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De ex-aliado a opositor declarado, Delgado tenta emplacar "3ª via" na Câmara

Deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) fala a parlamentares no plenário da Câmara - Roberto Jayme - 4.fev.2013/UOL
Deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) fala a parlamentares no plenário da Câmara Imagem: Roberto Jayme - 4.fev.2013/UOL

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

22/01/2015 06h00

“Boa praça”, determinado, estudioso e “caçador de petistas”. Se alguém pode colher as benesses de se lançar como um candidato da “terceira via” à presidência da Câmara dos Deputados, esse alguém é Júlio Delgado (PSB-MG). Mineiro de Juiz de Fora, o advogado tenta pela segunda vez chegar ao comando da Câmara. Na primeira, foi derrotado, mas agora, como candidato declarado de oposição, ele pretende surpreender.

Delgado chega ao seu quarto mandato efetivo como deputado federal com o status de ser um dos líderes de um dos principais partidos de oposição, o PSB. Até 2013, porém, compôs a base de apoio do governo federal junto com seu partido, que ajudou a eleger Dilma Rousseff (PT) em 2010. Agora, declara-se candidato contra o governo abertamente. “Sou o único candidato de oposição”, repete Delgado sempre que pode.

Ele parece saber bem a quem direciona seu discurso. Além dele, estão na disputa os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ambos de partidos da base aliada. Ao se posicionar como candidato da oposição, mira nos deputados de partidos que, oficialmente, compõem a base, mas que estão descontentes com o governo.

Em 2013, Delgado disputou a presidência da Casa, mas, com 165 votos, perdeu para Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). À época, o mineiro disputou o cargo de forma independente. Agora, conta com o apoio do PSDB, PPS, PV e dissidentes de partidos menores da base aliada.

“Ele já parte com pelo menos 100 votos”, diz o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), um dos principais aliados do socialista na disputa. “Agora temos musculatura para a disputa. Não trabalho com a hipótese de não chegar ao segundo turno”, disse Delgado.

Nos bastidores, aliados de Delgado apostam no "tiroteio" entre Cunha e Chinaglia para que sua candidatura ganhe adeptos entre os blocos liderados pelo PT e pelo PMDB, em "guerra" velada pela disputa da presidência da Câmara. "Enquanto eles brigam, a gente pode ganhar força", diz um apoiador próximo de Delgado.

Propostas

A campanha de Delgado ainda trabalha em uma carta-compromisso com as principais propostas de sua campanha à presidência da Câmara. Mesmo assim, Delgado trouxe para sua campanha algumas das "marcas registradas" da campanha do PSB à presidência da República em 2014. A primeira foi a aliança com o PSDB, que surgiu no segundo turno após a derrota de Marina Silva.

A segunda foi "marca" foi o discurso de Delgado. Parafraseando o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em São Paulo em plena campanha à Presidência, Delgado adaptou o slogan do pernambucano: "Não vamos desistir do Parlamento", repete Delgado durante suas viagens. 

Nas visitas aos Estados, ele tem afirmado que defende maior diálogo entre a Mesa Diretora da Câmara e os parlamentares, maior interlocução com os Estados e é contra a proposta que prevê a regulação da mídia, defendida pelo PT.

Boa praça e "caçador" de petistas

Diplomático, Delgado é visto como um parlamentar “boa praça” até por seus adversários. “Ele é muito educado, brincalhão. Em quatro anos, eu só tive um desentendimento com ele. Mas isso não mudou nosso relacionamento amistoso”, afirmou o deputado Sibá Machado (PT-AC).

A fama de “boa praça”, porém, contrasta com um legado doloroso para a maior parte dos petistas. Delgado foi o relator dos processos de cassação do ex-deputado e ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP) – condenado pelo mensalão – e do ex-deputado André Vargas, suspeito de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso pela operação Lava Jato. Foi durante o processo de cassação de André Vargas, aliás, o tal desentendimento citado por Sibá Machado. “Assunto superado”, diz o petista.

“Não acho que o fato de ele ter sido o relator desses dois processos pode causar algum problema pra ele junto aos petistas. Nos dois casos, ele não tinha como relatar o que havia acontecido. Ao contrário, o fato de ele ter tido essa força mostra que ele é o candidato certo”, afirmou o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS).