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Deputado paulista inova e passa a apresentar talk show em TV pública

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

23/12/2015 06h00

Seis meses após ser eleito presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) com o apoio de 92 dos 94 deputados da Casa, o deputado estadual Fernando Capez (PSDB), segundo na linha sucessória do governador Geraldo Alckmin (PSDB), passou a conduzir o programa de entrevistas "Discussão Nacional". Ele é o primeiro chefe do Legislativo paulista a conduzir um programa e o único parlamentar que tem uma atração própria na TV Assembleia SP (antiga TV Alesp), uma emissora de televisão pública.

Capez ganhou notoriedade por atuar como promotor de Justiça no Ministério Público do Estado, investigando a atuação de torcidas organizadas de times de futebol na década de 90 e viu, recentemente, seu nome ser cotado para ser o candidato tucano na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

O programa de Capez costuma ir ao ar às 22h de sexta-feira e tem reprises de segunda a sexta em três horários: 9h, 22h e 0h.

Em três meses no ar, o talk show já recebeu diversas figuras da política nacional de diferentes partidos. Entre os tucanos, já foram entrevistados o senador José Serra e o governador Geraldo Alckmin, assim como a primeira-dama, Lu Alckmin. Do lado petista, já passaram os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Edinho Silva (Comunicação Social) e o presidente nacional da sigla, Rui Falcão.

'Inadequada' 

Ao iniciar o programa, o tucano diz que quem está apresentando não é o "deputado Capez", mas sim o "presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo", na condição de representante da Casa.

Para o professor de Direito Arthur Scatolini, especialista em processo legislativo e controle de administração pública, a atuação do parlamentar como apresentador é, "no mínimo, inadequada".

"O presidente tem a tarefa de superintender os trabalhos [da Assembleia] e de chefiar a administração. E, nessa condição, ele precisa ter uma conduta de impessoalidade. Com o programa, acaba havendo uma vinculação de temas a um único parlamentar". 

O cientista político Rogério Baptistini diz não ver com "bons olhos" o "Discussão Nacional". "Outros deputados que se tornem presidente da Assembleia, a partir de agora, poderão ter um programa", afirma. 

Capez diz não acreditar que o fato de apresentar um talk show possa ser confundido com um ato de promoção pessoal. "Se alguém tem essa opinião, é porque não me conhece. Eu não procuro ser um presidente que está tendo destaque, que está atuando para virar governador, para virar prefeito". 

Para o presidente da Alesp, todos os deputados da Assembleia podem ter um programa próprio na grade da TV pública. "Todos os deputados que quiserem podem vir a ter um programa. E pode convidar quem ele quiser para fazer o programa. A TV é dos deputados, é da Assembleia, é da Casa". 

Outro programa da TV pública do Legislativo paulista que também tem a participação de parlamentares é o "Assembleia Convida". No ar há pelo menos seis anos, a atração faz um rodízio de "deputados-apresentadores" na bancada

"A postura dele [Capez] agride a razoabilidade, a impessoalidade. Dizer que aparecer na televisão não tem impacto [político] é inocência", avalia Scatolini.

Baixa audiência e custos

A TV Assembleia SP tem uma audiência que oscila entre 0,1 e 0,2 ponto, segundo o Ibope. Cada ponto equivale a 67 mil domicílios na Grande São Paulo. No canal da Alesp no YouTube, as edições do programa também não são um sucesso de audiência e raramente passam de 100 visualizações. A mais vista até agora foi a com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que registrava mais de 1,7 mil visualizações até esta semana. 

Segundo Capez, o custo de produção do programa "não existe". Isso porque, de acordo com ele, a TV Assembleia SP trabalha com um orçamento geral que engloba todas as 14 atrações da grade de programação e também as transmissões das sessões plenárias. Em 2015, a Alesp pagou R$ 14,3 milhões à Fundac (Fundação para o Desenvolvimento das Artes e da Comunicação), uma fundação de direito privado, sem fins lucrativos, que tem um contrato com o parlamento paulista para cuidar da programação da TV. 

"Se eu chegar amanhã, atendendo aos anseios de pessoas que estão inquietas com o programa e cancelar o 'Discussão Nacional', o custo vai continuar o mesmo”, diz Capez.