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Delator diz que operador do PMDB recebeu US$ 40 milhões em propina

André Richter

Da Agência Brasil, em Curitiba

22/11/2014 11h51

Em depoimento de delação premiada à Justiça, um diretor da empresa Toyo Setal afirmou que pagou US$ 40 milhões ao empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, para intermediar a compra de sondas de perfuração para a Petrobras.

No depoimento, Júlio Gerin de Almeida Camargo declarou que o valor foi repassado para Soares por meio de contas offshore indicadas por ele no Uruguai e na Suíça.

Baiano tem sido apontado como o elo entre as fraudes em licitações na estatal e o PMDB, o que ele nega.

No termo de delação, Camargo afirmou que em 2005 atuou como agente da empresa Samsung para vender para a Petrobras duas sondas de perfuração de águas profundas na África e no Golfo do México.

Para fechar o negócio, o delator disse que procurou Soares "pelo sabido bom relacionamento" dele na área internacional e de abastecimento da empresa, dirigidas à época por Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, respetivamente.

Para tratar do negócio, o delator disse que participou de uma reunião na sala de Cerveró, na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, onde  também estavam presentes o então gerente executivo da área internacional Luiz Carlos Moreira, o então vice-presidente da Samsung Harrys Lee e o gerente da Mitsui no Rio de Janeiro, Ishiro Inaguage.

Para fechar a compra, Camargo disse que se reuniu com Fernando Soares para acertar os valores do negócio. "Fernando Soares disse que precisaria ser paga a quantia de US$ 15 milhões de dólares para que ele 'pudesse concluir a negociação em bom 'êxito' junto à Diretoria Internacional; (...) que isso revelava que Fernando Soares mantinha um 'compromisso de confiança' com o diretor internacional Nestor Cerveró. (...) que acabou concordando em pagar os US$ 15 milhões, pois era o único jeito de fechar o negócio; que o declarante fez um acordo com Fernando Soares", diz a delação.

O diretor da Toyo Setal informou ainda que Soares indicou as contas nas quais os valores deveriam ser depositados. "O declarante fez um acordo com Fernando Soares, através de uma empresa offshore dele; (...) que desse valor, o declarante repassou a título de propina a quantia da US$ 12,5 ou 15 milhões a Fernando Soares; que essas transferências bancárias da conta do declarante mantida no banco Winterbothan, no Uruguai, em nome de uma offshore, para inúmeras contas indicadas por Fernando Soares", diz o termo de delação.

No mesmo depoimento, Camargo relatou que, dois meses após o negócio ser finalizado, foi procurado por Fernando Soares novamente para a compra de outra sonda, dessa vez para o Golfo do México. Segundo o delator, na segunda compra, o valor pago de propina subiu para US$ 25 milhões.

Para pagar a segunda venda, o diretor disse que fez novos pagamentos em uma contra offshore na Suíça. Parte do valor também passou pelas contas da GFD Invesimentos, uma das empresas de Alberto Youssef.

"Os valores foram transferidos após a formalização de contratos simulados de prestação de serviços com as empresas do declarante e emissão de notas fiscais pelas contratadas. Somando pagamentos feitos a Fernando Soares no exterior e no território nacional, assim como por meio de Alberto Youssef também destinados àquele, o declarante efetivou o pagamento total do montante exigido de US$ 40 milhões de dólares", declarou.

Outro lado

A defesa de Fernando Soares confirma que ele fez negócios com a Petrobras, mas de forma lícita. O advogado dele Mário Filho também diz que ele não cobra propina.

"Ele é um empresário, proprietário de duas empresas antigas e faz prospecção de negócios. Descobre onde está o problema de uma infraestrutura e vai atrás de solução. Por exemplo, vou fazer uma estrada, preciso de tantas toneladas de pedras. Ele faz o contato e, sobre a negociação, recebe uma porcentagem, que é absolutamente lícito", disse.