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Nos EUA, Dilma nega irregularidades em campanha e diz que não respeita delator

Do UOL, em Brasília*

29/06/2015 14h40Atualizada em 29/06/2015 20h53

A presidente Dilma Rousseff (PT) negou nesta segunda-feira (29), durante entrevista em Nova York, qualquer irregularidade em sua campanha eleitoral e disse "não respeitar delatores". Na semana passada, a imprensa divulgou que o ex-presidente da UTC, Ricardo Pessoa, teria afirmado em sua delação premiada na operação Lava Jato que deu dinheiro à campanha da petista. "Eu não respeito delator. Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é que é. Tentaram me transformar em uma delatora",  disse a presidente.

A presidente, que está em viagem oficial aos Estados Unidos, disse que todos os recursos arrecadados por sua campanha foram legais e registrados e afirmou não aceitar que insinuem qualquer irregularidade contra ela ou sua campanha. Dilma ressaltou que a empresa também fez doações a seu adversário no segundo turno da eleição presidencial, Aécio Neves (PSDB), em valores semelhantes aos recebidos por sua campanha. "Eu não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou a minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro porque não houve. Segundo, se insinuam, alguns têm interesses políticos."

"E há um personagem que a gente não gosta, porque as professoras nos ensinam a não gostar dele. E ele se chama Joaquim Silvério dos Reis, o delator. Eu não respeito delator", observou, mencionando o homem que traiu os participantes da Inconfidência Mineira.

Ricardo Pessoa afirmou, na delação, que repassou R$ 3,6 milhões de caixa dois para o ex-tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, José de Filippi, e para o ex-tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, entre 2010 e 2014. 

Na última quinta-feira (25) o STF (Supremo Tribunal Federal) homologou a delação do empresário, o que significa que as informações prestadas por ele em depoimento à Procuradoria Geral da República poderão ser utilizadas como indícios para ajudar as investigações.

Apesar de criticar delatores, a presidente afirmou que a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal devem investigar as acusações. "Tudo, sem exceção", ressaltou.

Os supostos pagamentos a José de Filippi Jr. relacionados pelo ex-presidente da UTC somam R$ 750 mil e teriam sido feitos nos anos eleitorais de 2010, 2012 e 2014. Há apenas um pagamento fora da calendário eleitoral, no ano de 2011, de R$ 100 mil.

Em 2010, quando era tesoureiro da campanha de Dilma, conforme a planilha, ele teria recebido de caixa dois R$ 250 mil. No TSE (Tribunal Superior Eleitoral) há registro de repasse de R$ 1 milhão da UTC para a direção nacional do PT. Na prestação da campanha de Dilma, não há registro de doação da empreiteira nem da Constran, um dos seus braços. Nos demais anos, a planilha do "caixa dois" indica repasses nos valores de: 2012 (R$ 200 mil); 2013 (R$ 100 mil) e 2014 (R$ 100 mil).

Pessoa chegou a arrolar Fillipi como sua testemunha de defesa no processo em que o empreiteiro é acusado de chefiar o esquema de empreiteiras que pagava propina para executivos e partidos políticos em troca de conseguir os melhores contratos na petroleira.

Pessoa entregou à Procuradoria-Geral da República planilha intitulada "Pagamentos de caixa dois ao PT" na qual lista repasse de R$ 250 mil à campanha do atual ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) ao governo de São Paulo, em 2010. O empresário acusa o também ministro Edinho Silva (atualmente na Secretaria de Comunicação Social) de tê-lo pressionado para doar R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma em 2014, sob o risco de perder contratos na Petrobras, segundo a revista "Veja". Os dois ministros negam as acusações e dizem que as doações foram legais.

Com o vazamento da delação de Pessoa, Mercadante deixou de viajar aos Estados Unidos e ficou em Brasília, segundo fontes, para evitar que a crise embarcasse junto com a comitiva presidencial. A medida, acreditam auxiliares da presidente, serviu para proteger o governo do escândalo e deixá-lo circunscrito ao território nacional e minimizar o desconforto com o episódio.

Filippi disse, em nota, que durante o pleito de 2010 manteve contato "de forma transparente com diversas empresas em busca de doações eleitorais, portanto legalmente registradas, incluindo o senhor Ricardo Pessoa".

A revista "Veja" deste final de semana aponta que a delação premiada de Pessoa traz menção a pelo menos 16 políticos. Além de Dilma, o delator citaria a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de 2006. De acordo com a publicação, a delação conta com 40 anexos com planilhas e documentos. Pessoa apontou ainda o repasse de R$ 250 mil a Mercadante; de R$ 15 milhões a Vaccari Neto e de R$ 3,2 milhões a Dirceu. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), recebeu R$ 2,6 milhões e o secretário de saúde do petista, R$ 750 mil.

(*Com informações da Reuters e do Estadão Conteúdo)