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Brasil vai mal porque está sem rumo, diz Fernando Henrique Cardoso

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

26/10/2015 22h43Atualizada em 27/10/2015 19h29

Além da crise do sistema político brasileiro, as dificuldades econômicas pelas quais passa o país são desesperadoras, na avaliação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em entrevista concedida nesta segunda-feira (26) durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, ele afirmou que o país passa por uma crise política e econômica por não conseguir ver uma liderança na figura da presidente Dilma Rousseff (PT). 

"A situação econômica é desesperadora. A dívida pública é de R$ 2,7 trilhões. A taxa de juros está em 14,5%. Isso vai dar R$ 400 bilhões de juros e você vai fazer um acordo fiscal para economizar R$ 50 bilhões e não consegue. Isso é dramático. E não dá para você chegar nos Estados Unidos e dizer que o Brasil vai bem, que a nossa democracia é jovem. Não é isso, não. Vai mal porque está sem rumo."

Durante a entrevista, o tucano fez críticas ao sistema político brasileiro e reforçou a necessidade de uma reforma política: "Nosso sistema político fracassou". Comentando a existência de mais de 30 partidos no país, Cardoso afirmou que "qualquer um de nós na Presidência hoje está enrolado. Como é que você forma maioria hoje? Isso é mais grave que a dificuldade na economia".

O UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto para comentar as declarações. Em nota, a Secretaria de Comunicação do Planalto afirmou que "é papel da oposição fazer suas críticas, como também é atribuição da oposição responsável contribuir com propostas para superação dos problemas do país. É hora de colocarmos os interesses da nação acima das disputas partidárias. O governo da presidenta Dilma está trabalhando para que o Brasil supere as dificuldades momentâneas que estamos atravessando".

Dilma é honrada; Lula: "tenho que esperar para ver"

FHC também disse não acreditar no envolvimento da presidente nos escândalos de corrupção recentes, mas fez ressalvas em relação a Lula: "Eu não vejo que a Dilma pessoalmente tenha envolvimento [nos casos de corrupção]. Quanto ao Lula, eu tenho que esperar para ver porque tem saído muita coisa que precisa ser passada a limpo. O Lula deve ser o primeiro a querer passar a limpo. É muita acusação, uma coisa aqui, outra coisa ali".

De acordo com o ex-presidente, para desenvolver o país, as alianças devem ser feitas com "os desiguais", mas com limites. "A disputa do PT com o PSDB é de quem é que comanda os setores menos avançados da sociedade. O PT, de alguma maneira, foi engolfado pelos mais atrasados da sociedade. Como é possível que alguém como o Lula esteja agora submetido a esse tipo de coisa? Ele permitiu que se chegasse a esse desvario."

Cunha e os diários da Presidência

O ex-presidente falou ainda sobre o livro que lançará na próxima quarta-feira (28) com os registros dos dois primeiros anos de seu governo (1995-1996) --"Diários da Presidência". Nele, o tucano diz ter barrado uma indicação, em 1996, para que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ocupasse o cargo de diretor comercial na Petrobras.

Questionado sobre o episódio, FHC voltou a dizer que nunca teve qualquer contato com o parlamentar, mas ressaltou que já havia problemas envolvendo o nome de Cunha quando ele ainda estava na Telerj. "Eu tinha a vaga ideia do nome Eduardo Cunha. Era um funcionário do governo Itamar, que havia sido afastado."

Nas redes sociais, o peemedebista já negou ter conhecimento sobre o evento. "Até porque não teria lógica pela experiência minha em telecomunicações", escreveu Cunha.

Por meio de sua assessoria, Cunha afirmou desconhecer o caso narrado por FHC e disse que não autorizou ninguém a pedir cargos em nome dele. “Desconheço os fatos, nunca autorizei ninguém a pleitear cargo para mim a essa época e, mesmo se convidado fosse, não aceitaria”, disse o deputado. 

Descriminalização do porte de drogas

O ex-presidente não quis comentar se o atual Congresso seria capaz de aprovar uma lei de legalização do uso de drogas, como defende o tucano. No entanto, FHC falou sobre o processo de descriminalização do porte de drogas, que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal).

"Eles estão para tomar uma decisão que é importante, que é não colocar na cadeia o usuário de drogas. E com uma razão importantíssima: as cadeias estão superlotadas e tem uma boa porcentagem de usuários de drogas. Não tem mais sentido."