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Unidos da Lava Jato, impeachment e Cunha: a política vai invadir o Carnaval

11.jan.2016 - Fábrica de máscaras, da empresária Olga Gibert Huch, aposta em máscaras do policial federal Newton Ishii, que ficou conhecido como Japonês da Federal, além de políticos como a presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do senador Delcídio Amaral (PT-MS) - Julio Cesar Guimarães/UOL - Julio Cesar Guimarães/UOL
Máscaras de Carnaval de Delcídio do Amaral, Eduardo Cunha e Newton Ishii
Imagem: Julio Cesar Guimarães/UOL

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

29/01/2016 06h00

Enquanto a Quarta-Feira de Cinzas não restaura o ritmo à vida nacional, grupos a favor e contra o impeachment, que defendem a presidente Dilma Rousseff (PT) ou a Lava Jato, aproveitam o Carnaval para botar o bloco da política na rua e cativar foliões para seu desfile.

Em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais, convocações em redes sociais avisam da motivação dos blocos: “Fora, Dilma”, em Belo Horizonte, “Pimenta no Cunha dos outros é refresco”, em Brasília.

Na capital paulista, o bloco “Unidos pela Lava Jato” desfila no pré-Carnaval deste sábado (30) e, no Rio, um grupo sairá vestido com as camisetas do “Unidos” para divulgar a causa durante outros desfiles do Carnaval de rua.

Entre os que defendem a saída da presidente Dilma do cargo, uma das principais motivações é divulgar durante a festa as manifestações a favor do impeachment previstas para o dia 13 de março em todo o país.

“A questão é que durante o Carnaval só se fala sobre o Carnaval. Então, estamos utilizando esse momento para começar a mobilizar a sociedade para ver novamente a pauta do impeachment, contra a corrupção e a favor da Lava Jato durante esse ano”, afirma o porta-voz do movimento Vem Pra Rua Sampa, Julio Lins, 18 anos.

Logo após o Carnaval, o mundo político volta a balançar entre o processo de impeachment aberto contra Dilma, o pedido de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e uma possível análise do afastamento dele do cargo pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

As alas do bloco paulistano dão o tom do desfile: Heróis da Pátria, Presidiários, Dilma Pinóquio, Fora Corruptos e STF. Um carro de som e uma bateria executarão marchinhas temáticas, como a recentemente popularizada do “japonês da Federal”, uma alusão ao agente da PF Newton Ishii, que costuma aparecer na TV conduzindo as importantes figuras presas pela Operação Lava Jato.

Em Brasília, um grupo de amigos que se conheceu durante as manifestações pelo impeachment do último ano decidiu levar a proposta ao Carnaval de rua da capital federal. Inspirados na coreografia “Fora, Dilma”, que correu as redes sociais após ser apresentada em Fortaleza, a turma da cidade satélite de Águas Claras vem ensaiando para repetir o feito.

As apresentações serão este sábado (30), em Águas Claras, e no sábado de Carnaval (6 de fevereiro), na Esplanada dos Ministérios. Além da coreografia, um mini trio-elétrico tocará toda sorte de marchinhas inspiradas em críticas ao PT e à corrupção. Uma delas diz: “Dilmãe (sic) eu quero mamar / Dá uma teta pro petista roubar”.

A resposta à crítica vem da mesma capital federal, em igual animação. O bloco “Pimenta no Cunha dos outros é refresco”, além de usar o humor contra o principal antagonista da petista, tem um refrão que exclama: “Impeachment, meuzovo (sic)”.

Com desfile em Brasília este domingo (31) e na segunda-feira de Carnaval (8 de fevereiro), o bloco canta músicas sobre as supostas contas de Cunha na Suíça e se diz uma agremiação “anticoxinha”, segundo entrevista dos organizadores ao site "Congresso em Foco". 

Além dos blocos, é esperado nas ruas um grande número de máscaras carnavalescas de personagens como o agente Newton Ishii e o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba. Em Olinda (PE), o "japa da Federal" foi homenageado com um dos tradicionais bonecos do Carnaval pernambucano.

Os organizadores dos blocos dizem que, apesar da gravidade dos temas, é possível casar política e Carnaval.

“Não é que as questões mais sérias se tornaram carnavalescas. Mas, sim, que o Carnaval pode se transformar num momento oportuno para trazer questões mais serias”, afirma Lins, de São Paulo.

“É Carnaval, mas só com música pedindo impeachment. É bem protesto mesmo, bem manifestação”, diz um dos organizadores do bloco pró-impeachment de Brasília, o militar da reserva Winston Rodrigues Lima, 54. “É diferente, mas a grande maioria das pessoas que querem o impeachment está gostando muito”, ele afirma.