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"Sinto nojo de tudo que aconteceu", diz ex-preso político em ato no antigo DOI-Codi em SP

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

31/03/2014 11h07Atualizada em 31/03/2014 16h51

“Sinto nojo de tudo aquilo que aconteceu  e espero que não se repita". O desabafo é de José Ferreira, 67, que foi preso durante a Ditadura Militar.

Ele participou, na manhã desta segunda-feira (31), de um ato pelos 50 anos do golpe militar, realizado no 36º DP (Paraíso), na zona sul de São Paulo. O local abrigou o antigo DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) durante o regime militar.

José Ferreira passou uma semana preso no local, em 1971, quando sofreu tortura psicológica. Perguntado sobre como se sentia voltando ao lugar, ele ficou em silêncio por alguns instantes, antes de dizer emocionado: “Não tenho palavras”. No mesmo ano, José Ferreira ficou detido por mais 45 dias nos Dops (Departamento de Ordem Política e Social), no Rio de Janeiro.

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Ato

Segundo os organizadores, cerca de 1.000 pessoas participaram do ato realizado no pátio do 36º DP, entre parentes de desaparecidos políticos, estudantes e integrantes de movimentos sociais. Dezenas de ex-presos políticos também estiveram no evento, cujo encontro foi marcado por lembranças e pela emoção.

Muitos tinham lenços brancos nos pescoços e, nas mãos, cartazes com fotos dos 437 desaparecidos na época da ditadura. Um minuto de silêncio foi feito em memória das vítimas. Houve apresentação de um coral, grupos teatrais e exibição de vídeos com depoimentos de parentes de vítimas da ditadura.

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memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/Arquivo Nacional
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Os participantes do ato leram um manifesto pedindo a punição dos torturadores. Depois disso, houve a leitura dos nomes de 56 pessoas que foram mortas no prédio que abrigou o antigo DOI-Codi, entre elas o jornalista Vladimir Herzog. Estima-se que entre 5.000 e 8.000 pessoas tenham passado pelo prédio e sido torturadas lá durante o regime militar. 

Em janeiro deste ano, Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) aprovou o tombamento do prédio, que deve abrigar um centro de memória da ditadura.

Lembrança e revolta

Maria Lúcia Paiva Mesquita, 81, irmã do ex-deputado Rubens Paiva, morto em 1971, recebeu a atenção de muitos ex-presos políticos. "Ele era generoso. Podia estar vivo até hoje fazendo coisas maravilhosas. Sinto tristeza até hoje, por isso choro até hoje", disse com lágrimas nos olhos. 

"O que a família sofreu, o que temos no coração, ninguém vai tirar. Mas é uma maravilha ver a sociedade se movimentando e lembrando das coisas que já passaram, mas que precisam ser lembradas para não serem repetidas", declarou. 

Laura Petit da Silva, 67, segurava a foto de seus três irmãos que desapareceram no regime militar. Eles faziam parte da Guerrilha do Araguaia. "Sinto uma dor imensa pela perda [dos meus irmãos] e por não ter podido sepultá-los, que é o direito de toda família", falou.