Em 25 anos na Câmara, Genoino foi deputado constituinte e liderou PT no impeachment de Collor
O agora ex-deputado federal José Genoino (PT-SP), que renunciou ao mandato para escapar de uma possível cassação, deixa a Câmara dos Deputados após 25 anos de atividade parlamentar. Enquanto esteve no Congresso, Genoino ocupou papel proeminente. Atuou, por exemplo, como deputado constituinte e liderou o PT no processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992.
Genoino foi eleito pela primeira vez para a Câmara em 1983, quatro anos depois de ser anistiado pelos militares. O petista permaneceu na Casa por 20 anos ininterruptos, ao eleger-se em cinco pleitos consecutivos, sempre por São Paulo. Seu irmão José Guimarães (CE) é o atual líder do PT na Câmara.
No ano de 1987, foi eleito deputado constituinte, participando ativamente do processo que resultou na promulgação da Constituição de 1988.
Em 1992, ganhou destaque ao liderar o PT no processo de impeachment do então presidente Collor, ao lado de José Dirceu, também deputado pelo PT à época. Antes, foi responsável por unificar o PT em torno da tática segundo a qual o partido deveria, em prol da estabilidade democrática, bancar a posse do vice-presidente Itamar Franco, conforme previsto na Constituição, em vez de defender a realização de novas eleições.
Cronologia da prisão de Genoino
15.nov.2013 | Genoino se entrega à Polícia Federal em São Paulo Leia mais |
16.nov.2013 | Genoino é transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília Leia mais |
17.nov.2013 | Segundo relatos de familiares, ele passou mal na prisão Leia mais |
19.nov.2013 | Laudo do IML afirma que Genoino é "paciente com doença grave" Leia mais |
21.nov.2013 | Genoino passa mal e é levado para o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal. No mesmo dia, Joaquim Barbosa determina a realização de perícia médica no deputado Leia mais |
23.nov.2013 | Junta médica indicada pelo STF analisa Genoino Leia mais |
24.nov.2013 | Genoino tem alta do Instituto de Cardiologia e vai para a casa de uma filha que mora em Brasília, em prisão domiciliar até uma decisão do STF Leia mais |
26.nov.2013 | Laudo da junta médica indicada pelo STF afirma que não "é imprescindível a permanência domiciliar fixa" Leia mais |
27.nov.2013 | Laudo da junta médica da Câmara dos Deputados, que analisa seu pedido de aposentadoria por invalidez, rejeita pedido de aposentadoria de Genoino e diz que doença não é grave Leia mais |
A exposição durante o impeachment ajudou o petista a obter grande votação nas eleições de 1994, quando recebeu mais de 192 mil votos, sendo o terceiro deputado mais votado em São Paulo, atrás apenas de Celso Russomanno e Franco Montoro (ambos do PSDB). Já em 1998, Genoino conquistou 307 mil votos, a maior votação de São Paulo.
Presidência do PT e mensalão
Nas eleições de 2002, marcada pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial, Genoino não concorreu a uma vaga na Câmara: foi derrotado por Geraldo Alckmin (PSDB) na eleição para o governo do Estado de São Paulo.
Sem mandato, Genoino assumiu a presidência do PT, em substituição a Dirceu, escolhido para ser ministro da Casa Civil de Lula. Quando a legenda estava sob o comando de Genoino veio à tona o escândalo do mensalão, que obrigou o petista a deixar a presidência da sigla.
Apesar do esquema, conseguiu eleger-se, mais uma vez à Câmara, em 2006. Nas eleições de 2010, novamente candidatou-se a deputado, mas conseguiu apenas uma vaga como suplente. Com a eleição de deputados para prefeituras em 2012, Genoino voltou à Câmara, mas licenciou-se em julho, para tratar de uma cardiopatia.
Condenado a cumprir pena em regime semiaberto por corrupção ativa no julgamento do mensalão, Genoino foi preso em 15 de novembro de 2013 e transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Em função dos problemas de saúde, foi autorizado a cumprir a pena em prisão domiciliar até que o ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), analise em definitivo como ele cumprirá a pena.
Em setembro, apresentou pedido de aposentadoria por invalidez, que ainda está sendo analisado pela Casa.
Lavrador e guerrilheiro
Mais velho de 11 irmãos de uma família de lavradores, Genoino nasceu em 5 de março de 1946 em Quixeramobim, no interior do Ceará.
O histórico político de Genoino teve início em sua juventude, nos anos 1960. Participou da Guerrilha do Araguaia, movimento de luta armada contra o governo militar, no fim dos anos 1960 e até quase a metade dos anos 1970. Por sua atuação política contra a ditadura, ficou preso por cinco anos (de 1972 a 1977).
Antes de participar da fundação do PT (Partido dos Trabalhadores), foi filiado ao PCdoB.
Em março de 2011, foi nomeado como assessor especial do Ministério da Defesa, cargo do qual pediu demissão em 10 de outubro de 2012 -- um dia após sua condenação no STF.
Ao rejeitar recurso, Barroso elogia Genoino
"Não julgamos a história de vida dos réus", diz Cármen Lúcia
Condenado pelo mensalão, Genoino não poderá se candidatar nos próximos oito anos em função da Lei da Ficha Limpa.
Condenação no STF
Ao condená-lo no mensalão, a ministra Cármen Lúcia reconheceu sua trajetória, mas disse que isso não era suficiente para tirar sua responsabilidade. "A vida é como uma estrada, em que se anda mil quilômetros de forma reta, mas num minuto alguém vai trocar o rádio e causa um acidente", disse.
Em setembro deste ano, o ministro do STF Luís Roberto Barroso, ao rejeitar os recursos de Genoino, lamentou ter de condenar o ex-deputado.
"Pessoalmente, lamento condenar um homem que participou da resistência à ditadura no Brasil, em um tempo em que isso exigia abnegação e envolvia muitos riscos. Lamento condenar alguém que participou da reconstrução democrática do país. Lamento, sobretudo, condenar um homem que, segundo todas as fontes confiáveis, leva uma vida modesta e jamais lucrou financeiramente com a poítica", declarou.
Em seguida, Cármen Lúcia respondeu diretamente a Barroso: "Não estamos aqui para julgar a história de vida do deputado, mas sim o envolvimento dele no caso."
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