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Favorito à presidência da Câmara, Henrique Alves diz que denúncias são "jogo pré-eleitoral"

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

21/01/2013 06h00

Parlamentar mais antigo em número de mandatos na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) é o favorito na disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados para os anos de 2013 e 2014. Até pelo favoritismo, tem sido alvo de várias denúncias de irregularidades na imprensa, às quais ele atribui ao "jogo pré-eleitoral". 

O peemedebista conta com o apoio declarado de, pelo menos, 12 partidos (PMDB, PT, PP, PSD, PCdoB, PDT, PR, PSC, PRB, PSDB, DEM e PPS), reunindo legendas da oposição e da base governistas. Seus apoiadores juntos ultrapassam o número de 380 deputados – número que ele chegou a calcular que poderia contar – bem maior que os 257 necessários para vencer em primeiro turno.

Procurado pela reportagem do UOL na última semana, Alves não respondeu aos pedidos de entrevista.

Henrique Eduardo Alves irá concorrer com a atual vice-presidente da Câmara, sua correligionária Rose de Freitas (ES), Ronaldo Fonseca (PR-DF) e Júlio Delgado (PSB-MG).

A indicação de Alves para a presidência é parte de um acordo selado entre o PT e o PMDB – maior partido da base governista – logo após as eleições de 2010. O acerto incluía que Renan Calheiros (PMDB-AL) substituiria José Sarney (PMDB-AP) no Senado; e Alves seria o substituto do petista Marco Maia (RS) à frente da Câmara dos Deputados no biênio 2013-2014.

Apesar do “confortável” apoio dos partidos, Alves tem feito uma campanha intensa, que incluiu viagens a mais de 10 capitais, com direito a reuniões com os respectivos governadores e as bancadas estaduais para tentar confirmar a ajuda e se vencer as denúncias de supostas irregularidades envolvendo pessoas próximas a ele.

Henrique Eduardo Lyra Alves

Data de nascimento9 de dezembro de 1948
NaturalidadeRio de Janeiro (RJ)
Eleito por qual EstadoRN
Histórico profissionalBacharel em Direito
FiliaçõesFiliado ao PMDB desde 1982, com passagens pelo PP (1980-1982) e pelo extinto MDB (1971-1979)

Bode e assessor

Reportagens da “Folha de S.Paulo” apontaram que líder pemedebista beneficiou a empresa de seu ex-assessor na Câmara, Aluizio Dutra de Almeida, que também é tesoureiro do PMDB no Rio Grande do Norte por meio de emendas parlamentares.

Almeida era assessor do deputado desde 1998 e pediu demissão após a denúncia. A empresa dele, Bonacci Engenharia e Comércio Ltda., segundo o jornal, recebeu pelo menos R$ 1,2 milhão do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), órgão federal cujo comando era indicado por Alves. A Bonacci, ainda de acordo com a “Folha”, fica em bairro de classe média baixa em Natal, não tem funcionário em sua sede e é vigiada por um bode.

Outra reportagem, da revista “Veja” de 16 de janeiro, mostra que Alves contratou uma empresa de aluguel de veículos com registro em nome de um laranja. Para responder à questão, o deputado primeiro que usava carro próprio, depois falou que o veículo era alugado, mas não lembrava do modelo. Por fim, um assessor de gabinete dele disse que o contrato foi feito a pedido do próprio deputado, que “talvez não se lembre”.

Em resposta às denúncias, Alves afirmou que elas não prejudicaram sua campanha “de jeito nenhum” e que já foram esclarecidas. O parlamentar argumentou que o papel dele era apenas de liberar emendas de interesse do Estado dele, e que a fiscalização do uso delas caberia às prefeituras e aos órgãos federais.

Ainda em sua defesa, Alves divulgou um documento no qual destacou como prioridades a reforma política, a melhor harmonia entre os Poderes, e a necessidade de reestruturação de gabinetes e no quadro de assessores e na ampliação no aparato tecnológico com a utilização de tablets, smartphones para auxiliar nas atividades parlamentares.

“Minha candidatura à presidência da Câmara se ampara em minha história política e na premissa de resgatar a grandeza que tem dignificado a trajetória de nossa Casa!”, disse no documento.

Denúncias antigas

Em 2002, Alves já havia tido uma indicação prejudicada por denúncias. Possível aspirante a vice na chapa de José Serra (PSDB) na campanha à Presidência da República, o nome dele foi descartado depois que sua ex-mulher Mônica Infante de Azambuja, em busca de uma pensão alimentícia maior durante o período de negociação do divórcio, denunciou à imprensa que Alves mantinha US$ 15 milhões em contas bancárias não declaradas no exterior e que o marido usava laranjas para encobrir o patrimônio. 

A então deputada federal Rita Camata (PMDB-ES) foi escolhida como vice de Serra, que acabou derrotado no pleito daquele ano por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em 2007, outro fato causou desconforto. Alves teve de se explicar por que gastou R$ 25 mil com a divulgação de suas atividades no jornal “Tribuna do Norte”, de propriedade dele e de sua família no Rio Grande do Norte. A justificativa foi a de que o jornal passou a cobrar o que fazia de graça para “propagandear” um de seus proprietários.

Alves vem de uma família de políticos e donos de um conglomerado de mídia, que inclui rádios, TVs e jornal. Entre eles estão o pai, Aluízio Alves, que foi deputado, ministro dos governos José Sarney e Itamar Franco e governador do Rio Grande do Norte; o primo, Garibaldi Alves Filho (atual ministro da Previdência do governo Dilma), que se licenciou do Senado, onde o tio Garibaldi Alves assumiu como primeiro suplente; outro primo, Carlos Eduardo Alves, foi eleito prefeito de Natal no último pleito e ocupa o cargo pela terceira vez.

Acostumado com campanhas, o deputado apontou que as novas denúncias contra ele fariam parte do “jogo pré-eleitoral” para diminuir o seu potencial como candidato.

“Se eu for relacionar a quantidade de emendas, de convênios que eu destinei ao meu Estado e ao meu município nos últimos dez anos, beira as mil. De repente, sou acusado de [irregularidades em] três emendas ali ou lá. É um negócio difícil de entender, mas, como democrata, tenho que aceitar”, disse em entrevista no último dia 15.