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Ditadura prendeu, torturou e matou militares, segundo Comissão da Verdade

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

07/04/2014 14h18Atualizada em 07/04/2014 21h50

Militares do Exército, Aeronáutica, Marinha e da Polícia Militar também foram alvo da repressão durante a ditadura (1964-1985). O tema foi debatido em uma audiência pública na manhã desta segunda-feira (7) na Assembleia Legislativa de São Paulo, na zona sul da capital paulista. 

Segundo a Comissão Nacional da Verdade, ao menos 27 militares foram mortos no regime militar no país, além de outros dez civis de origem militar.

Estima-se que mais de 7.000 praças e oficiais das três forças e policiais militares tenham sido cassados, presos e torturados durante a ditadura, constituindo a categoria social proporcionalmente mais atingida pelo regime militar.

Quatro militares que foram vítimas da repressão contaram suas histórias na audiência promovida pela Comissão Nacional e Estadual da Verdade.

Antes disso, foi prestada uma homenagem ao coronel da Aeronáutica Alfeu de Alcântara Monteiro, morto em 4 de abril de 1964, em Porto Alegre, aos 42 anos.

"Ele foi o primeiro resistente que pagou com a vida porque se recusou a aceitar as ordens dos golpistas", afirmou Paulo Cunha, consultor da Comissão Nacional.

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Torturado no Brasil e no Chile

O capitão da reserva do Exército José Araújo Nóbrega foi preso e torturado no Brasil e no Chile. "Fui dado como morto. Meu irmão chegou a 'reconhecer' meu corpo e minha mulher fez uma missa de sétimo dia", lembrou em audiência desta segunda-feira.

Antes do golpe em 1964, Nóbrega já fazia parte de um movimento de sargentos insatisfeitos com os baixos salários e restrições para ter casa própria e casar.

O capitão integrou o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário) e depois a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), que teve como um dos seus comandantes o capitão do Exército Carlos Lamarca, um dos líderes da oposição armada.

Depois da instalação do regime militar, o sargento continuou na corporação, chegou a trabalhar na Polícia Federal, mas entrou na clandestinidade depois que o regime descobriu um plano que incluía o bombardeiro do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, e de aviões no Campo de Marte, localizado na zona norte de São Paulo.

No interior do Estado, Nóbrega foi preso e torturado. "Fui torturado pelo DOI-Codi, Dops, na cadeira de Jacupiranga. Recebi muito choque elétrico. Fui afogado várias vezes em balde d'água, a coisa mais terrível que existe. Tenho claustrofobia até hoje", detalhou.

Após o sequestro de um embaixador alemão, o capitão ganhou liberdade, indo para a Argélia e em seguida para o Chile. Lá, depois do golpe que derrubou o presidente Salvador Allende, Nóbrega foi preso e torturado até ser dado como morto.

O capitão conseguiu fugir para a Suécia e passou ao todo 14 anos fora do Brasil, até a promulgação da Lei da Anistia. Questionado se se arrependia do que fez e pelo que passou, ele foi enfático: "Me arrependo de não ter feito melhor".

Outros três militares foram ouvidos durante a audiência: os capitães Simão Keremian, Francisco Fernandes Maia e Moacir Correia, que foram presos e cassados.

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