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Pelo menos 11 escândalos de corrupção sacudiram país desde mensalão; relembre

Do UOL, em Brasília

05/06/2015 06h00

Se para alguns brasileiros o julgamento do mensalão, revelado em junho de 2005 pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), poderia por um fim à corrupção no Brasil, uma análise dos últimos 10 anos mostra que os escândalos envolvendo atos ilegais cometidos por agentes públicos estiveram longe de acabar. Saiba mais sobre os 11 principais de casos corrupção da última década:

Mensalão tucano

Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais - Divulgação/ PSDB - Divulgação/ PSDB
Imagem: Divulgação/ PSDB

Em 2005 veio à tona o escândalo que ficou conhecido como "mensalão tucano". De acordo com o Ministério Público, o mensalão tucano foi um esquema de desvio de verbas do governo de Minas Gerais para a campanha do então candidato à reeleição Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998. De acordo com as investigações, o principal operador do esquema era o publicitário Marcos Valério, o mesmo do mensalão do PT. Azeredo sempre negou as acusações, da mesma forma como os demais réus, que respondem ao processo na 1ª instância.

Máfia dos Sanguessugas

Uma operação da Polícia Federal em 2006 desmontou um esquema de corrupção envolvendo ao menos 87 deputados e três senadores de 10 partidos. De acordo com a PF, parlamentares apresentavam emendas ao Orçamento pedindo a compra de ambulâncias em troca do recebimento de propinas pagas pela empresa Planam, que vendia as ambulâncias a preços superfaturados. Uma CPI pediu a abertura de processo contra 69 deputados e três senadores, mas ninguém foi punido. Na Justiça, o processo referente ao caso tem mais 500 réus, mas nenhum dos apontados como líderes do esquema chegou a ser punido.

Operação Satiagraha

Daniel Dantas - Fernando Donasci/Folhapres - Fernando Donasci/Folhapres
Imagem: Fernando Donasci/Folhapres

A operação da Polícia Federal comandada pelo então delegado Protógenes Queiroz prendeu, entre outros, o banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (então no PTB). A operação investigou crimes de corrupção, desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro cometidos para abastecer o esquema do mensalão.

"Atos secretos" do Senado

José Sarney - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Os atos secretos do Senado eram medidas administrativas tomadas pela cúpula da Casa e que não eram divulgados. Em 2009, uma comissão detectou pelo menos 663 atos secretos. Parte deles foi usada para nomear pessoas ligadas ao então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e a outros políticos. Uma comissão responsável pela análise do caso concluiu que os atos foram resultado de “falha humana” e que não poderiam ser anulados. Os principais apontados como responsáveis pelo caso, o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia (PTC), o ex-diretor de recursos humanos do Senado João Carlos Zoghbi e o ex-chefe do serviço de publicação do Senado Franklin Paes Landim foram condenados por improbidade administrativa pela Justiça Federal em outubro de 2014, mas ainda cabe recurso das sentenças. 

Mensalão do DEM

José Roberto Arruda - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Em 2009, a operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, desmontou um esquema de corrupção envolvendo empresas e políticos do Distrito Federal. De acordo com as investigações, empresas pagavam propinas a membros do governo do DF, inclusive ao então governador, José Roberto Arruda (à época no DEM), e a deputados distritais. Arruda chegou a ser flagrado recebendo dinheiro supostamente oriundo de propina. O ex-governador foi preso e, posteriormente solto, mas teve seu mandato cassado.

Em 2014, ele chegou a se candidatar ao governo do Distrito Federal novamente e figurava entre como favorito ao cargo, mas desistiu da candidatura devido à Lei da Ficha Limpa. Em  abril de 2014, a Justiça do Distrito Federal aceitou denúncias criminais contra 19 pessoas acusadas de envolvimento no esquema, incluindo Arruda. Sua defesa nega as irregularidades. 

Caso Erenice

Em setembro de 2010, uma reportagem publicada pela revista "Veja" afirmava que então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, teria atuado em favor de empresas para viabilizar negócios junto aos Correios. 

Essas empresas teriam utilizado os serviços de uma consultoria comandada pelo filho da então ministra Israel Guerra. Duas semanas depois, o jornal "Folha de S. Paulo" trouxe relato de empresários que confirmaram a existência de lobby dentro da Casa Civil e acusam uma empresa em nome de um dos filhos da então ministra, Saulo Guerra, de cobrar dinheiro para conseguir a liberação de empréstimos junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Erenice, que era apontada como amiga pessoal da então candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT), nega as acusações, mas acabou exonerada. O escândalo veio à tona em pleno ano eleitoral. Em julho de 2012, o inquérito que investigava o suposto caso de tráfico de influência foi arquivado pela Justiça Federal por falta de provas.

