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Investigação da Lava Jato não chega a 30% do que ocorre na Petrobras, diz delegado

O procurador de Justiça Carlos Fernandes Santos Lima (dir), o delegado da PF Igor Romário de Paula (centro) e o superintendente da PF do PR, Rosalvo Ferreira, em entrevista - Gisele Pimenta - 15.abr.2015/Estadão Conteúdo
O procurador de Justiça Carlos Fernandes Santos Lima (dir), o delegado da PF Igor Romário de Paula (centro) e o superintendente da PF do PR, Rosalvo Ferreira, em entrevista Imagem: Gisele Pimenta - 15.abr.2015/Estadão Conteúdo

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

05/08/2015 12h49

O que a operação Lava Jato apurou até agora não chega a 30% das irregularidades que ocorrem na Petrobras, segundo o delegado regional de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Igor Romário de Paula, que coordena as investigações do caso. Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta quarta-feira (5), ele informou que as apurações estão longe do fim e que a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) não foram citados por delatores.

Em 28 de julho, foi desencadeada a 16ª fase da operação. Denominada "Radioatividade", a investigação entrou num novo campo, o do setor elétrico. Entretanto, isso não fez com que se esgotassem as apurações dentro da estatal do petróleo, que parecem estar longe de cessar.

"A abertura da investigação no setor elétrico foi o momento em que a gente conseguiu reunir um número maior de provas de forma consistente. Mas não esgotou a [investigação dentro da] Petrobras. Um colega fez um levantamento preliminar e eu diria que a gente investigou nem 30% do que ocorre na Petrobras", afirmou.

O delegado se disse surpreso com o tamanho que a investigação tomou desde sua primeira fase, deflagrada em 17 de março de 2014. "Não se faz ideia de até onde vai isso. Imaginamos que esse ano as coisas iam ficar mais cadenciadas, mas foi o contrário. No ano passado fizemos sete fases, e nesses sete primeiros meses [de 2015] já foram dez. Realmente não tem previsão nenhuma [para encerrar]. Enquanto pudermos ir avançando na investigação, vamos avançar", salientou.

De Paula explicou que os alvos das investigações não são determinados pelos testemunhos de delatores, mas por fatos concretos. Ele citou, por exemplo, a prisão do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, nessa segunda-feira. "Não basta o delator trazer só a palavra dele. Ele tem que trazer alguma coisa que comprove o que ele está relatando. No caso do ex-ministro José Dirceu, por exemplo, temos pelo menos cinco delatores falando, trazendo elementos, além das provas conseguidas pela PF e pelo Ministério Público. Não há nenhuma medida autorizada pelo juízo baseada somente na palavra de um dos delatores."

O delegado destaca que há investigações de denúncias de irregularidades dentro da estatal que teriam ocorrido em outros governos. Entretanto, avalia ser normal que a repercussão se dê apenas contra os mandatos petistas. "Há fatos envolvendo a estatal sendo investigados para anos anteriores à entrada do atual partido que governa o país. Tem fatos anteriores a 2002, ano do início do governo do PT que também são investigados. Mas é normal recair em indicações do partido [PT], porque são fatos mais recentes." 

Mas ressalta: "Infelizmente estamos vendo que se reproduziu esse modelo de negociação e contratação em todas as esferas do governo." E completa: "São estruturas que funcionam há décadas e décadas no Brasil. Vamos ver até onde vamos ter pernas e braços para avançar."

Especificamente contra a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves não há, até o momento, nenhum indício sendo investigado pelos policiais. "Tem um detalhe específico, porque delações com foco em pessoas com foro privilegiado foram firmadas com um grupo da Procuradoria Geral da República com  o Supremo Tribunal Federal. Mas, em primeira instância, não houve menção a nenhum dos dois", ponderou o delegado. "Não há nenhum indício, até o momento, que ela [Dilma] tenha participado de algo que está sendo investigado", revelou.

O responsável pela operação negou ter recebido qualquer ameaça ou ser coagido durante as investigações, e reafirmou que nenhum policial, procurador ou mesmo o juiz Sérgio Moro teriam passado por situação semelhante. 

Sobre o montante até agora recuperado, ele conta ser a maior quantia já repatriada na história do país. "A gente tem até agora devolvido, ressarcido, e depositado em contas da vara federal algo em torno de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões, mais uns R$ 300 milhões a R$ 400 milhões bloqueados, aguardando ressarcimento. Comparando com a estimativa de prejuízo, é infinitamente menor. Mas comparando com tudo o que já se conseguiu recuperar até hoje no Brasil, é dezenas de vezes maior. Até o início da Lava Jato, as instituições, tanto o Ministério da Justiça, PF e MP,  havia um total de repatriação de valores inferior a R$ 100 milhões."