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No Recife, novo prefeito alega "urgência" e sanciona projetos de lei enviados antes mesmo da posse

Carlos Madeiro

Do UOL, no Recife

01/01/2013 18h56

Na posse como novo prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB) aproveitou a solenidade festiva para já anunciar, nesta terça-feira (1º), a sanção de três projetos de lei encaminhados pelo agora ex-prefeito João da Costa (PT), a pedido do socialista. A cerimônia começou com mais de uma hora de atraso por conta da eleição da nova mesa diretora do Legislativo.

Segundo Julio, a gestão "já começou" logo após a vitória no dia sete de outubro, com a definição da nova estrutura do Executivo e envio de matérias à casa parlamentar.

Em discurso na superlotada Câmara de Vereadores, Julio citou várias vezes que o "senso de urgência" foi percebido por sua equipe, que enxergou a necessidade de mudanças antes mesmo de tomar posse, evitando que as alterações acontecessem apenas no "segundo semestre."

“Selecionamos, de forma inédita, gestores para a atividade de monitorar as ações do programa de governo e ainda enviamos, através da gestão que se encerrou, três projetos de lei que vou sancionar e transformar em lei ainda no dia de hoje. Agradeço à Câmara pela aprovação das matérias, o que já demonstra o interesse de nossos parlamentares em participar do processo de transformação da cidade”, afirmou, citando que as aprovações abriram “uma nova relação entre o Executivo e o Legislativo.”

Os três projetos tratam da lei das PPPs (Parceria Público-Privada), a extinção de 632 cargos comissionados e a reforma administrativa --que extinguiu duas das 24 secretarias municipais. Todas as medidas devem ser publicadas no Diário Oficial desta quarta-feira (2), quando terão validade prática.

Apesar de anunciar a economia de R$ 1 milhão com a extinção dos cargos comissionados, a oposição da Câmara (que se resume a apenas quatro dos 39 vereadores) afirmou que a medida é "populista" e não haverá economia aos cofres públicos do Recife.

“Ele diz que vai economizar R$ 1 milhão, mas em outra lei, da criação da carreira de auditor, ele cria 300 cargos, com 195 de contratação imediata. Esses cargos vão custar R$ 1,6 milhão ao mês. Ou seja, ele enxugou apenas 0,02% do orçamento para 2013, e ao mesmo tempo criou uma despesa maior”, afirmou o vereador Raul Jungmann (PPS).

Mais ações

Outra medida anunciada por Julio é a carreira de gestor público municipal. “São servidores concursados e que serão remunerados com base no desempenho. Quem fizer mais pelo povo com seu trabalho será remunerado por isso”, explicou.

Geraldo Julio também fez questão de apagar qualquer rancor com os duros ataques que sofreu durante a campanha eleitoral. “Como disse na campanha, não acredito que ninguém faça nada sozinho. Prefiro juntar forças. Acredito muito na unidade. Foi assim na transição, quando ampliamos as bases de apoio no campo político e principalmente na sociedade”, disse.

Com a afirmação, Julio põe um ponto final nas rusgas com os petistas. Apesar da disputa intensa e com trocas de acusações na campanha, o PT --que lançou o nome de Humberto Costa na disputa de outubro-- anunciou que vai integrar a base de apoio de Geraldo Julio no governo. Apenas DEM, PPS e PSDB vão integrar a oposição municipal.

Protesto

Antes da posse, manifestantes levaram cartazes para criticar a indicação do nome de Valmar Correa de Andrade para a Secretaria de Educação. “Já começou mal o prefeito, ao indicar um ficha-suja, que teve contas reprovadas. Isso é absurdo. Vamos fazer muito barulho para pedir transparência no governo”, disse o manifestante Aurélio Ribeiro.

Ex-reitor da Ufrpe (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Andrade teve problemas com contas rejeitadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União) em 2002, quando exercia o cargo de vice-reitor. Em nota, Andrade negou ser ficha-suja e garantiu que a decisão “não aponta qualquer desvio de recurso”, mas sim, tratou apenas de uma "transferência de atividades", o que não gera inelegibilidade.

"Ano decisivo"

O presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, afirmou que o ano de 2013 será decisivo para o país. Em uma rápida entrevista na chegada à Câmara de Vereadores do Recife, onde participou da posse de Geraldo Julio, Campos evitou responder perguntas sobre política nacional.

“Precisamos vencer todos os desafios. 2013 será um ano decisivo para o país e espero que a vida do recifense possa melhorar. A capital precisa participar de forma mais ativa no desenvolvimento de Pernambuco”, disse.

Em seu discurso de posse, Geraldo Julio não esqueceu de agradecer a seu padrinho político. "Sei, governador, que um lugar de destaque lhe espera no futuro político deste país", insinuando, mais uma vez, uma possível candidatura à presidência da República.