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Ex-prefeita maranhense que ostentava terá de ficar presa em Pedrinhas

Lidiane Leite, ex-prefeita de Bom Jardim - Reprodução/Facebook
Lidiane Leite, ex-prefeita de Bom Jardim Imagem: Reprodução/Facebook

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

28/09/2015 22h09

A ex-prefeita de Bom Jardim (MA), Lidiane Leite da Silva (sem partido), terá de ficar detida na Penitenciária Feminina de Pedrinhas. A decisão foi tomada na noite desta segunda-feira (28) pela juíza Ana Maria Almeida Vieira, titular da 1ª Vara de Execuções Penais de São Luís e Corregedora dos Presídios.

Lidiane estava foragida havia 39 dias sob a acusação de diversas irregularidades em sua administração, entre as quais desvio de dinheiro público. Ela se entregou à Polícia Federal no começo da tarde desta segunda-feira  em São Luís. Seus advogados conseguiram na Justiça Federal uma ordem para que ela ficasse presa no quartel do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão, na capital maranhense.  

Após prestar depoimento ao delegado Ronildo da Silveira, a ex-prefeita se submeteu a exame de corpo de delito no Icrim (Instituto de Criminalística) e ficaria detida na sede do Corpo de Bombeiros.

De acordo com os advogados de Lidiane, ela só permaneceu foragida porque queria garantia de que não seria enviada para Pedrinhas, considerado "muito violento e sem condições de segurança". A Justiça Federal atendeu ao pedido para que ela se entregasse.

Porém, a Sejap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária) informou que recebeu uma determinação da Vara de Execuções Penais para que a ex-prefeita seja transferida imediatamente para a Penitenciária Feminina de Pedrinhas.

Na decisão, a juíza Ana Maria Vieira informa que a carceragem do quartel do Corpo de Bombeiros é destinada somente a presos militares masculinos e a Penitenciária Feminina de Pedrinhas é a única unidade prisional destinada a mulheres no Estado.

Em nota, nesta segunda-feira, a Justiça Federal havia justificado que a ex-prefeita iria ficar custodiada no quartel “para manter a integridade física da investigada, diante na notoriedade e da repercussão sobre o caso”.

Lifiane estava foragida desde o dia 20 de agosto, quando a polícia deflagrou a operação Éden para cumprir três mandados de prisão. Foram presos o ex-marido dela e ex-secretário de Assuntos Políticos, o fazendeiro Humberto Dantas dos Santos, e o ex-secretário de Agricultura Antônio Gomes da Silva.

A ex-prefeita foi cassada do cargo no começo no dia 9 de setembro, quando os vereadores realizaram sessão extraordinária e entenderam que a perda do cargo ocorreria porque a Lei Orgânica do município diz que o prefeito não pode se afastar por mais de dez dias sem comunicar a Casa. Porém, os vereadores esperaram o prazo de 15 dias para realizar a sessão atendendo a legislação federal.

Entre as acusações que pesam sobre ela está a de desviar recursos destinados à merenda escolar, reforma e construção de escolas no município.

No cargo, a prefeita ficou conhecida por ostentar suposta riqueza em eventos na cidade e nas redes sociais, posando para fotos de viagens, festas, carros e roupas caras - em 2012, Lidiane, para se candidatar à prefeitura, declarou à Justiça Eleitoral que não possuía bens.

No dia 26 de agosto, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou o pedido de habeas corpus. A ministra do STJ, Maria Thereza de Assis Moura, negou o pedido de liminar que solicitava informações e determinava vista ao MPF (Ministério Público Federal).

Enxurrada de ações

A ex-prefeita de Bom Jardim responde a pelo menos oito ACPs (Ações Civis Públicas) na Justiça do Maranhão desde 2013, quando assumiu o mandato. Uma delas resultou no afastamento temporário dela em dezembro de 2014 por descumprir ordens judiciais relativas à regularização das aulas na educação infantil e fundamental, fornecimento de merenda e transporte escolar. As ações foram impetradas pelo Ministério Público.

Uma outra ação, em andamento, pede a regularização dos salários dos professores, que tiveram os vencimentos reduzidos sem justificativa no mês de outubro de 2014.

O Ministério Público acusa a prefeitura de dispensar os alunos das escolas municipais mais cedo das aulas por falta de merenda. Também há queixas de falta de transporte escolar. Ao assumir o cargo, a prefeita demitiu 300 professores.

Com tantas irregularidades, os promotores de Justiça estudam pedir a interdição judicial do município de Bom Jardim. Segundo a promotora Karina Freitas Chaves, durante as investigações, a prefeitura teria se negado a enviar documentos das licitações realizadas na educação e a única alternativa foi entrar na Justiça pedindo um mandado de busca e apreensão de documentos , além das prisões, para que os acusados não atrapalhem as investigações.

Promessas

No discurso de posse, em 2013, Lidiane prometeu fazer uma "mudança em Bom Jardim" porque, durante a campanha, havia conhecido a "triste realidade" da população carente. Ela também destacou que iria oferecer melhor educação para as crianças.

"Iremos trabalhar junto a este povo tão carente e tão sofrido. Deus sabe o coração que eu tenho, que nesses quatro anos quanto irá dar certo, que Bom Jardim irá para frente, que Bom Jardim irá para um futuro melhor. Que nós teremos mais educação para as nossas crianças. Faremos valer a vontade do povo, foi o povo que me elegeu e é para o povo que eu vou trabalhar", disse na ocasião, emocionada.

Em entrevista ao UOL, o advogado da prefeita, Carlos Sérgio de Carvalho, afirmou que ela teria recursos próprios para justificar a vida de luxo que vive e negou que ela tenha usado qualquer recurso público em benefício particular. Segundo ele, o salário de R$ 12 mil da prefeitura, os bens deixados pelo ex-marido e um "namorado rico" explicam a qualidade de vida da prefeita.