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Com 100 dias, governadores dos 10 Estados mais ricos adiam promessas

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

10/04/2015 06h00Atualizada em 10/04/2015 21h51

Cem dias após tomar posse, governadores dos Estados com os dez maiores PIBs (Produto Interno Bruto) no país não conseguiram colocar em prática quase nenhuma promessa de campanha, à exceção dos que prometeram cortes e readequações financeiras. Segundo os chefes do Executivo, a falta de dinheiro é o maior obstáculo para que as iniciativas comecem a tomar forma.

Paraná e do Distrito Federal, respectivamente a quinta e a sétima maiores economias brasileiras, são os Estados que enfrentam mais dificuldades, com atraso no pagamento de salários aos servidores, greves e paralisação de investimentos, além de medidas de corte de gastos e aumento de impostos.

O Estado governado por Beto Richa (PSDB), reeleito nas últimas eleições, tem uma dívida com fornecedores que ultrapassa R$ 1,5 bilhão, além de R$ 2,5 bilhões em benefícios a servidores atrasados.

O governo do Paraná anunciou medidas de contenção e aumento de impostos e estima economizar R$ 1 bilhão em custeio. Apesar disso, por conta da falta de recursos, o pagamento de férias e abonos aos servidores não são realizados pelo governo.

O governador enfrentou ainda uma série de greves --os professores pararam por mais de um mês e cobradores de ônibus, taxistas e setores do funcionalismo municipal também pararam. Também estão paradas obras em estradas, como a PR-44, umas das promessas do governador reeleito.

No Distrito Federal, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), não fará o balanço de seus primeiros 100 dias de governo, que será feito com 120 dias para, nas palavras do secretário-adjunto da Casa Civil, Ricardo Callado, "ganhar tempo para apresentar mais resultados”.

A administração alega ter recebido o Estado com um rombo de R$ 1,8 bilhão, inclusive com atraso salarial de servidores, o que levou Rollemberg a adiar a execução de suas promessas de campanha. Ficaram para depois a construção de novas creches, a isenção de impostos para remédios e a implantação do Bilhete Único para o transporte público.

O pagamento de salários atrasados teve de ser parcelado em quatro vezes. A expectativa é que a situação seja resolvida até o fim de abril.

Por conta da crise financeira, o foco, nos primeiros meses, foi o corte de gastos. Só no primeiro mês de governo, foram R$ 200 milhões, o que resultou em uma série de greves e protestos de cinco categorias --médicos, vigilantes, rodoviários, terceirizados e professores.

O governador reduziu o número de secretarias de 38 para 24 e demitiu cerca de 60% dos 8.000 cargos de confiança. Também lançou um um pacote de elevação de impostos que visa arrecadar R$ 400 milhões até o fim do ano.

Além disso, suspendeu, por 120 dias, a compra de passagens aéreas, o pagamento de diárias de viagem e a participação de servidores em cursos, além de racionar a circulação de carros oficiais, a utilização de combustível, os gastos com celular e a impressão de documentos. Os investimentos em novas obras foi suspenso.

Mais ricos

As quatro maiores economias do país --São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul-- também adiaram investimentos prometidos pelos governadores eleitos durante a campanha.

Em São Paulo, governado por Geraldo Alckmin (PSDB), reeleito em 2014, há a expectativa de redução de 15% nos cargos comissionados, de 10% dos gastos com custeio e o contingenciamento de 10% do orçamento, ou R$ 6,6 bilhões.

Os cortes dos cargos e do custeio valem para todas as secretarias. O governo pretende ainda extinguir a Cepam (Fundação Prefeito Faria Lima) e a Fundap (Fundação de Desenvolvimento Administrativo) --o projeto é analisado pela Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). Há ainda a previsão do corte de horas extras e da suspensão da construção de novos fóruns e unidades do Ministério Público no Estado neste ano.

Por causa da crise, o governador também se viu obrigado a anunciar reajuste zero para professores, o que motivou uma greve da rede estadual que foi iniciada em 16 de março e ainda não terminou.

Embora a administração alegue que os cortes não atingiram investimentos, do total orçado para o setor em 2015 --R$ 14,5 bilhões– apenas R$ 2 bilhões foram efetivamente gastos, segundo dados do Sistema de Informações Gerenciais do Plano Plurianual.

O corte de gastos diminuiu o ritimo de algumas das obras apontadas pelo governador como prioridade durante a campanha. Entre elas, o trecho Norte do Rodoanel, que está praticamente paralisado e já teve a previsão de entrega aumentada de 2016 para 2017, e a construção da linha Esmeralda de trens.

No Rio, o corte de gastos foi de R$ 2,6 bilhões em todas as suas secretarias e autarquias. A redução anunciada pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) não poupou nem sequer a área de segurança, uma das mais críticas do Estado.

Na área de infraestrutura, Pezão também já descartou, por falta de recursos, o cumprimento de uma de suas principais promessas de campanha, a Linha 3 do metrô, que ligaria Niterói a São Gonçalo.

O custo da obra seria R$ 3,9 bilhões e a intenção é, em vez de fazer o metrô, criar dois corredores de ônibus, o que iria gerar R$ 2 bilhões de economia. Por hora, estão suspensas também a contratação de 12 mil policiais militares, também promessa de campanha, bem como a criação de 50 novas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

A prioridade do governo, agora, é a construção de unidades permanentes para sediar as UPPs já existentes, além de capacitação para os policiais.

Em Minas, Fernando Pimentel (PT) decidiu reduzir em 20% os gastos com contratação de servidores e pediu listas com os cortes aos secretários. Além disso, anunciou uma devassa nos processos instituídos pelos seus antecessores, a quem acusa de deixar um rombo de R$ 7 bilhões nas contas e uma dívida que se aproxima de R$ 100 bilhões.

