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PMs que vão a júri por morte de PC foram promovidos e têm a confiança da família Farias

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

05/05/2013 06h00

Os seguranças acusados de participação na morte do empresário Paulo César Farias e da sua namorada, Suzana Marcolino, em junho de 1996, foram promovidos e continuam nos quadros da Polícia Militar (PM) de Alagoas. Além da corporação, a família Farias também confia na inocência dos militares, que seguem atuando particularmente para irmão e filha da vítima.

Dezessete anos após as mortes, os quatro vão a júri popular a partir dessa segunda-feira, acusados de omissão dolosa no suposto duplo homicídio. Os militares negam a acusação e afirmam que Suzana foi quem matou PC e depois se matou. Já o MPE (Ministério Público Estadual) afirma que eles não contribuíram com as investigações e, por isso, têm responsabilidade direta nas mortes.

Segundo o comando da PM, dois dos policiais continuam exercendo as atividades normalmente, um se aposentou e outro deu entrada ao pedido de aposentadoria em dezembro de 2012, após 30 anos de serviço. Os dois afastados, porém, seguem na reserva da corporação.

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A PM informou que os sargentos Josemar Faustino dos Santos e Reinaldo Correia de Lima Filho continuam cumprindo expediente normalmente em seus respectivos batalhões e não há relatos de queixas contra eles. O sargento José Geraldo da Silva já está aposentado, enquanto o cabo Adeildo Costa dos Santos deu entrada no pedido de aposentadoria, com solicitação de progressão para sargento.

A PM informou ainda ao UOL que uma sindicância foi aberta, à época da acusação, para apurar a conduta dos policiais, mas ficou definido que seria esperado o resultado do júri popular, que começa nessa segunda-feira.

A conclusão dos trabalhos será feita logo após o término do julgamento. Caso sejam absolvidos, o processo deverá ser arquivado. Já em caso de condenação, os militares estarão sujeitos a penas previstas no regimento interno, com possibilidade de expulsão. Para a PM, não haveria sentido em punir administrativamente os militares, sem uma condenação judicial.

PMs ainda trabalham para os Farias

Integrantes da família Farias afirmam não acreditar na versão do MPE, de duplo homicídio, e devem ratificar, em juízo, a versão de que Suzana tinha problemas de relacionamento com PC Farias e de que ela seria a assassina.

Segundo o advogado dos acusados, José Fragoso, dois dos militares continuam prestando serviço à família: Geraldo atua com Ingrid Farias, filha de PC, e Reinaldo é funcionário do ex-deputado Augusto Farias, irmão do ex-tesoureiro. Nenhum deles atuaria mais como segurança, mas seguiriam prestando serviços aos familiares.

"A família não tem nenhuma dúvida de que Paulo César foi assassinado por Suzana. Inclusive uma das testemunhas de defesa é Ingrid, que vai lá prestar seu depoimento e dizer tudo que sabe. PC disse a ela, dois dias antes da morte, que iria romper com Suzana [o que, para a defesa, seria a motivação do crime]”, disse.

O advogado afirma que todos os quatro militares nunca responderam a outros processos, foram promovidos e atuam na PM sem nenhuma queixa de seus superiores. "Eles eram, à época, dois cabos e dois soldados. Todos hoje são sargentos, com ficha-limpa, pessoas bem vistas, sem história de crime”, disse.

Os militares eram contratados por PC Farias, que não tinha direito a segurança do Estado e se sentia ameaçado. "Eram pessoas de confiança de PC que atuavam nas horas vagas da PM", informou o advogado.

Fragoso disse ainda que acompanha os militares a pedido de seu outro cliente, o ex-deputado Augusto Farias. "Ele me pediu para que acompanhasse os depoimentos na época. Eu conheço o Augusto há mais de 25 anos, então tenho convicção de que ele não faria qualquer coisa desse tipo, e as dúvidas, à época, recaíam todas em cima dele. Só que nunca imaginei que iam acusar essas pessoas, aí eu próprio resolvi fazer a defesa deles, e faço sem receber qualquer valor”, afirmou.

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