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Sem irrigação, 'cidade natal' da transposição sofre com seca e desemprego

Estação de bombeamento em um dos canais que está sendo edificado para a transposição do rio São Francisco, em Cabrobó, - Ueslei Marcelino/Reuters
Estação de bombeamento em um dos canais que está sendo edificado para a transposição do rio São Francisco, em Cabrobó, Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió (AL)

21/08/2015 06h00

As obras da transposição do rio São Francisco  em Cabrobó (a 530 km do Recife) estão prestes a terminar, mas as contrapartidas prometidas pelo governo federal não foram cumpridas.

É na cidade do sertão de Pernambuco onde haverá a captação da água do rio - e vai receber a visita da presidente Dilma Rousseff nesta sexta-feria (20). No local será inaugurada a primeira estação de bombeamento para o canal do eixo norte da transposição do rio, obra em andamento há mais de sete anos.

Cabrobó viveu um auge econômico quando do anúncio das obras e seu início, especialmente no setor de construção civil, mas agora sofre com a crise causada pela falta de estrutura para lidar com a seca. O desemprego é a pior consequência.

O problema é que a cidade não se preparou para a queda de arrecadação e no número de trabalhadores empregados. A prefeitura alega que as obras de compensação - prometidas pelo governo federal no começo do projeto - não foram feitas. Esse fator ajudou contribuiu para a menor circulação de dinheiro na região.

Segundo a administração municipal, foram cedidos 49 quilômetros de extensão de território para captação e construção de canal que levará água até o Ceará, mas as contrapartidas não vieram, como um projeto de irrigação para beneficiar os moradores da zona rural. Mesmo às margens do rio, o município tem 80% do seu território em áreas de sequeiro.

“O canal vai sair de um lado ao outro e será cercado. Se tiver alguma coisa para beneficiar Cabrobó, não nos avisaram”, diz o prefeito Auricélio de Torres (PSB).

Outro problema, segundo o prefeito: das 1.050 casas prometidas – 500 delas na zona rural -, só 180 foram construídas. “Tudo bem que a água é coisa da natureza, mas vão tirar boa parte do nosso território e não vão deixar nada de contrapartida?"

Desemprego

Com o fim das obras na cidade, os 500 trabalhadores do município contratados foram dispensados e estão sem ocupação e perspectivas. A cidade vive da agricultura, e o fraco comércio foi duramente afetados.

"Não há emprego. Queríamos o projeto para distribuir lotes com água para o povo plantar. Temos vocação para a agricultura. Precisamos disso. Somos a cidade onde há menos chuva na região. Em 2015 o total de chuva foi de 180 milímetros. O projeto [de irrigação] seria uma recompensa, algo sustentável para gerar emprego e renda. Sem emprego, a criminalidade aumento”, disse o prefeito.

Irrigação

A solução, diz Torres, seria implantar um projeto de irrigação da região conhecida como Maria Preta. O governo teria prometido irrigar ali uma área de 5.000 hectares. Hoje, Cabrobó só tem hoje 100 hectares irrigados, investimento realizado na gestão do governador Eduardo Campos PSB, morto em acidente aéreo no ano passado).

O prefeito de Carobó quer aproveitar a visita de Dilma para pedir, novamente, a execução das obras. “Queremos que o governo federal faça o projeto de irrigação de graça, porque eles têm técnicos para isso. E vamos novamente cobrar essas habitações que prometeram antes da obra. O governo precisa ajudar, as pessoas aqui se acostumaram com a obra, a prefeitura se acostumou a arrecadar até R$ 800 mil por mês de ISS; hoje, arrecada R$ 13 mil.

A reportagem do UOL procurou o Ministério da Integração Nacional para que comentasse as cobranças do prefeito, mas não obteve informações - não haveria técnicos livres por todos estarem envolvidos na inauguração da obra.

A obra

Dados de julho apontam 77,8 % da obra já está pronta. Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (18),o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, explicou que a inauguração que será feita pela presidente nesta sexta-feira será da primeira estação de bombeamento, mas que ainda não é capaz de levar água a outro município.

“Com esse bombeamento, a água vai correr 45,9 km dentro do canal e também vai encher açudes e reservatórios que foram construídos dentro desse trecho. Chega bem próximo à segunda estação, que é uma outra elevação. Ao final da terceira etapa, a água chegará a 188 metros de altura e descerá por gravidade aos outros locais”, disse.

Na estimativa do ministro, se a obrar continuar no ritmo que está - hoje avança 1,2% ao mês -, a obra estará pronta em dezembro de 2016 ou início de 2017.

Segundo ele, não houve atraso da obra. Occhi conta que, em um dos trechos, por exemplo, houve saída de uma empreiteira e a necessidade outro edital de licitação. "Isso leva tempo", completa, citando que, dos R$ 8 bilhões previstos para a obra, R$ 6,8 bi já foram pagos. “O andamento da obra está dentro da capacidade. Não é a colocação de mais recursos que a fará antecipar. A execução física não é capaz de fazer mais do que está sendo feito. A obra tem o pagamento feito rigorosamente em dia, sem atrasos.” 

No ano passado, na última visita que fez a obra, a presidente Dilma Rousseff afirmou que houve atraso na obra em relação prazo previsto de entrega (2012) porque o governo federal subestimou a complexidade da transposição.