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"Lula provavelmente está perturbado por outras razões", diz FHC sobre declarações do ex-presidente

Rodrigo Teixeira

Do UOL, no Rio

19/12/2012 17h09Atualizada em 19/12/2012 18h15

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou nesta quarta-feira (19), após se reunir com empresários cariocas na Associação Comercial do Rio de Janeiro, no centro do Rio de Janeiro, que ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “está perturbado por outras razões”. A afirmação foi uma resposta à declaração de Lula feita hoje na posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP).

Lula disse que FHC teria torcido para que seu primeiro mandato fosse um fracasso, visando a possibilidade de, assim, voltar novamente a ser presidente. “Imagina se eu iria torcer para ele ganhar. Eu torci para o Serra ganhar. Eu tinha medo que ele fosse destruir tudo que eu fiz”, afirmou Fernando Henrique. “O presidente Lula provavelmente está perturbado por outras razões.”

Lula afirmou também que voltará a andar pelo país em 2013 e que não será derrotado por nenhum "vagabundo". "Só existe uma possibilidade de me derrotarem: trabalhar mais do que eu. Se ficar um vagabundo numa sala com ar condicionado falando mal de mim, vai perder", discursou o petista, sem dar nomes.

Ainda criticando o atual momento político do Brasil, FHC usou pela segunda vez a metáfora “o rei está nu". "E nós temos medo de dizer que o rei está nu”, completou Fernando Henrique. Em 2004, durante um seminário, ele havia usado a expressão para criticar abertamente o governo do presidente Lula e classificá-lo como "incompetente".

"Nós perdemos a batalha ideológica a partir de um certo momento, nós perdemos para o PT. E ficamos assustados. A qualquer grito do PT, isso paralisava a capacidade de dar sustentação ao nosso governo. As pessoas votavam a favor, mas não iam para a tribuna defender. Não todos, obviamente. Nós perdemos a batalha ideológica diante de um inimigo que era um tigre de papel. Nós ficamos com medo de um tigre de papel. Não podemos continuar com esse medo. É preciso dizer claramente o rei está nu, o rei está nu. Porque, se nós não dissermos isso, a população não vai entender", afirmou o ex-presidente à época.

Fernando Henrique, no entanto, disse que a citação desta quarta não se refere ao petista. "Há oito anos, eu me referi ao Lula. Naquela época, não agora. Agora é simbólico, metafórico, dizendo que as coisas estão erradas. As pessoas sabem e não dizem", afirmou.

O ex-presidente falou ainda sobre o julgamento do mensalão. Segundo ele, esse tipo de processo não deveria parar o país. “É positivo o que tem acontecido. Por outro lado, [é] preocupante. Se transforma em um fato insólito um julgamento que deveria ser rotina”, disse, em referência aos “peixes graúdos” da política nacional.

Royalties

O ex-presidente também comentou o projeto de mudança na distribuição dos royalties do petróleo. Para ele, parte da verba deve ser destinada para a educação. “Educação não se resolve só com dinheiro. Mas dinheiro é complicado. Eu, se pudesse, daria uma parte importante dos royalties para a educação”, disse.

Visita de tucano a Lula

FHC criticou ainda a visita de solidariedade do governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), feita a Lula na terça-feira (18). “Eu lamento, eu acho que nessa hora a gente tem que separar as coisas. O governador tem que ser grato, mas a solidariedade não é pelo o que ele fez por Alagoas”, disse.

Transparência

O tucano ainda afirmou que falta transparência e debate com a sociedade nas decisões do governo Dilma Rousseff. "A única discussão no Congresso foi a divisão de royalties que ainda nem existem. Os temas deixaram de ser públicos, estamos vivendo de novo como nos anos 1970, o governo decide e publica sem debate na sociedade", declarou.

"A sociedade está um tanto anestesiada, não está reagindo às medidas sendo tomadas, ainda quando boas", declarou. "Outra vez nós sentimos que o Brasil precisa de uma sacudida forte. Não pode continuar no marasmo", disse FHC após lembrar os feitos de seu governo na estabilização da economia com o Plano Real.

"O que não nos faltava naquele momento era audácia e o sentimento de que o que vale mesmo é o que fica para o país, muitas vezes temos que arriscar até mesmo nosso capital político", completou. FHC disse, no entanto, que Dilma tem boa vontade. "A presidente tem boa vontade, dizendo que vamos fazer 800 aeroportos, mas eu quero três. Há vontade de grandeza, mas o resultado não é positivo", disse. (Com Valor Econômico)