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Não existe doação oficial a partido no Brasil, diz ex-diretor da Petrobras

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

05/05/2015 15h56Atualizada em 05/05/2015 18h56

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou nesta terça-feira (5) que as empresas fazem doações a partidos para posteriormente recuperar o dinheiro quando o grupo político estiver no governo.

“Não existe doação de empresas que não queiram recuperar [o dinheiro depois]. Quem me disse isso foram empresários. Se ele doa R$ 5 milhões, ele vai querer recuperar R$ 20 milhões”, declarou Costa à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras. “Não existe almoço de graça. Por que uma empresa de capital privado vai doar R$ 10 milhões, se ela não for cobrar depois? Muitos valores tido como oficiais, não eram oficiais, isso me foi dito por empresários”, disse Costa.

O ex-diretor também afirmou que o doleiro Alberto Youssef disse a ele que o ex-ministro Antonio Palocci solicitou R$ 2 milhões para que Costa conseguisse para a campanha eleitoral de Dilma Rousseff (PT) em 2010 na corrida presidencial. Os recursos seriam provenientes do esquema de corrupção.

Costa é um dos principais delatores da operação Lava Jato, que apura o desvio de dinheiro na Petrobras, e cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro. Ele foi preso em março do ano passado por suspeita de receber propina de fornecedores da estatal para facilitar a fechamento de contratos com essas empresas.

Após fazer acordo de delação premiada, o ex-diretor foi autorizado a permanecer em casa usando uma tornozeleira eletrônica.

Em seu acordo de delação premiada, Costa afirmou que ele e Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, receberam propina de empreiteiras.

A operação Lava Jato se baseia em seu depoimento e o do doleiro Alberto Youssef para investigar o esquema milionário de lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras. A operação também investiga um esquema de cartel formado pelas principais empreiteiras do país que tinham contratos com a estatal.

“Nós [Costa e Duque] tomamos conhecimento do cartel, sabíamos que tinha um cartel e fomos coniventes como cartel”, confirmou Costa.

O ex-diretor negou que tenha prejudicado empreiteiras que possuíam contratos com a Petrobras e que não pagavam a propina definida pelo esquema de corrupção.

“Não houve nenhum achaque por minha parte dessas empresas. Se houvesse isso ou se havia isso, por que esses empreiteiros não procuraram a Polícia Federal [para relatar isso]? As empreiteiras tinham interesse por outras partes do governo. As empreiteiras faziam isso para atender a classe política e atender as necessidades”, afirmou Costa.

O ex-dirigente afirmou que a corrupção na Petrobras começou com interferência política na gestão da empresa. Segundo ele, não se chega a diretoria da estatal sem apoio de partido.

"Eu me arrependo amargamente pelo que aconteceu. Minha família está sofrendo e eu estou sofrendo. Eu espero que esse sofrimento seja útil para passar a limpo um monte de coisa. O que aconteceu na Petrobras não foi realizado apenas por um diretor. A origem está nos maus políticos que fizeram isso. É uma oportunidade de romper um sistema podre", afirmou.

Costa já esteve em outra CPI que investigou o esquema no passado formada, mas se recusou a responder parte das perguntas dos parlamentares. Hoje está respondendo a todas as perguntas.