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Aécio aponta contradição entre versão de Dilma e Gabrielli sobre refinaria

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

20/03/2014 13h33Atualizada em 20/03/2014 17h18

Após cobrar explicações da presidente Dilma Rousseff da tribuna do Senado, o pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), afirmou nesta quinta-feira (20) que o PT tem que decidir qual versão é a “correta” sobre a compra pela Petrobras de uma refinaria em Pasadena, no Texas (EUA): se a da presidente Dilma Rousseff, de que não dispunha de informações completas, ou a do ex-presidente da estatal, Sergio Gabrielli, de que foi uma medida pensada.

“A versão que ela [Dilma] apresentou é contraditória ao que disse no Congresso Nacional o então presidente da Petrobras Gabrielli. Ele disse que foi uma medida pensada, estudada, porque, segundo ele, naquele momento, a conjuntura de mercado orientava para os benefícios daquela ação. A presidente contradiz a diretoria anterior da Petrobras e é preciso que o Brasil saiba a verdade”, disse Aécio, em entrevista coletiva na sede do partido, do qual é presidente.

Ele voltou a cobrar que a presidente não "terceirize responsabilidades". Ontem, a presidente, que à época do negócio, em 2006, presidia o conselho de administração da estatal, havia justificado, por meio de nota, ter dado aval à compra porque dispunha de “informações incompletas” de um parecer "técnica e juridicamente falho".

A Petrobras comprou da empresa belga Astra Oil metade da refinaria por US$ 360 milhões, oito vezes mais do que a belga havia pagado pela unidade inteira no ano anterior.

No entanto, reportagem da “Folha de S.Paulo” desta quinta traz depoimentos de dois ex-executivos da estatal que contradizem a presidente ao afirmar que todos os membros do conselho tiveram acesso ao processo completo da proposta de compra. Em ocasiões anteriores, Gabrielli, então presidente da Petrobras, chegou a defender a operação dizendo que foi embasada em estudos.

“Ou a versão do então presidente da Petrobras [Sergio] Gabrielli é a correta e tomaram uma decisão sabendo o que estavam fazendo, ou é a versão da presidente da República. O PT tem que escolher entre uma e outra. E o Brasil tem que dizer se está satisfeito com uma ou com outra”, criticou Aécio.

O negócio é investigado pelo Ministério Público do Rio, Tribunal de Contas da União e pela Polícia Federal por conta do valor.

Aécio questionou ainda dirigiu as críticas ao Nestor Ceveró, ex-diretor da Petrobras que, segundo a Presidência da República, foi o responsável pelo parecer considerado falho usado na época por Dilma para avalizar o negócio.

O senador defendeu a criação de uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), incluindo senadores e deputados, para investigar o caso. Segundo ele, na próxima terça, os partidos de oposição vão se reunir para tratar do assunto. Ele espera angariar apoio até de alguns da base governista. Para aprovar a instalação da CPMI são necessárias as assinaturas de 171 deputados e 27 senadores.

“Essas são questões que nós precisamos esclarecer, por isso as oposições vão ser esforçar. Somos minoria no Congresso, mas acreditamos que uma parcela importante da base possa se unir nesse esforço para que a presidente da República tenha oportunidade de se esclarecer”, disse.

Aécio ponderou, no entanto, que ainda não considera o caso de a presidente ser convocada para prestar esclarecimentos. “Não acuso a presidente de improbidade, ela é uma pessoa de bem. Acredito na honestidade da presidente. O que está em xeque neste momento é a incapacidade, a incompetência de alguém que tem que ter tomado uma competência dessa  gravidade”, disse, referindo-se ao ex-diretor da área internacional da estatal, Nestor Cerveró, responsável pelo parecer que embasou o negócio.

Ele voltou a defender que a apuração da atuação de Cerveró e criticou o fato de, em vez de ter sido demitido, ter sido promovido. Ele agora é diretor financeiro da BR Distribuidora.

"Se houve encaminhamento do qual ela [Dilma] não teve conhecimento e, se isso foi feito por má fé, o encaminhamento tinha que ser a punição exemplar de quem fez isso, a prisão, o processo eventual comprovaria a prisão. Se foi por negligência esse encaminhamento, no mínimo teria que ser afastado da vida pública. É algo que precisa ser esclarecido", afirmou o senador.