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Em acareação, Duque diz que delator é mentiroso e critica 6 meses de prisão

Do UOL, em Brasília

02/09/2015 12h06Atualizada em 02/09/2015 13h10

O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque chamou Augusto Mendonça, ex-executivo da Toyo Setal e delator do esquema do petrolão, de mentiroso durante acareação promovida nesta quarta-feira (2) pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras em Curitiba. Mendonça disse que repassava propina a Duque e ao PT por meio de doações intermediadas pelo ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, que também participou da acareação. Duque criticou ainda a Justiça, que o mantém preso há seis meses.

A operação Lava Jato investiga irregularidades em contratos de empreiteiras com a Petrobras. Segundo as investigações, empresas teriam formado um cartel para superfaturar contratos com a estatal. Parte do dinheiro obtido com o superfaturamento seria repassada para políticos e partidos como o PT, PMDB e PP.

No início da acareação, Augusto Mendonça foi questionado se ele confirmava os depoimentos dados à Justiça Federal nos quais ele relatava o pagamento de propina a Duque e as doações feitas ao PT. Segundo Mendonça, as doações feitas ao PT seriam descontadas do “saldo” de propina que deveria ser repassada a Renato Duque.

Ao ser questionado sobre as declarações de Mendonça, Duque atacou o delator. “Conforme orientação do meu advogado, vou me manter em silêncio e só gostaria de deixar ressaltado que o senhor Augusto é um mentiroso.  Ele mente na delação e ele sabe que está mentindo”, afirmou.

Questionado sobre os ataques de Duque, Mendonça manteve-se calmo. “Eu confirmo tudo o que eu disse nos meus depoimentos”, afirmou.

Em meio ao clima tenso entre Duque e Mendonça, João Vaccari Neto não respondeu aos questionamentos feitos pelos deputados. “Vou me manter em silêncio”, repetia Vaccari na maior parte das vezes em que foi questionado pelos parlamentares.

Tigrão

Um dos momentos inusitados da acareação entre Vaccari, Mendonça e Renato Duque aconteceu quando o deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) questionou Augusto Mendonça sobre quem seria a pessoa que faria repasses de propina a Renato Duque.

Em sua delação, Mendonça citou uma pessoa cujo apelido seria “Tigrão”. Côrtes perguntou quem seria essa pessoa.
Mendonça respondeu afirmando que não saberia dizer quem ela seria. “Eu não posso responder por que esse é um codinome.  Eram três pessoas diferentes com o mesmo nome”, afirmou.

Renato Duque, por sua vez, rebateu a declaração de Mendonça. “Ele disse que esse Tigrão tinha entre 1,7 m e 1,8 m. Grande parte da população adulta atende à característica do Tirgão, meio gordinho... Agora o Tigrão são três pessoas”, afirmou.

Mendonça, que é um dos principais delatores do esquema investigado pela operação Lava Jato, disse em depoimento à Justiça Federal que a Odebrecht comandava um cartel de empresas que superfaturava contratos com a Petrobras. Segundo ele, as empresas pagavam propinas a diretores da Petrobras por temer retaliações nos contratos com a estatal. 

Em abril, quando também depôs à CPI, Augusto Mendonça defendeu a Petrobras e disse que a corrupção na estatal se restringiria aos ex-diretores Renato Duque e Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e ao ex-gerente da estatal Pedro Barusco. Costa e Barusco são delatores do esquema.
João Vaccari, por sua vez, foi preso em abril deste ano. Em março, ele havia sido denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) por crime de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. De acordo com o MPF, Vaccari participou de reuniões com Renato Duque nas quais eram acertados repasses de propinas ao PT oriundos esquema investigado pela operação Lava Jato.

Duque reclama de seis meses de prisão

Renato Duque criticou o Judiciário. Ele foi preso em março deste ano pela PF (Polícia Federal)  durante a 10ª fase da operação Lava Jato. Segundo ele, sua prisão não tem justificativa. “Como pai , marido e como avô, acho que seis meses de prisão não tem justificativa, mas respeito a Justiça”, afirmou.

Vaccari, que também está preso, foi questionado sobre sua prisão, voltou a repetir que iria se manter em silêncio. 

A prisão de Duque foi decretada pelo juiz Sérgio Moro. Em agosto deste ano, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou um pedido de liberdade feito por Duque e pelo ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró.

O diretor da agência de publicidade Borghi Lowe, Ricardo Hoffmann, foi o primeiro a prestar depoimento à CPI nesta quarta-feira. Orientado por seus advogados, Hoffmann optou por não responder às perguntas dos parlamentares da CPI. Hoffmann é investigado por conta de contratos mantidos pela agência com o Ministério da Saúde, em uma ramificação das investigações da operação Lava Jato.

As investigações indicam que o ex-deputado federal André Vargas intermediava contratos para a agência de Hoffmann. Em contrapartida, a agência repassava valores a empresas de Vargas e seu irmão, Leon Vargas, por meio de subcontratações de serviços.

O segundo a depor foi o lobista Fernando Moura, que adotou a mesma tática de Hoffmann e evitou responder as perguntas dos deputados. Fernando Moura é apontado como o lobista responsável pela indicação de Renato Duque à diretoria de Serviços da Petrobras.  Ainda segundo as investigações, Moura seria ligado ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que também é investigado pela operação Lava Jato.