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Ex-contadora de Youssef diz que deputados recebiam dinheiro do doleiro

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

13/08/2014 11h14Atualizada em 13/08/2014 12h15

A ex-contadora de Alberto Youssef, Meire Bonfim Poza, afirmou nesta quarta-feira (13) que o doleiro realizou pagamentos ao deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA). A declaração foi dada em audiência pública no Conselho de Ética da Câmara.

A contadora, no entanto, se recusou a citar os nomes de outros parlamentares que teriam recebido dinheiro de Youssef. Meire já havia afirmado à Polícia Federal que o deputado é sócio informal do doleiro na empresa Malga Engenharia. A testemunha foi chamada pelo relator do processo contra Argôlo, deputado Marcos Rogério (PDT-RO).

Argôlo responde a um processo por quebra de decoro parlamentar no conselho por seu envolvimento com Youssef. Investigações da PF mostram que Argôlo trocou 1.411 mensagens em seis meses com o doleiro.

Especificamente sobre a entrega de dinheiro a Argôlo, a contadora relatou um episódio em que o parlamentar foi a São Paulo buscar dinheiro, mas que não foi possível a entrega. E que o deputado só deixou a capital paulista no dia seguinte, quando ela supõe que ele tenha recebido o dinheiro. Segundo a contadora, havia uma amizade grande entre Youssef e Argôlo. “Era uma relação carinhosa, era tratado como bebê ‘Johnson’, por ele ser novinho”, disse.

“Eu sei que ele [Argôlo] recebeu, mas não sei como. Normalmente era recebido em dinheiro. Há também alguns TEDs”. Meire também disse tem comprovantes de pagamentos a outras pessoas e que pode encaminhar os documentos ao conselho. Entre os comprovantes há um depósito a Manoelito Argôlo no valor de R$ 60 mil e R$ 47 mil para Élia, que são pessoas ligadas ao deputado, segundo Meire. 


Meire é uma das principais testemunhas da operação Lava Jato e pode explicar como funcionava o esquema de pagamento de propina intermediado pelo doleiro. A contadora tem uma empresa de contabilidade e prestou serviços a Youssef entre 2010 e 2014.

“O Alberto era um banco, eu não teria uma relação de pessoas que receberam dinheiro. Ele pagava contas, doava dinheiro, emprestava. São diversas contas que eu não tinha conhecimento do que se tratava”, afirmou a contadora.

Em entrevista à revista "Veja", Meire afirmou que o doleiro tinha negócios com Argôlo e fez operações para os deputados federais André Vargas (sem partido-PR) e Candido Vaccarezza (PT-SP). Os parlamentares negam envolvimento com o doleiro sobre propina.

De acordo com as investigações, Youssef chegou a entregar dinheiro no apartamento que a Câmara dos Deputados cede a Argôlo. A PF também aponta que Argôlo usou recursos da Câmara para pagar passagem e hotel para encontros com o doleiro.

A PF também interceptou mensagens que indicam que o chefe de gabinete de Argôlo, Vanilton Bezerra, recebeu R$ 120 mil do doleiro em uma conta pessoal. Em depoimento ao Conselho na semana passada, Bezerra negou que tenha recebido o dinheiro e afirmou estar disposto a abrir seu sigilo bancário para comprovar isso. O site da revista “Veja” afirma que teve acesso a um depósito no valor de R$ 8 mil.

Na audiência de hoje, o Conselho informou que solicitou às empresas Gol e Tam as viagens realizadas pelo deputado Argôlo.