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Comandado por Lula, PT monta "operação" para convencer Campos a apoiar Dilma em 2014

Carlos Madeiro*

Do UOL, em Fortaleza

02/03/2013 06h00

Diante de uma possibilidade cada vez mais real do PSB romper a aliança e anunciar o nome do governador de Pernambuco Eduardo Campos na sucessão da presidente Dilma Rousseff, o PT montou uma "operação política" para tentar reverter a ideia do socialista --que, nos bastidores, parece cada vez mais concreta.

"Manter as alianças é nossa prioridade política, e o PSB é uma dessas alianças", disse, nessa sexta-feira (1), o presidente nacional do PT, Rui Falcão, que coordenou reunião do diretório nacional do partido em Fortaleza.

Para tentar afagar o PSB, o PT montou uma agenda intensa em locais governados por socialistas. Na quinta-feira (28), o partido escolheu o Ceará para realizar o primeiro seminário sobre os 10 anos do governo petista. O Estado é governado por Cid Gomes, uma das poucas vozes socialistas a não acatar a ideia de candidatura própria do PSB em 2014.

Coincidência ou não, a presidente Dilma Rousseff também teve agenda política no Nordeste em 2013, contemplando justamente Estados governados por socialistas. No último dia 18 de janeiro, Dilma visitou o Piauí, governado por Wilson Martins (PSB).

Na segunda-feira (4), a presidente vai até a Paraíba, também governado por outro socialista, Ricardo Coutinho. O maior foco no Nordeste pode ser explicado, já que, dos seis governadores socialistas, quatro estão na região. Os socialistas também derrotaram petistas nas eleições para Recife e Fortaleza, em 2012.

Lula e ofensiva

O PT também não ficou atrás e, institucionalmente, deixou público que não vai medir esforços para que o PSB desista da ideia. O nome para convencer o governador pernambucano é o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amigo de Campos.

Em Fortaleza, nesta sexta-feira (1), Lula disse que vai procurar o governador pernambucano para uma conversa nos próximos dias. Em palestra para integrantes de diretórios nacional e estaduais, ele deu a diretriz para que os petistas tenham "tolerância" e "paciência" nas articulações.

"Dois mil e treze será um ano complicado de alianças. Nós não queremos romper com ninguém. O que nós queremos é fortalecer", afirmou Lula, diante das principais lideranças do partido.

Um pouco mais tarde, em entrevista coletiva, o presidente deu outra prova de que manter a aliança com o PSB é uma das prioridades da pauta petista. "Todo sabe que sou muito amigo do Eduardo, do Cid [Gomes]. O meu papel é tentar fazer todo o esforço para que a gente fique junto. Eu não conversei com Eduardo esse ano, teve a questão das férias. Mas agora vou voltar a conversar. Eu acho que nós temos que construir uma aliança muito forte", afirmou.

No PT, o discurso de manter a união na base aliada para 2014 é uníssono. Diplomático, o senador Eduardo Suplicy (SP) propõe que os dois partidos realizem uma prévia, junto com os demais partidos da base aliada.

"Eu sou a favor da realização de prévias. Inclusive tenho um projeto no Senado em que todos os partidos devem realizar prévias quando não houver consenso. Se o PT e PSB resolverem se coligar e quiserem realizar uma prévia, acho legítimo. Mas eu tenho convicção que a presidente Dilma vence", afirmou.

O líder do governo no Senado, José Pimentel (CE), disse que vê com naturalidade as especulações de nomes, e diz que elas fazem parte da política.

"Se voltarmos a 2002, lembraremos que o PSB teve candidato à presidência, e no segundo turno tivemos a aliança. Em 2010, o ex-deputado Ciro Gomes seria candidato, e só na convenção daquele partido é que foi decidido que apoiaria a candidatura de Dilma. Portanto [o PSB] é um partido que tem a legitimidade e nós [do PT] temos larga experiência com essas postulações", afirmou.

Gomes quer PSB apoiando Dilma

Voz dissonante no PSB, o governador do Ceará, Cid Gomes, tem sido o líder do coro socialista para manter PT e PSB unidos em 2014. Para ele, a solução poderia ser uma chapa encabeçada pelos dois partidos, excluindo-se o PMDB da aliança.

"O projeto do PSB é, algum dia, ter uma candidatura à presidência. Mas no momento acho o mais recomendável ao PSB manter a aliança, apoiar Dilma, e lutar para que a gente componha a chapa dela, como vice. É isso que defendo, com a inclusão do nome que mais se destaca no partido, que é o de Eduardo",  disse na quinta-feira (28), ao participar de um seminário de comemoração aos 10 anos do PT na presidência.

No mesmo dia em que Cid foi ao encontro do PT, lideranças socialistas, entre elas os governadores do Piauí, Wilson Martins, e do Espírito Santo, Renato Casagrande, discutiram o momento político do partido, no Recife, e definiram, ao lado de Eduardo Campos, que não vão deixar os cargos no governo federal, como foi especulado.

Questionado porque não foi ao encontro, Cid Gomes foi claro: "Não fui convidado". Apesar disso, ele negou que exista qualquer clima pesado entre os dois socialistas. "Conversei longamente com o Eduardo ontem [quinta-feira] e na segunda [26]. Não existe qualquer problema", disse.

Campos endurece discurso

Do outro lado da disputa, Eduardo Campos aumentou o tom das críticas quanto aos petistas por conta da "montagem antecipada" de palanque. Apesar de sempre insistir que 2013 é o ano de "união pelo Brasil", o governador pernambucano deixa cada vez mais claro seu projeto nacional.

Na sexta-feira, no Recife, uma semana após dizer que o país não precisava de "rinhas" políticas, ao citar o embate entre PT e PSDB, o governador pernambucano voltou a criticar a montagem antecipada de palanques eleitorais, a mais de um ano e meio das eleições.

"Nunca vi quem está no governo, sobretudo quem está no governo numa situação de dificuldade, antecipar calendário eleitoral. Nunca vi isso dar certo", disse, citando que o PSB não vai "atropelar ninguém", mas também não será "atropelado."

Ao mesmo tempo, Campos também deixou o seu recado aos petistas. "Nosso jogo é um jogo muito claro. Disse a vocês que o PSB vai estar em 2014. Vai estar em 2014 cumprindo um papel de acordo com sua história, com sua política de crescimento, com sua responsabilidade com o Brasil", completou Campos.

*Com informações da Folha de S.Paulo