Sobre as promessas de campanha que assumiu, o governador adiantou que, sem dinheiro, só começará a cumpri-las a partir do ano que vem.

A expectativa é que, a partir de 2016, a administração comece a apressar as 497 obras paradas no Estado. Entre elas, o governo afirma que 356 não são tocadas por falta de recursos. Entre elas, as prioridades são a revitalização do anel rodoviário, com custo de R$ 17 milhões, e a expansão do metrô de Belo Horizonte (R$ 3,1 bilhões), já em análise.

No Rio Grande do Sul, Ivo Sartori (PMDB) anunciou, ao assumir o governo, que encontrou um rombo de R$ 5,4 bilhões nas contas estaduais e que prepararia um pacote com cortes de gastos e provável aumento de impostos.

Ainda em janeiro, suspendeu, por decreto, por seis meses o pagamento de fornecedores do Estado e decretou outras medidas de controle que devem gerar economia de R$ 800 milhões até o fim do semestre.

Desde então, o governador prepara um pacote com 32 medidas para combater os problemas financeiros do Estado, que deve ser apresentado ainda em abril. Enquanto o projeto foi elaborado, apenas investimentos já previstos foram realizados.

Mais problemas

Em Santa Catarina, o governador Raimundo Colombo (PSD), reeleito nas eleições do ano passado, pediu aos secretários uma economia de 20% nas despesas. Com isso, os investimentos em infraestrutura, apontados como prioritários pelo mandatário durante a campanha, vão ter de esperar.

Colombo, que administra o sexto maior PIB brasileiro, afirmou que vai aplicar R$ 4,5 bilhões em obras de infraestrutura somente em 2015, dos quais R$ 800 milhões seriam investidos nos primeiros meses do novo governo. Até o momento, entretanto, nenhum grande contrato na área foi firmado.

Além disso, o governador teve de enfrentar uma greve dos professores da rede estadual de ensino depois que tentou implementar, por medida provisória, uma mudança na remuneração dos professores eventuais.

A medida, que economizaria R$ 40 milhões, foi contestada e o governo estadual decidiu retirá-la em 8 de abril. Com isso, professores avaliam o fim do movimento.

Na Bahia, a oitava maior economia do país, o governador Rui Costa (PT) também alegou crise financeira e anunciou redução do número de órgãos públicos e número de servidores, com uma estimada economia de R$ 200 milhões em 2015. E, por conta da crise, já deixou de lado a promessa de conceder aumento ao funcionalismo em 2015.

Entre os investimentos, a ponte que liga Salvador a Itaparica, com custo de R$ 6 bilhões, antiga promessa petista no Estado, bem como a construção da Ferrovia Oeste–Leste, avaliada em R$ 4,3 bilhões e considerada prioritária pelo governador, não devem sair do papel tão cedo. 

Goiás, nono maior PIB brasileiro, de R$ 111 bilhões, também não passou despercebido para a crise.

O governador Marconi Perillo (PSDB) prevê a extinção de quase 17 mil cargos públicos, entre comissionados e temporários, para dar uma folga de R$ 400 milhões ao ano nas contas estaduais.

Além disso, o governador também criou um plano de contingenciamento, com corte de gastos, e subiu impostos, especialmente os que incidem sobre os combustíveis.

De nove grandes obras que tinham previsão de entrega para os quatro primeiros meses de governo, quatro ficarão para o segundo semestre ou para 2016. Outras quatro serão entregues em maio, de acordo com previsão do governo estadual, e uma está completamente paralisada.

O governo, entretanto, afirma que apenas uma obra --o Centro de Convenções de Anápolis, avaliado em R$ 120 milhões, teve as obras paralisadas por falta de recursos. Não há prazo para o término. As demais, segundo o governo, parou por conta das chuvas.

Em Pernambuco, décimo Estado com maior PIB do Brasil –-com R$ 104 bilhões--, o governador Paulo Câmara (PSB) iniciou fevereiro anunciando o Plano de Contingenciamento de Gastos para economizar R$ 320 milhões este ano.

O decreto prevê suspensão no aditamento de contratos, devolução de veículos e corte em consultorias, diárias, manutenção da frota e publicidade.

Justamente pela crise financeira, enfrenta dificuldades em uma área apontada por ele próprio como fundamental para sua campanha: ele afirmou que dobraria o piso salarial dos professores, além de universalizar oportunidades em escolas de tempo integral.

Entretanto deu reajuste apenas para professores que ganhavam abaixo do piso nacional, de R$ 1.917,18, excluindo os demais. Por isso chega aos fim dos primeiros cem dias de governo com uma paralisação dos professores da rede estadual, que ocorreu nesta semana, e com possibilidade de greve da categoria.

Da mesma forma, a contenção de gasto fez com que obras já atrasadas no Estado, como o projeto de navegabilidade do rio Capibaribe e o Arco Metropolitano, bem como a construção de novos hospitais, também fossem deixadas para depois.

Opinião

Situação que demonstra, segundo o cientista político e economista Antonio Vicente Golfeto, que o país, como um todo, deve passar por momentos complicados nos próximos anos.

"Houve um ciclo de crescimento fomentado pelo Estado, e os gastos subiram mais do que esse crescimento permitia. Com o desempenho ruim da economia, a situação se agravou e chegou a um ponto insustentável, onde o corte é necessário. Isso aconteceu com o governo federal, com quase todos os estaduais e com a imensa maioria das cidades. O Brasil precisa de menos política e mais economia. Precisamos de um parteiro que faça nascer o capitalismo de mercado. A falta dele faz com que governos abusem dos contribuintes e é a raiz dos nossos problemas", afirmou.