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Vereadores evangélicos abandonam sessão em Curitiba por causa de grupo gay

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

21/05/2013 19h17

Vereadores evangélicos abandonaram o plenário da Câmara de Curitiba após o presidente interromper a discussão de um projeto de lei que concederia cidadania honorária a um pastor para abrir espaço para a palavra de convidados do Grupo Dignidade, que defende direitos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).

O caso ocorreu segunda-feira (20). Logo após o início da sessão, às 9h, foi colocado em votação projeto de lei da vereadora Noemia Rocha (PMDB), que propunha entregar ao pastor Marcelo Bigardi, líder local da Bola de Neve Church, o título honorário. A Câmara de Curitiba tem 38 parlamentares --13 são evangélicos.

Em defesa do projeto, Noemia falou por 20 minutos. Outros três vereadores evangélicos pediram a palavra, em seguida –-o que não é usual na discussão de projetos dessa natureza, que habitualmente são aprovados a toque de caixa, sem discussão alguma.

Após a votação, a pauta previa a cessão da palavra a especialistas em direitos humanos levados à Câmara pelo Grupo Dignidade, a pedido da vereadora Josete Dubiaski da Silva (PT), mais conhecida como Professora Josete. Às 10h30, como o debate sobre o título de cidadania honorária ainda não terminara, o presidente da Casa, Paulo Salamuni (PV), suspendeu a sessão e passou a palavra aos convidados.

“A saída não foi anunciada. Eles [os vereadores evangélicos] simplesmente se levantaram ao mesmo tempo e saíram, sem falar nada. Mas algumas emissoras de rádio estavam ao vivo, exatamente naquele momento, e relataram o fato. Como os parlamentares viram que a coisa pegou mal, voltaram ao plenário em seguida, dizendo que a decisão do presidente fora arbitrária e antidemocrática”, disse um funcionário da Câmara, que acompanhou a cena e pediu para não ser identificado.

Apenas dois integrantes da bancada evangélica – Cacá Pereira (PSDC) e Carla Pimentel (PSC) – acompanharam integralmente a explanação dos especialistas levados à casa pelo Grupo Dignidade, que falaram sobre o combate à homofobia.

“Foi imaturidade política. Temos que entender que essa casa é republicana, democrática e laica”, disse Salamuni, ao UOL. “Um título de cidadania honorária normalmente é aprovado instantaneamente. Gastar uma hora falando dele demonstrou clara intenção de protelar, usando o regimento [que permite que cada vereador tenha a palavra por até 30 minutos, limite que dificilmente é usado na íntegra] como escudo.”

Para ele, o comportamento dos parlamentares evangélicos foi “uma medida regimental protelatória para que se fosse esgotando o tempo para o grupo Dignidade”.

“Achei uma certa indelicadeza”, disse Toni Reis, ativista da causa LGBT e integrante do Dignidade. “Nem é intolerância, é indelicadeza mesmo.”

“Quando a sessão é suspensa, é habitual sairmos do plenário. E não foram só os evangélicos. Vereadores católicos também saíram. Mas não houve protesto algum”, falou Noemia.

Após a exposição dos convidados do Grupo Dignidade, a sessão foi retomada, e o projeto de cidadania curitibana a Marcelo Bigardi – que é mineiro, mas está na cidade desde 1996, e segundo Noemia Rocha mantém projeto social “que leva dependentes químicos para o esporte, e assim os recupera” – foi aprovado por unanimidade.