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Minha vida virou um inferno, diz gerente que denunciou desvios na Petrobras

Venina Fonseca foi transferida para Cingapura após fazer denúncias na estatal - Divulgação/ Inlac Brasil
Venina Fonseca foi transferida para Cingapura após fazer denúncias na estatal Imagem: Divulgação/ Inlac Brasil

Do UOL, em São Paulo

12/12/2014 17h35

A ex-gerente que alertou a direção da Petrobras sobre desvios na empresa disse, em e-mail escrito em novembro, que sofreu assédio e ameaças. “Desde 2008, minha vida se tornou um inferno, me deparei com um esquema inicial de desvio de dinheiro, no âmbito da Comunicação do Abastecimento. Ao lutar contra isso, fui ameaçada e assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas eu tive”, afirmou a geóloga Venina Velosa da Fonseca em mensagem enviada à presidente da estatal, Graça Foster, no último dia 20, de acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira (12) pelo jornal “Valor Econômico”.

A publicação informou que a ameaça com arma aconteceu no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.

Uma comissão interna da Petrobras concluiu que foram pagos R$ 58 milhões em contratos de comunicação para serviços não realizados. O diretor de Abastecimento era, à época, Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato e réu no processo aberto na Justiça Federal. Venina era gerente executiva da mesma diretoria e subordinada a Costa.

A gerente teria feito centenas de alertas e recomendações sobre desvios na empresa. De acordo com o “Valor”, ela também apontou um esquema em que empresas suspeitas de cartel venciam concorrências para contratos aditivos que elevavam o custo das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

Venina deixou o cargo de gerente em outubro de 2009. Quatro meses depois, foi trabalhar na unidade da empresa em Cingapura, na Ásia. “(...) Fui expatriada, e o diretor, hoje preso, levantou um brinde, apesar de dizer ser pena não poder me exilar por toda a vida”, disse a funcionária no e-mail revelado pelo jornal.

Ela voltou ao Brasil em 2012 e chegou a passar cinco meses sem atribuições na estatal. Regressou a Cingapura para chefiar o escritório da empresa. Em maio passado, fez uma denúncia interna sobre perdas que a Petrobras tinha em operações internacionais.

“Do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa passei a sentir vergonha”, escreveu Venina, afastada da estatal em 19 de novembro junto ao rol de funcionários suspeitos de irregularidades investigadas pela Polícia Federal.

Na mensagem para Graça Foster escrita no dia seguinte ao afastamento, ela se propôs a apresentar à presidente a documentação sobre as suspeitas e deixou seu número de telefone.

Em nota, a Petrobras afirmou ter tomado providências a respeito de todas as denúncias feitas internamente por Venina. Depois da publicação da reportagem do "Valor", a oposição pediu a saída de Graça Foster da presidência da estatal.

Abaixo a íntegra da nota da Petrobras:

A Petrobras esclarece que, em relação à matéria publicada no Valor Pro de 11/12/2014, sob o título "Diretoria da Petrobras foi informada de desvios de bilhões em contratos", instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento. O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 03 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da companhia. Porém, a demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica, vindo a ocorrer em 2013. O resultado das análises foi encaminhado às autoridades competentes.

Em relação aos procedimentos na área de Bunker, após resultado do Grupo de Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda com a implementação de controles e registros adicionais. Com base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014.

Como mencionado em comunicados anteriores, a Comissão Interna de Apuração constituída para avaliar os processos de contratações para as obras da RNEST concluiu as apurações e encaminhou o Relatório Final para os órgãos de controle e autoridades competentes.

Assim, fica demonstrado que a Companhia apurou todas as informações enviadas pela empregada citada na matéria.