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"A carapuça não me encaixa", diz Cunha sobre anistia por contas no exterior

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

28/10/2015 17h42

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta quarta-feira (28) que a emenda no projeto que prevê a repatriação de recursos ilegais fora do país não vai lhe “beneficiar”. Cunha é suspeito de manter contas secretas na Suíça, que teriam sido abastecidas com dinheiro de propina do esquema investigado pela operação Lava Jato. “Não me beneficia e nem pretendo me beneficiar de nada. Para mim, essa carapuça não me encaixa”, disse Cunha.

A declaração de Cunha aconteceu após a revelação de que o relator do projeto, Manoel Júnior (PMDB-PB), reinseriu um parágrafo no projeto de lei que, na prática, anistia os donos de contas bancárias no exterior que não foram declaradas ao fisco brasileiro. O projeto de lei é de autoria do Poder Executivo e é uma das medidas anunciadas pela equipe econômica do governo para equilibrar as contas públicas.

Se aprovado, porém, o projeto pode impedir que Cunha seja condenado por manter contas no exterior sem as ter declarado ao fisco.

Segundo o Ministério Público da Suíça, Cunha e membros de sua família mantinham pelo menos quatro contas em instituições financeiras do país

As contas, no entanto, não constam da declaração de bens de Eduardo Cunha junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em março deste ano, Cunha também negou ter contas no exterior em seu depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).

Por essa declaração, aliás, Cunha foi denunciado pelo PSOL e pela Rede junto ao Conselho de Ética da Câmara. Segundo os dois partidos, Cunha mentiu ao dizer que não tinha as contas apesar de as autoridades suíças e a PGR (Procuradoria Geral da República) do Brasil terem confirmado a existência delas. 

A inserção do parágrafo que anistia donos de contas no exterior não declaras ao fisco é alvo de debate no Plenário da Câmara. A previsão é de que o projeto seja levado a votação ainda nesta quarta-feira. Líderes de partidos oposicionistas como o DEM criticaram a possibilidade de anistia. “Não vamos convalidar esse processo”, disse o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Em entrevista coletiva, Cunha disse que não tinha conhecimento sobre a possibilidade de anistia prevista no projeto e negou que ele soubesse de uma eventual manobra para beneficiá-lo. “É um absurdo. É um projeto oriundo do Poder Executivo. Eu não estou tomando conhecimento do que está acontecendo. Não quero nem tomar conhecimento do que está acontecendo”, afirmou.