Planalto não pode e nem deve apoiar afastamento de Cunha, diz líder

O líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), disse nesta terça-feira (13) que o Palácio do Planalto não "pode e nem deve" apoiar o afastamento do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defendido por partidos de oposição e pelo PSOL.

Cunha é suspeito de manter contas na Suíça e movimentar recursos oriundos do pagamento de propinas. "O governo nem pode e nem deve [apoiar a saída de Cunha]. Estou falando pelo governo, não estou falando pelo PT e nem por outros partidos. O governo não vai se intrometer nisso”, afirmou Guimarães.

A declaração de Guimarães é vista como uma estratégia do governo para evitar que Cunha defira algum dos pedidos de impeachment que tramitam contra a presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados.

Para o líder do governo na Câmara, não é papel do governo apoiar ou “desapoiar” os pedidos de afastamento contra Cunha. “Não é papel de qualquer governo apoiar pedido de impeachment [do presidente da Câmara] ou de afastamento”, afirmou Guimarães. “O governo, neste momento, estende a bandeira da paz”, disse o líder.

Junto ao governo, o temor é de que as revelações sobre as contas secretas supostamente mantidas por Cunha possam fazer com que o presidente acolha alguns dos pedidos de impeachment que tramitam na Câmara contra Dilma.

Nesta terça-feira, Cunha anunciou que irá adiar a análise do pedido de impeachment feito pelo jurista Hélio Bicudo para que líderes da oposição possam incluir informações referentes a manobras fiscais cometidas pelo governo em 2015.

Questionado sobre as duas decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) que impediram a tramitação dos pedidos de impeachment contra Dilma de acordo com o rito estipulado por Cunha, José Guimarães afirmou que as decisões não representam um "alívio' para o governo e que ele está pronto para enfrentar o tema. "O governo está preparado para enfrentar o debate em todas as dimensões", disse Cunha.

Cunha sob suspeita

Nas últimas semanas, foram reveladas informações sobre uma investigação realizada pelo Ministério Público da Suíça contra Cunha. Segundo as autoridades europeias, o deputado brasileiro mantinha pelo menos quatro contas secretas no país.

Há suspeitas de que o dinheiro movimentado pelas contas seja fruto do pagamento de propinas relativas ao esquema investigado pela operação Lava Jato, que apura irregularidades em contratos de estatais como a Petrobras e a Eletronuclear.

Segundo os documentos colhidos pelas autoridades suíças e repassados à Procuradoria Geral da República, pelo US$ 5 milhões atribuídos a Cunha já foram bloqueados. Ele nega ser o dono dessas contas.

Hoje, o PSOL deverá ingressar com um pedido de investigação contra Cunha no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. No último sábado (10), líderes da oposição emitiram uma nota pedindo o afastamento de Cunha da presidência da Câmara por conta das denúncias contra ele.