Topo

Lavagem de dinheiro da Petrobras usou comerciantes da 25 de Março, diz MPF

O procurador Deltan Dallagnol mostra organograma do funcionamento do esquema durante entrevista coletiva ontem (11), em Curitiba - Geraldo Bubniak/ Estadão Conteúdo
O procurador Deltan Dallagnol mostra organograma do funcionamento do esquema durante entrevista coletiva ontem (11), em Curitiba Imagem: Geraldo Bubniak/ Estadão Conteúdo

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

12/12/2014 17h41

Os suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras teriam usado até comerciantes de um tradicional ponto de comércio popular, a rua 25 de Março, no centro de São Paulo, para lavar dinheiro desviado da estatal, conforme denúncia do MPF-PR (Ministério Público Federal no Paraná).

Ontem (11), a Procuradoria denunciou 36 suspeitos por corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro e pediu o ressarcimento de R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Nesta sexta-feira (12), a Justiça Federal aceitou a denúncia contra nove, que se tornaram réus no processo.

Segundo o procurador da República Deltan Dallagnol, que conduz as investigações, Leonardo Meirelles, um dos doleiros denunciados ontem, tinha como clientes vários comerciantes da rua 25 de Março --os nomes não foram divulgados--, que queriam enviar dinheiro ao exterior ilegalmente.

Meirelles, que é sócio do também doleiro Alberto Youssef na empresa Labogen, usava o dinheiro desviado nos contratos da Petrobras para fazer as remessas dos comerciantes por meio de importações fictícias: o dinheiro saía do país, mas nenhum bem entrava no Brasil. A manobra era feita por meio de empresas de fachada em Hong Kong, na China.

O dinheiro enviado ao exterior passava por offshores que Meirelles tinha em parceria com o Youssef, como a RFY e a DGX, antes de chegar ao destino final. Feita a operação, os doleiros recolhiam dinheiro vivo dos comerciantes da 25 de Março. Em seguida, o dinheiro lavado era distribuído aos envolvidos no esquema.

De acordo com a denúncia do MPF, esta era apenas umas formas empregadas pelos suspeitos para lavar o dinheiro desviado. Os suspeitos também firmavamcontratos com empresas de fachada, que nunca realizaram os serviços pelas quais foram pagas; contratos fictícios de consultoria; e a compra de imóveis, como edifícios e hotéis.

A Procuradoria afirma que os envolvidos utilizaram métodos mais sofisticados e complexos para ocultar os desvios, em comparação com os meios tradicionais de lavagem. “A lavagem não era feita por corruptores e corrompidos. Envolvia profissionalização, internacionalidade e complexidade”, disse Dallagnol, que qualificou o processo de “modernidade da lavagem de dinheiro".

"Clube" de empreiteiras

Dos 36 denunciados ontem, 23 pertencem às empreiteiras OAS, Camargo Corrêa, UTC Engenharia, Engevix, Mendes Júnior e Galvão Engenharia. Além deles, foram denunciados Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras, e Alberto Youssef.

Segundo o procurador Deltan Dallagnol, os desvios feitos pelos suspeitos em contratos fraudulentos só da diretoria de abastecimento, objeto da denúncia de ontem, somam, até agora, cerca de R$ 300 milhões. O MPF, no entanto, pede que sejam ressarcidos R$ 1 bilhão, que é a estimativa mínima do valor total que teria sido desviado.

A denúncia sustenta que empreiteiras organizaram-se em cartel, em um “clube”, que controlava as obras da diretoria de abastecimentos. Segundo o MPF, as empresas sabiam quem iria vencer cada licitação.

Entre as práticas ilegais do cartel estavam a realização de contratos desnecessários ou injustificados; a inclusão de aditivos contratuais com preços excessivos; aceleração do processo de licitação e a revelação dos processos sigilosos. A propina paga aos agentes corrompidos dentro da Petrobras variava entre 1% e 5% de cada contrato fraudulento.

Ainda de acordo com Dallagnol, foram praticados 154 atos de corrupção e 105 atos de lavagem de dinheiro pelos 36 denunciados. O procurador afirmou que essa é a primeira denúncia da Lava Jato, relacionada aos crimes que teriam sido praticados na diretoria de abastecimento. Outras denúncias, relativas a desvios em outras diretorias, devem ocorrer futuramente.

Outro lado

A exemplo de Youssef e Paulo Roberto Costa, Meirelles aceitou fazer delação premiada para contribuir com as investigações. Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, ele afirmou ser subordinado de Youssef e a outros envolvidos no esquema.

Executivos das empresas Engevix negaram, em depoimento na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba no mês passado, a participação no suposto cartel.

Apesar de negarem a existência do cartel, os executivos da Engevix disseram ter tido contato com Youssef, que se apresentou como "senhor Primo".Já o os executivos da OAS permaneceram calados durante o depoimento.

O vice-presidente da Mendes Junior, Sérgio Cunha Mendes, disse em depoimento à PF no mês passado que foi obrigado a pagar propina de R$ 8 milhões a Youssef.

Segundo ele, Youssef exigiu o pagamento da quantia para que a Mendes Júnior recebesse os valores a que tinha direito em contratos de serviços licitamente prestados e para continuar participando das licitações da Petrobras. De acordo com a defesa, foram feitos quatro pagamentos seguidos, de julho a setembro de 2011.

No depoimento que prestou à Polícia Federal na Operação Lava Jato, Ricardo Pessoa, presidente da UTC negou irregularidades e o pagamento de propinas a agentes públicos.

Já a Camargo Corrêa afirma que todos os seus pagamentos correspondem a serviços prestados e que nunca fez "pagamento ilegal".