Escândalo no Ministério dos Transportes

Uma série de reportagens publicadas em 2011 indicaram irregularidades como superfaturamento em obras sob responsabilidade do Ministério dos Transportes, então comandado pelo senador Alfredo Nascimento (PR-AM).

Segundo as reportagens, parte dos valores superfaturados eram direcionados aos cofres do PR e de políticos da sigla. Menos de uma semana depois das reportagens começarem a ser publicadas, Alfredo Nascimento deixa o cargo. Segundo auditores da CGU (Controladoria Geral da União), pelo menos R$ 760 milhões teriam sido desviados pelo esquema.

Em agosto de 2013, PGR (Procuradoria Geral da República) pede a abertura de um inquérito no STF contra Nascimento e o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, até então apontados como líderes do esquema.

Em dezembro de 2013, a PGR pede o arquivamento do inquérito alegando falta de provas contra a dupla.

Caso Cachoeira

Carlinhos Cachoeira - Sergio Lima/Folhapress - Sergio Lima/Folhapress
Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Em fevereiro de 2012, a operação Monte Carlo da Polícia Federal prendeu o empresário Carlinhos Cachoeira, apontado como operador de um esquema que incluía a exploração ilegal do jogo do bicho e a intermediação de contratos de empresas privadas com órgãos públicos. Entre as empresas beneficiadas pelo esquema estaria a empreiteira Delta. 

As gravações feitas pela PF revelaram também que Cachoeira mantinha estreitas ligações com políticos tanto governistas quanto de oposição, entre eles o ex-senador Demóstenes Torres, então no DEM.

Após as revelações de que Torres atuaria em favor dos negócios de Cachoeira, o então senador é cassado pelo Senado por quebra de decoro parlamentar. Em dezembro de 2012, Cachoeira foi condenado a 39 anos e oito meses de prisão por crimes como corrupção ativa, formação de quadrilha e peculato.

Como a cabe recurso em relação à decisão, Cachoeira conseguiu um habeas corpus para responder ao restante do processo em liberdade.

Máfia do ISS

Em outubro de 2013, uma operação do Ministério Público de São Paulo e da CGM (Controladoria-Geral do Município) prendeu quatro servidores municipais suspeitos de fazer parte de um esquema de desvio de recursos referentes ao ISS (Imposto sobre Serviços) na capital paulista.

De acordo com as investigações, um grupo de servidores cobrava propina de empreiteiras em troca do abatimento de dívidas fiscais. Estimativas indicam que os desvios tenham chegado a R$ 500 milhões.

Segundo as investigações, o esquema seria comandado pelo ex-subsecretário da Receita Municipal de São Paulo Ronilson Bezerra Rodrigues. Pelo menos 11 pessoas já foram denunciadas pelo esquema e os processos ainda tramitam na Justiça

Cartel do Metrô de São Paulo

Robson Marinho - Julia Moraes - 13.fev.2008/Folhapress - Julia Moraes - 13.fev.2008/Folhapress
Imagem: Julia Moraes - 13.fev.2008/Folhapress

Em maio de 2013, a empresa alemã Siemens revelou a suposta existência um cartel que fraudava licitações para a venda e manutenção de metrôs e trens metropolitano de São Paulo durante as gestões dos governadores tucanos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin.

Segundo a denúncia, a empresa reconheceu ter pago propinas a autoridades dos governos do PSDB. O cartel teria ainda a participação de empresas como Alstom, Bombardier, CAF e Mitsui. Covas morreu em abril de 2001, vítima de um câncer. Serra e Alckmin negam participação no esquema.

Executivos das empresas envolvidas são denunciados pelo Ministério Público. Em fevereiro de 2015, a Justiça de São Paulo bloqueou os bens do conselheiro do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) Robson Marinho (foto). Investigações indicam que ele teria recebido propinas da empresa Alstom. 

Operação Lava Jato

Alberto Youssef - Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo - Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo
Imagem: Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo

Em março de 2014, uma operação deflagrada pela Polícia Federal desmontou um esquema de superfaturamento de obras, lavagem de dinheiro e pagamento de propinas estimado em pelo menos R$ 10 bilhões.

De acordo com as investigações, empreiteiras fraudavam licitações para conseguir contratos superfaturados junto à Petrobras. A lavagem de dinheiro ficava a cargo de operadores como o doleiro Alberto Youssef (foto), um dos principais delatores do esquema.

Segundo as denúncias formuladas pelo MPF (Ministério Público Federal), parte do dinheiro repassado pelas empreiteiras a partidos e políticos, entre eles o PMDB, PT e PP. Desdobramentos da operação Lava Jato indicam que o esquema poderia estar em funcionamento junto a outras empresas estatais.

Em março de 2015, a PGR (Procuradoria Geral da República) pediu a abertura de inquérito contra 54 pessoas supostamente envolvidas no esquema, entre elas os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).