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Empossado em Curitiba, Fruet coloca "bomba-relógio" do transporte coletivo como prioridade

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

01/01/2013 18h41Atualizada em 01/01/2013 19h03

Ao tomar posse como prefeito de Curitiba nesta terça-feira (1º), Gustavo Fruet (PDT) disse que a prioridade dos primeiros dias de mandato será desarmar a “bomba-relógio do transporte coletivo”.

Em anúncio publicado na edição de domingo (30) do jornal “Gazeta do Povo”, o Setransp, sindicato que representa as empresas que operam o sistema de ônibus curitibano --que foi, até a década de 1990, considerado referência nacional--, afirma que o “transporte coletivo vive a maior crise de sua história”.

O texto afirma ainda que “as empresas [de ônibus] estão em situação financeira gravíssima e pedem socorro”. Reajustada pela última vez em março de 2012, a tarifa de ônibus em Curitiba custa R$ 2,60, mas, segundo as empresas, a “tarifa técnica” (custo de cada passageiro) é de R$ 3,10. Para agravar o problema, fevereiro é o mês da data-base dos motoristas e cobradores de ônibus.

"Vi o anúncio. No primeiro momento, [a prioridade] é o transporte coletivo, uma bomba-relógio”, disse Fruet a jornalistas antes de tomar posse, na Câmara Municipal, centro de Curitiba. “Temos a data-base em fevereiro, e a defasagem do custo técnico, que não pretendo repassar em 100% ao valor da tarifa.”

Para enfrentar o problema, Fruet escalou um grupo formado pelo novo presidente da Urbs --empresa da prefeitura que administra o transporte coletivo--, Roberto Gregório, e seu secretário de Trânsito, Joel Krüger, e pretende pedir auxílio ao Ministério Público.

“Vamos montar um processo para abrir e dar transparência às contas do sistema. Se for preciso, providenciaremos uma auditoria, mas isso é algo não se faz em 30 dias”, afirmou.

Além disso, Fruet irá “reafirmar solicitação” ao governador Beto Richa (PSDB) para que se renove convênio pelo qual o Estado fornece um subsídio que compensa, em parte, a defasagem entre a arrecadação tarifária e o custo real do sistema.

Tal subsídio é uma novidade no transporte curitibano. Foi criado, por Richa, em maio de 2012, após a prefeitura reajustar a tarifa de R$ 2,50 para R$ 2,60 --em vez dos R$ 2,80 determinados pelo custo técnico. O prefeito era Luciano Ducci (PSB), pupilo e sucessor de Richa no cargo.

Em outubro, Ducci concorreu à reeleição --e perdeu, já no primeiro turno. O convênio que criou o subsídio, que vale por 12 meses, vence no final de abril, e o governador já deu pistas de que poderá não renová-lo. Fruet e Richa, ex-aliados, já estiveram no mesmo partido, o PSDB, que o agora prefeito deixou alegando falta de espaço para concorrer ao cargo.

“O governador já foi prefeito, sabe que não é questão pessoal nem de disputa eleitoral”, apaziguou Fruet.

Apoio do PT e elogios ao STF

No discurso de posse na Câmara, Gustavo Fruet celebrou a alternância de poder e as condenações de políticos --entre eles, petistas-- pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão. “Que ninguém ignore as recentes decisões do STF”, falou.

Ao lado dele, no palco, estavam políticos do PT, como o presidente de Itaipu, Jorge Samek, amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o deputado federal Dr. Rosinha, subrrelator da CPI dos Correios, que desvendou o escândalo, Fruet chegou à prefeitura escudado pelo PT, num apoio costurado pelo casal de ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações). A vice-prefeita, Mírian Gonçalves, também é do partido.

Gleisi e Bernardo não estiveram na cerimônia de posse, mas acompanharam Fruet na transmissão do cargo, realizada após a posse, no Palácio 29 de Março, sede da prefeitura, no Centro Cívico.

Na solenidade de transmissão de posse, prometeu num prazo de 100 dias uma radiografia da situação da prefeitura. “Avaliaremos contratos, dívidas, gastos com pessoal e capacidade de endividamento”, afirmou.

Antes, recebera, do antecessor, o protocolar desejo de sucesso. “Eleição a gente ganha ou perde. Sou da turma do quanto melhor, melhor. Moro aqui com minha família. Quem não pode perder é a cidade”, disse Ducci.

Bicicleta e protestos

Conforme prometera, Fruet fez o percurso de pouco mais de 2 km entre a Câmara e e a prefeitura de bicicleta. Teve sorte, já que choveu forte em Curitiba durante boa parte da manhã e início da tarde, mas o tempo já era bom por volta das 17h15, quando ele deixou a sede do Legislativo municipal.

“É um simbolismo, para incentivar o uso de novos modais de transporte. Minha gestão irá priorizar os ônibus, o pedestre, a acessibilidade e implantação de novos modais”, justificou.

Ao chegar à Câmara, Fruet passou por um pequeno constrangimento. Um grupo de manifestantes do grupo Anônimos protestava, na escadaria do prédio, contra o nepotismo. O prefeito subiu as escadas ao lado da mulher, Marcia Fruet, que será presidente da Fundação de Ação Social (FAS). A irmã dele, Eleonora Fruet, foi nomeada secretária da Fazenda.