Topo

Vaccarezza diz "ter convicção" de que Vargas não fez lobby para doleiro

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

01/07/2014 18h00

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) disse nesta terça-feira (1°), durante depoimento no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, que “tem convicção” de que o deputado André Vargas (sem partido-PR) não fez lobby para que o laboratório Labogen conseguisse um contrato pelo Ministério da Saúde.

Segundo investigações da Polícia Federal durante a operação lava Jato, o laboratório Labogen participou de um esquema de lavagem de dinheiro dos negócios do doleiro. Vargas teria auxiliado Youssef a conseguir um contrato na pasta no valor de R$ 31 milhões. Em uma das mensagens interceptadas pela PF Vargas e o doleiro foram flagrados conversando sobre o Labogen.

"Eu tenho convicção não fez lobby para esse laboratório. Tenho convicção que se existe uma discussão sobre decoro é sobre o uso do avião. Eu tenho consciência de que ele [Vargas] não fez lobby pelo Labogen", defendeu Vaccarezza durante a audiência no Conselho de Ética.

Além da relação do doleiro com Vargas no caso da Labogen, Youssef também emprestou um jatinho para que o deputado viajasse com a família para uma praia no Nordeste em janeiro.

Vargas admitiu ter usado um avião emprestado pelo doleiro. Além disso, conversas entre os dois interceptadas pela PF têm indícios de que Vargas teria atuado junto ao Ministério da Saúde para beneficiar Youssef.

Para Vaccarezza, o único erro grave de Vargas foi ter feito uso de um jatinho, pago pelo doleiro para que o deputado fizesse uma viagem.

Vaccarezza é citado em um das mensagens interceptadas pela PF que indicaria que estaria ocorrendo uma reunião em sua casa onde estariam Youssef e Vargas. O deputado petista negou que a reunião tenha ocorrido. E afirmou que antes que as denúncias tenham sido feitas à imprensa, ele nunca citou o nome do laboratório Labogen ao ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha.

"Eu nunca na minha vida me reuni com André Vargas e Alberto Youssef para tratar de Labogen, de outro assunto qualquer, nem de política nem de negócios. Se alguém tratou,  [disse] que viu, está mentindo", disse Vaccarezza que admite que conhece Youssef há "muito tempo". 

Vargas responde a um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética por ligação com o doleiro Alberto Youssef, acusado de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro bilionário. O doleiro foi preso pela Polícia Federal durante a operação Lava Jato. Ele está preso em Curitiba desde março.

Depoimentos

O Conselho de Ética da Câmara marcou para amanhã (2) o depoimento dos donos do laboratório Labogen, envolvido nas denúncias de irregularidades contra Vargas. Devem ser ouvidos  Leonardo Meireles e Esdras Ferreira. Eles  foram indicados como testemunhas pelo relator do caso, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que pretende questioná-los sobre a intermediação que teria sido feita pelo parlamentar com o Ministério da Saúde para facilitar a realização de contratos entre o laboratório e o governo.

A parceria entre o Ministério da Saúde e o Labogem foi cancelada. Reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” revelou que Yousseff era o dono oculto do Labogen e que conseguiu o negócio por meio da influência de Vargas.

O relator Júlio Delgado tem até o dia 24 de julho para concluir seu relatório. Mas pretende encerrar o processo e votar o relatório no conselho até o dia 17 de julho, último dia de trabalho dos deputados antes do recesso parlamentar.

Oitiva com Yousseff

O conselho pretendia ouvir o doleiro também hoje. Mas a Justiça do Paraná cancelou a videoconferência que seria transmitida em reunião aberta do colegiado. Youssef iria depor na representação por quebra de decoro parlamentar instaurada contra os deputados federais André Vargas e Luiz Argolo (SD-BA). 

O presidente do conselho informou que o grupo recebeu do STF (Supremo Tribunal Federal) os documentos referentes a investigação da Polícia Federal sobre a operação Lava Jato, mas que os deputados ainda não analisaram os autos.

A defesa de Vargas chegou a solicitar que Vaccarezza foi chamado para falar em outro dia para que o colegiado analisasse os documentos. Mas o pedido foi negado e o depoimento seguiu normalmente.

Também foram indicadas pelo relator para depor no processo contra Vargas o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, que teria intermediado as negociações com o laboratório Labogen, e Bernardo Tosto, o dono da Elite Aviation, empresa que possui o jatinho usado por Vargas.

Foram convidados ainda o presidente do PT, Rui Falcão, e os deputados federais Vicentinho (SP), líder do PT na Câmara, mas não compareceram às oitivas.