de algemas.”

“Não há nada mais covarde do que expor um cidadão preso à violação da sua integridade física e moral. Isso é lamentável.” 

A imprensa não tem acesso à área onde ocorrem os depoimentos, mas a assessoria de imprensa do TJDF tem divulgado as informações por meio de sua conta no Twitter.

Outros réus

O ex-diretor da construtora Delta, Cláudio Abreu, também réu neste processo, começou a ser interrogado após a saída de Cachoeira. Abreu também pede para usar o direito de permanecer calado, assinou termo e saiu da audiência.

Em seguida, está sendo ouvido o réu Heraldo Puccini,  representante da Delta no Sudeste, que afirmou que irá responder ao interrogatório.

Neste processo, Cachoeira responde por tráfico de influência e formação de quadrilha. Além dele, Abreu e Puccini, também são réus no processo Gleyb Ferreira da Cruz, auxiliar de Cachoeira; Valdir dos Reis, lobista encarregado de azeitar as relações com a secretaria de Transportes; Geovani Pereira da Silva, apontado como contador de Cachoeira (foragido); Dagmar Alves Duarte, apontado como lobista do esquema;  e o vereador Wesley Clayton da Silva (PMDB), de Anápolis (GO).

Em uma audiência realizada no dia 1º de agosto, em que Cachoeira também esteve presente, apenas Gleyb Ferreira da Cruz foi ouvido. A defesa dos demais réus pediu que nova audiência fosse marcada para aguardar os depoimentos de duas testemunhas de defesa, que serão feitos por carta precatória.