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Serra crê que Dilma não completa mandato, mesmo sem provas para impeachment

Do UOL, em São Paulo

18/08/2015 00h06

O senador José Serra (PSDB-SP) afirmou na noite desta segunda-feira (17) que considera difícil a presidente Dilma Rousseff (PT) chegar ao fim o mandato, previsto para terminar em 2018.  “Acho difícil [Dilma concluir o governo]”, declarou durante o programa “Roda Viva”, exibido pela TV Cultura, de São Paulo, nesta segunda-feira (17). No entanto, disse crer que é possível evitar uma crise institucional se houver mudanças no atual governo federal.

Para o político tucano, ex-governador e ex-prefeito de São Paulo, não há provas no momento para a abertura de um processo e a aprovação do impeachment da petista. "Você não luta pelo impeachment. Você tem que ter motivos claros. Tendo motivos claros, acho que devem votar pelo impeachment. Não existem ainda comprovadamente [razões para o impeachment de Dilma]. Sempre tem um componente político [no processo de impeachment], mas estamos numa etapa anterior”, afirmou. “No presidencialismo, você não tira o governo só porque ele é ruim.”

Na opinião de Serra, a presidente não tem rumo nem um programa de governo. “Dilma, na prática, não tem governado. O principal programa [dela] é não sair do governo.”

Para o tucano, impeachment não é sinônimo de golpismo e é possível neutralizar o risco de ruptura da democracia em caso de queda da presidente. No entanto, não descartou que pode participar, assim como o PSDB, de um eventual governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB). “Não sei o que vai acontecer, mas darei força para o que vier em seguida.”

Serra fez as declarações um dia depois dos protestos contra o governo que reuniram quase 800 mil pessoas no país. O tucano participou da manifestação na avenida Paulista, em São Paulo. Nesta segunda, seus colegas de partido fizeram afirmações duras contra a gestão Dilma Rousseff.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a renúncia seria um gesto de grandeza da presidente. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) declarou que o partido apoiará o impeachment de Dilma. Apesar do tom mais elevado das declarações, Serra disse que os tucanos não combinaram uma “guinada” de comportamento em relação ao governo petista.

Pior crise

Na avaliação do ex-governador de São Paulo, a crise econômica tem origem em decisões tomadas no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo ele, teria incentivado o consumo e desperdiçado a chance de investir em infraestrutura. As condições ruins da economia vão dificultar a vida de quem eventualmente suceder Dilma, que "vai comer o pão que o diabo amassou”.

O parlamentar aproveitou para disparar críticas ao PT: o partido não tem quadros para renovar o governo e, pressionado por denúncias de corrupção, virou um mau exemplo para a sociedade.

“A questão da corrupção não tem apenas efeito só material, ela tem um efeito moral sobre o país. Porque o PT era uma reserva moral. Quando de repente aquilo que aparecia como reserva moral se transforma num lulopetismo que governa com a corrupção como método. Numa primeira etapa, o efeito disso foi liberar geral. Você imagina o mau exemplo que é para a sociedade.”

Serra declarou que a crise atual é a maior que já viveu. “Nunca vivi uma situação tão enrolada. Do ponto de vista de complicação, talvez este é o maior nó que já vi na minha vida.”

O senador avaliou que a situação também seria difícil caso o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tivesse vencido a eleição no ano passado, mas que a mudança política melhoraria as perspectivas do país. “O quadro econômico seria muito difícil e teria impopularidade. Mas teria uma vantagem. Quem chega novo no governo tem crédito de confiança, e Dilma não teve esse crédito.”