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Diante de investigados, Janot diz que Justiça deve ser para "fortes e para fracos"

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

26/08/2015 10h43Atualizada em 26/08/2015 11h32

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta quarta-feira (26) que a Justiça deve ser para “fortes e para fracos”. A declaração foi feita durante a sabatina a que Janot é submetido na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, terceira etapa do processo em que Janot tenta a recondução ao cargo por mais dois anos. Dos 27 titulares da comissão, oito são investigados por Janot por suposta participação no esquema apurado pela operação Lava Jato. Dois dos suplentes também estão na mira da investigação.

A sabatina começou com uma apresentação que durou aproximadamente 17 minutos feita por Janot, na qual falou sobre sua passagem pela PGR entre os anos 2013 e 2015. “Em 2013, quando aqui estive para ser sabatinado, ressaltei a importância da impessoalidade na atuação estatal e lembrei que a régua da Justiça deve ser isonômica e sua força deve se impor a fortes e a fracos, ricos e pobres. Tal mensagem que a linguagem simples do povo traduz: o pau que dá em Chico dá em Francisco”, afirmou, repetindo um bordão que tem usado.

A sabatina de Janot começou às 10h. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse na semana passada que a ideia é levar a indicação de Janot à votação no plenário do Senado ainda nesta quarta-feira. 

O processo de indicação de Janot está marcado pela tensão entre o PGR e políticos da Câmara e do Senado. Em março deste ano, ele pediu a abertura de inquérito contra 54 pessoas por conta do suposto envolvimento delas no esquema de desvio de recursos da Petrobras investigado pela Lava Jato. Entre os investigados estão Renan Calheiros, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o senador  e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL).

Na última segunda-feira (24), Collor, que não é membro da CCJ, mas participa da sabatina, usou a tribuna do Senado para chamar o procurador de “sujeitinho à toa” e “fascista”. No dia 6 de agosto, Collor também usou a tribuna do Senado para xingar Janot de “filho da puta”. 

Janot afirmou ainda que o gabinete que ocupa vai receber em breve uma  "certificação internacional de qualidade" por conta de "processo de aperfeiçoamento" iniciado, segundo ele, em sua gestão, "que permitiu transparência, redução de estoque de processos, diálogo com os três Poderes e atendimento à sociedade civil".

Sobre sua motivação para continuar à frente do cargo, Janot disse que sua intenção não tem como objetivo a "satisfação do ego". De acordo com o procurador, a motivação se dá pelo apoio dado por integrantes do Ministério Público, que fez com que ele conquistasse 799 votos, liderando a lista tríplice da categoria. "O que me motiva a pretender novo mandato de procurador-geral da República? Digo a vossas excelências que esse desejo não se basta à satisfação do ego nem à sofreguidão do poder. Não é isso que me move."

O procurador mencionou ainda que o país vive um "momento difícil". "Todos percebemos que o país vive um momento particularmente delicado nas relações sociais agravado pelas dificuldades da economia", disse, sem entrar em detalhes, que não se pode diminuir "os fatores que ameaçam obstruir o diálogo institucional".

Sem fazer menções diretas à operação Lava Jato, Janot disse que o Brasil tem hoje um "grave caso de corrupção" que está sendo investigado. Ele reconheceu, contudo, que nesse processo de apuração dos fatos existem percalços, mas que "todos testemunhamos o amadurecimento das instituições" e defendeu a "atuação responsável do Ministério Público". "As relações [entre os Poderes] não se rompem pelo exercício responsável e isento das atribuições que me foram concedidas."