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Raiz, novo partido de Erundina, pode se aliar ao Rede, de Marina Silva

A deputada federal Luiza Erundina (PSB/SP) lançou a campanha para a criação de um novo partido político, o Raiz, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre - Donaldo Hadlich/Estadão Conteúdo
A deputada federal Luiza Erundina (PSB/SP) lançou a campanha para a criação de um novo partido político, o Raiz, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre Imagem: Donaldo Hadlich/Estadão Conteúdo

Eduardo Schiavoni

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

22/01/2016 20h26

O Raiz Movimento Cidadanista, novo partido lançado pela deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), vai se posicionar contra o impeachment da presidente Dilma Roussef (PT), mas não deve poupar as críticas aos governos petistas. Do outro lado, a deputada disse, em entrevista para o UOL, que o novo partido está disposto a formar aliança com o Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, que já se posicionou pela cassação da presidente.

O lançamento do novo partido, que pretende se posicionar à "esquerda" do espectro político brasileiro, aconteceu no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre nesta sexta-feira.

Para Erundina, "não há nenhum argumento legal" para que o impeachment aconteça. "É claro que o PT cometeu muitos erros, e creio que alguns deles são responsáveis diretos pela atual situação do país e da política brasileira. Criticamos os governos de Lula e Dilma, mas isso não é motivo para a realização de um processo tão traumático quanto o impeachment de uma presidente", disse.

"Sabemos que o PT perdeu muito de sua essência, e não concordamos com muitas coisas que o partido fez, mas não podemos tirar uma presidente do poder apenas por isso", disse.

Erundina também criticou seu atual partido, o PSB. Ela afirmou que o isolamento dela no partido e a falta de debate de posições partidárias, principalmente o apoio da sigla a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições de 2014, foram o estopim de sua saída da legenda. "Essa discussão sobre o apoio a Aécio não foi feita sequer na Executiva do partido. Houve uma série de erros e acho que a legenda se perdeu. O apoio ocorreu sem que houvesse propostas, sem que o conteúdo ideológico e os objetivos do partido fossem debatidos",disse.

Apesar disso, a deputada federal afirmou que irá concluir o mandato pela legenda. "Se houver concordância, pretendo terminar o meu mandato pelo PSB e seguir, nesse período, todas as determinações partidárias. Mas vou sair assim que o Raiz estiver oficializado como partido", disse.

Alianças

Erundina admitiu ainda que existem "muitas e boas semelhanças" entre a forma de organização do Rede e do Raiz. Ela afirmou ainda que ambas as legendas deverão ser parceiras em campanhas eleitorais.

"Temos o mesmo sentido de horizontalidade, e uma preocupação com a ecologia e com as condições sociais. Assim como o PSOL e o PSB, o Rede é um aliado em potencial", disse.

Para a deputada, o diferencial do partido é a "ampla formação ideológica", que o credencia para propor um sistema que modifique o atual quadro político brasileiro. "Temos partidos que são sopas de letrinhas. Precisamos reformar esse sistema, acabar com partidos que têm donos. É preciso uma mudança nesse cenário, e é isso que propomos", disse.

Ela admitiu ainda que, nas eleições municipais do ano que vem, a tendência de políticos que querem integrar a legenda será a disputa de eleições filiados ao Rede ou ao PSOL. "Já iniciamos as conversas. Nossos quadros irão se filiar a esses partidos já sob a condição pública de ingressarem no Raiz assim que ele form oficializado", disse.

O partido

Para passar a existir oficialmente como legenda, o Raiz precisa de perto de 500 mil assinaturas,distribuídas por todos os estados brasileiros. Após conseguir a apoio popular, o pedido é mandado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que precisa dar o aval para a criação do novo partido.

Segundo o historiador Célio Turino, um dos responsáveis pela construção da base ideológica na nova legenda, o Raiz é formado através da junção das filosofias dos três povos que formaram a base da sociedade brasileira. "Dos africanos, retiramos o conceito de que só existimos enquanto pessoas se estivermos inseridos em uma sociedade que propicie o bem a todos. Dos ameríndios, o conceito do bom viver, da composição amigável, e dos europeus o conceito de ecosocialismo, uma junção da ecologia com as causas sociais e socialistas", disse.

Turino afirmou ainda que já há militantes do Raiz em 26 estados e no Distrito Federal e que a campanha de coleta de assinaturas para o registro da legenda irá ser intensificada nos próximos meses. "Mas não temos preocupação com as eleições. Nosso processo não está condicionado a elas", disse.