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Família de desaparecido político lança campanha por informações sobre corpo

Juliana Dal Piva

Do UOL, no Rio

10/10/2013 14h07Atualizada em 10/10/2013 19h33

No dia em que se completam 40 anos do desaparecimento do ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) Honestino Guimarães, sua família anunciou o lançamento da campanha "Trilhas de Honestino". Ele é um dos 144 guerrilheiros desaparecidos durante o regime militar.  O objetivo é recolher novos testemunhos e informações sobre o destino do ex-militante do Ação Popular Marxista-Lenista que foi preso em outubro de 1973 no Rio e nunca mais foi visto.

O projeto foi anunciado em um dos "Testemunhos da Verdade" organizados pela CEV-Rio (Comissão Estadual da Verdade do Rio) nesta quinta-feira (10) no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ.

"Eu tinha apenas três anos. Quem dera eu tivesse na memória o rosto dele quando dava uma gargalhada ou o som da sua voz me contando alguma coisa. Ao invés disso tenho umas poucas fotos e muitas histórias contadas enquanto eu crescia e a mesma miopia profunda que ele tinha", disse sua filha Juliana Guimarães.

Honestino era estudante de Geologia na Universidade de Brasília e a família acredita que ele tenha sido preso por agentes do Cenimar (Centro de Informações da Marinha). Os órgãos nunca assumiram sua prisão.

"Eu acuso o Cenimar pela prisão do meu amigo Honestino. Eu acuso os militares e a ditadura militar, para que os crimes não fiquem impunes", afirmou Agostinho Guerreiro, ex- companheiro de militância e atual presidente do Crea do Rio, durante o seu depoimento.

"É como cidadã brasileira e filha que peço respostas que mesmo depois de 40 anos não me foram dadas: o que aconteceu com meu pai? Quem o matou? Onde está seu corpo?", reclamou Juliana. A campanha "Trilhas de Honestino" terá organizadores no Rio e em Brasília e vai se concentrar especialmente em conseguir colaborações via redes sociais.

Em setembro deste ano a família obteve a anistia política póstuma do estudante. A Comissão de Anistia recomendou que a certidão de óbito conseguida na justiça após a Lei de Mortos e Desaparecidos seja modificada. A recomendação pede que no lugar da causa morte conste "atos violentos cometidos pelo Estado" e o termo morto seja substituído por desaparecido. A CEV-Rio investiga o caso.

"Os documentos mostram que ele era uma pessoa muito vigiada. Ele viveu uma das clandestinidades mais longas da ditadura militar [de dezembro de 1968 a outubro de 1973]", afirmou Alvaro Caldas, um dos membros da CEV.